quarta-feira, março 08, 2017

A CRIADA (Ah-ga-ssi)























Um dos filmes mais deliciosos dos últimos anos, A CRIADA (2016), de Chan-wook Park, tem sido comparado a PULP FICTION – TEMPO DE VIOLÊNCIA, de Quentin Tarantino, por causa de sua trama apresentada e recontada em diferentes perspectivas e de maneira inventiva. Mas confesso que na hora a comparação com a obra do cineasta americano nem passou pela minha cabeça, embora tenha algum sentido a comparação.

O fato é que, por mais que a trama seja sensacional, o que mais conquista o espectador são duas coisas: as imagens deslumbrantes – a cargo de Chung-hoon Chung, mesmo diretor de fotografia de outros celebrados e plasticamente lindos trabalhos de Park, como OLDBOY (2003) e SEDE DE SANGUE (2009) – e a voltagem erótica entre duas jovens mulheres.

Por isso falar da trama pode ser uma tarefa que talvez torne o filme menos atraente do que ele definitivamente é. Sem falar que o ideal é ver o filme sem saber nada a respeito, a não ser algum pequeno detalhe, como o fato de se passar na Coreia do Sul dos anos 1930, quando o país estava sendo ocupado pelos japoneses. Naquela época, pelo menos como o filme apresenta, os coreanos se sentiam inferiores aos japoneses, que já incutiam neles a ideia de que o povo nipônico era superior em tudo, seja na beleza, seja na inteligência.

Em meio a isso tudo, temos uma história de amor, sedução e traição envolvendo uma jovem coreana, Sookee (Kim Tae-ri), que é contratada para trabalhar para uma herdeira japonesa, Hideko (Kim Mee-Hee), que mora em uma grande mansão, habitada também pelo tio autoritário e que tem uma preferência especial por perversões sexuais. A função de Sookee é fazer com que Hideko se apaixone ou fique interessada no vigarista que se apresentará como um pretendente capaz de enfim dar a ela a liberdade almejada.

Há uma série de surpresas na história, que é contada depois em mais duas diferentes perspectivas, mas, embora isso torne o filme ainda mais divertido e empolgante, o que mais importa mesmo é ver cada enquadramento perfeito com suas cores bem destacadas e cada lindo movimento de câmera de Park. E também as cenas de tensão sexual entre as duas moças, que explodem em uma das mais belas cenas de sexo do cinema do novo século. Diria até que ela consegue superar em beleza e em voltagem erótica as tão faladas cenas eróticas da produção francesa AZUL É A COR MAIS QUENTE. Deixando claro que, embora seja também uma história de amor, não há muito espaço para lágrimas em A CRIADA. Aqui o tom é de comédia, misturado com horror psicológico e suspense. É filme para se ver com um sorriso de orelha a orelha no rosto.

E é exatamente assim que saímos do cinema depois de ver este que talvez seja o melhor dos filmes de Chan-wook Park: felizes de termos experienciado algo definitivamente especial e belissimamente dirigido por um cineasta que mostra que ainda está entre os maiores nomes do cinema oriental e fazendo cinemas com um alcance universal.

Falando em ser universal, A CRIADA é uma adaptação de Na Ponta dos Dedos, romance da galesa Sarah Waters, escritora famosa por criar histórias com plot twists inventivos e gostosos de acompanhar. Sendo assim, eis que Park fez uma adaptação próxima da perfeição. E com a vantagem de usar os close-ups, travellings e demais ferramentas do cinema para enfatizar a beleza dos corpos e o apetite sexual das mulheres. Um filme como esse não se vê todo dia.

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