segunda-feira, novembro 14, 2016

SNOWDEN – HERÓI OU TRAIDOR (Snowden)























Curiosamente, apesar de estar um pouco apagado da grande mídia, em comparação com as décadas de 1980-90, Oliver Stone segue ativo e perseguindo ainda mais um tipo de cinema militante de esquerda, uma carreira bastante ousada, já que são poucos que manifestam tamanha simpatia por medalhões da esquerda. Os documentários COMANDANTE (2003), AO SUL DA FRONTEIRA (2009), CASTRO IN WINTER (2012) e MI AMIGO HUGO (2014), são exemplo disso, assim como a biografia ficcional W. (2008), feita com o objetivo de fazer chacota do paspalho Presidente George W. Bush. Mas pouca gente viu esses filmes.

Por isso SNOWDEN – HERÓI OU TRAIDOR (2016) promete ser a volta de Stone a esse cinema de embate ao sistema, dessa vez mais próximo do grande público, graças a uma distribuição melhor e a um elenco muito bom. No novo filme, Stone denuncia a capacidade e o poder que o Governo americano tem de não só vigiar cidadãos de seu próprio país, mas como também de provocar até mesmo apagões em vários outros países com apenas um clique.

Stone encontrou em Edward Snowden, vivido por Joseph Gordon-Levitt, um prato cheio para trazer uma nova controvérsia, e dessa vez sem poupar o Presidente Barack Obama, que não é apenas cúmplice das armações maquiavélicas do Estado, embora percebamos que ele é parte de algo maior e já instituído.

Snowden, ex-empregado da NSA, e detentor de segredos de estado chocantes, é mostrado inicialmente em 2013, quando decide contar tudo o que sabe para um grupo de jornalistas. A divulgação cairia como uma bomba, mas o rapaz, então com menos de 30 anos, tinha consciência dos riscos que ele e sua esposa (Shailene Woodley) sofreriam. A estrutura narrativa é convencional, através de flashbacks que remontam ao tempo em que Snowden era um simples soldado que acabou se afastado depois de quebrar as duas pernas em um acidente simples. Acabou sendo recrutado para trabalhar em uma agência de espionagem, depois disso. E é aí que sua história realmente começa.

Stone não nega em nenhum instante o quanto o protagonista é elevado à categoria de herói. Mas isso não chega a ser um problema. O problema é quando ele usa artifícios um tanto ruins para pintar o seu herói, como a utilização de uma trilha sonora épica e cafona. A personagem da esposa de Snowden também acaba ficando relegada a segundo plano, embora Shailene mostre ser, da turma de garotas que protagonizaram filmes para adolescentes recentemente, a que menos tem problema em fazer cenas de sexo ousadas (quem viu PÁSSARO BRANCO NA NEVASCA, de Gregg Araki, sabe do que estou falando).

No mais, é um filme que se beneficia bastante de seu elenco de apoio. Um luxo poder contar com Melissa Leo, Zachary Quinto, Tom Wilkinson, Joely Richardson e até Nicolas Cage, em papel bem pequeno. E embora não seja tão memorável quanto gostaria de ser, SNOWDEN é um filme que tem um papel triplo satisfatório: de entreter, informar e provocar. Sem falar que para nós, brasileiros, não deixa de ser interessante ver o nome do país sendo citado em um par de vezes, inclusive, sobre o caso da Petrobrás.

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