domingo, janeiro 15, 2017

BR 716























A comparação que costumam fazer de Domingos Oliveira com Woody Allen mais uma vez ganha força no novo trabalho do cineasta carioca, que com BR 716 (2016) mais uma vez trata com leveza a ciranda de amores na vida protagonista, o aspirante a escritor Felipe (Caio Blat). O personagem começa o filme sofrendo as dores de separação da sua primeira esposa, vivida por Maria Ribeiro, que o traiu justamente com o melhor amigo.

Mas tudo é motivo para riso, embora a dor, saibamos, está lá e somos solidários ao protagonista por isso. Mas é que BR 716 tem um tom de nostalgia que já marca o tom desde o começo a narrativa, ainda em cores, e que nos contagia. Na trama, somos levados à primeira metade dos anos 1960, momentos antes do Golpe de 64, quando o país parecia mais feliz.

Mas embora haja esse pano de fundo político, o que mais importa é a relação que se constrói entre o protagonista e seus inúmeros amigos que frequentam sua casa, que fica na Rua Barata Ribeiro 716, em Copacabana. O lugar é privilegiado e há sempre muitas festas. Felipe não aceita os conselhos do pai em ter um emprego normal para ganhar dinheiro e segue buscando seu sonho de se tornar escritor e roteirista de peças e filmes.

A identificação do personagem com o diretor se estabelece desde o começo, quando na primeira das frases da narração em voice-over que permeia todo o filme, ele conta que não lembra direito dos eventos que vai contar, que tudo está borrado na memória, afinal, estavam todos quase sempre bêbados mesmo. Essa aproximação enfatiza o caráter de filme memorialista, além de ser uma retomada aos primeiros trabalhos do diretor, TODAS AS MULHERES DO MUNDO (1966) e EDU, CORAÇÃO DE OURO (1968), sendo considerado o fecho de uma trilogia.

Três mulheres dão o tom de uma vida levada pelas paixões. Seja a já citada ex-mulher, a nova e sedutora moça aspirante a atriz que ele conhece em uma das várias festas em seu apartamento (Sophie Charlotte, ótima) e outra moça que ele conhece também em uma das festas e que representa algo de estranho para alguém que mora em um bairro privilegiado do Rio de Janeiro. As perdas e os recomeços desses amores são mostrados com uma visão de quem é velho o suficiente para encarar com saudade, serenidade e amor as pessoas que fizeram parte daquele momento tão especial.

Há uma cena especialmente mágica, que é quando Felipe acorda rodeado pelos seus melhores amigos e quer dar um beijo em cada um deles. Essa cena sintetiza o sentimento desse filme que transborda amor.

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