sexta-feira, setembro 01, 2017

LADY MACBETH

Depois de tantos anos de opressão do patriarcado, é natural que, agora que está havendo uma explosão de embates entre feministas e grupos conservadores e machistas, alguns filmes sobre a libertação feminina despontem. Nesse sentido, um dos grandes destaques recentes partiu do gênero horror, com o ótimo A BRUXA, de Robert Eggars, trazendo uma aliança com o satanismo, por mais que isso possa provocar algum estranhamento. Um outro partiu dos blockbusters de super-heróis: MULHER-MARAVILHA, de Patty Jenkins.

Embora haja uma série de outros títulos que prefiram apontar o dedo para situações de sofrimento intenso da mulher, como são os casos de A VIDA DE UMA MULHER, de Stéphane Brizé, e de FACES DE UMA MULHER, de Arnaud des Pallières, para citar exemplos recentes, há outros filmes - uma minoria, é verdade - que preferem seguir por outro caminho. E podemos dizer que o caminho seguido por LADY MACBETH (2016), primeiro longa-metragem de William Oldroyd, é no mínimo desconcertante.

Baseado no romance Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk, do escritor russo Nikolai Leskov, o filme acompanha a história da jovem Katherine (a ótima Florence Pugh), que é vendida pela família e passar a viver um casamento de conveniência com um homem rude e de comportamento doentio. É um homem que parece não saber dar conta da bela esposa que tem, e que deseja que ela fique enclausurada dentro de casa, lendo um livro de orações. “Mas eu prefiro o ar fresco”, diz a jovem, ainda que seja sempre recebida de forma desrespeitosa pelo marido.

Sua vida muda quando ela encontra um serviçal da família, um homem de pele escura chamado Sebastian (Cosmo Jarvis), que até pode não ser o melhor dos homens, como dá a entender pelo modo como trata a empregada/escrava da casa, Anna (Naomi Ackie), mas, comparado ao marido, trata-se de uma promessa de felicidade, como diria Caetano Veloso, para a jovem e carente Katherine.

Mas engana-se quem pensa que as ousadias de Katherine se resumirão apenas às infidelidades, às transas na cama da casa, enquanto o marido e o sogro estão fora. Essas infidelidades, aliás, são inicialmente mostradas como um elemento bastante libertador e agradável, ao mesmo tempo que também funciona como uma espécie de desforra. No entanto, a jovem mulher acaba por repetir nos demais as ações de repressão e violência por ela sofridas. E de maneira ainda mais brutal.

O diretor Oldroyd trata seu filme como uma pintura, com o capricho de quem quer causar maravilhamento em nosso olhar. E funciona que é uma beleza. Mesmo quando serve para atenuar os crimes cometidos em nome dos caprichos e das vontades de Katherine, em sua busca por algo próximo de uma vida ideal, perto do homem que ama. O uso dos silêncios e de uma ausência de maiores sentimentalismos torna o filme uma experiência especial.

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