quinta-feira, novembro 17, 2016

15 CURTAS VISTOS NO 10º FOR RAINBOW























Tive a oportunidade este ano de fazer parte do júri da crítica do 10º For Rainbow. Foi uma edição que não primou tanto pela diversidade, no sentido de que havia poucos filmes com histórias baseadas em relacionamentos entre duas mulheres ou histórias de transexuais. A maioria dos curtas é sobre homossexuais masculinos. Ainda assim há muita coisa interessante que pôde ser apreciada. Nesta primeira leva, falarei rapidamente sobre os curtas brasileiros. Posteriormente, procurarei falar dos curtas estrangeiros. Dois curtas foram revistos e cresceram na revisão. Por isso, resolvi inclui-los novamente aqui: JANAINA OVERDRIVE e ANTES DA ENCANTERIA.

A VEZ DE MATAR, A VEZ DE MORRER

Um pouco prejudicado pela duração excessiva e por uma edição ruim, A VEZ DE MATAR, A VEZ DE MORRER (2016), de Giovani Barros, também tem um aspecto sobrenatural que não tem bom êxito, mas acaba funcionando em cenas de tensão entre homens e é curioso o mix de gêneros (western, romance, horror). Cena de destaque: a cantoria à luz da fogueira.

DIVA

Fluindo muito bem, mérito de direção, edição e roteiro, principalmente, DIVA (2016), de Clara Bastos, conquista o espectador desde o primeiro momento, ao som de "Vá com Deus", aquela mesma, de Roberta Miranda, sendo dublada por um trio de transexuais. A personagem principal é uma jovem que passa a morar na pensão com esses primeiros personagens. A questão da inadequação (ou nova identificação) do corpo surge justamente com a personagem feminina. Uma influência almodovariana fica evidente.

QUITÉRIA

As primeiras imagens de QUITÉRIA (2016, foto), de Márcio Câmara, já chamam a atenção, flagrando um grupo de mulheres lavadoras de roupa (depois saberemos que a locação foi na Serra de Guaramiranga). Uma delas canta algo sobre o amor solitário e o filme aborda essa questão da solidão daquelas mulheres e do desejo contido e prestes a explodir. Há uma atmosfera de cinema fantástico que valoriza o todo, ao lado com o cuidado com os aspectos técnicos. Exibido fora da mostra competitiva.

PRELIMINARES

Interessante paralelismo em que duas histórias aparentemente independentes mostram dois casais do mesmo sexo vivendo suas primeiras experiências juntos. As cenas com as as moças se sobressaem, em comparação com as dos rapazes. PRELIMINARES (2015), de Douglas S. Kothe, peca por não ir a lugar nenhum e passa a impressão de querer dizer que as mulheres são mais tolerantes e curiosas em ter uma relação homossexual do que os homens. O que talvez até possa ser verdade, mas como mensagem não deixa de ser pobre, se for essa mesma a intenção.

ARTUR

Bem-resolvido e redondinho, ARTUR (2016), de Daniel Filipe Santos, só não chega a acrescentar nada na temática de amores juvenis com garotos do mesmo sexo. Também falta maior criatividade formal. Mas ao menos há um cuidado com o trabalho dos dois jovens atores e com a utilização dos extras (os familiares e amigos ao redor da piscina para comemoração do aniversário de um patriarca). O bem jovem diretor pode ter futuro, se perseguir o caminho do cinema.

VAGABUNDA DE MEIA TIGELA

Para um curta de 25 minutos, VAGABUNDA DE MEIA TIGELA (2015), de Otávio Chamorro, passa voando. Tem uma fluidez narrativa admirável e a história, um tanto boba, ganha com a força da simpatia de seus personagens e seu timing cômico. A história gira em torno de um triângulo amoroso entre um rapaz, sua namorada e um pretendente gay que quer conseguir tomar o rapaz pra si através de um livro de feitiços. Tudo dentro de um ambiente escolar.

AQUELA ESTRADA

Uma grande bagunça que tenta conquistar a plateia pelo choque de algumas cenas de nudez gráfica e que se beneficia unicamente de apenas uma cena, a da vendedora de frutas, que certamente foi filmada por pura sorte, com um ar documental. AQUELA ESTRADA (2016), de Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel, ainda tem uma brincadeira besta com uma câmera tremendo/dançando que estraga ainda mais o produto final.

JANAINA OVERDRIVE

Interessante filme que passa referências explícitas a clássicos do cinema de sci-fi distópicos, como MAD MAX e LA JETÉE, JANAÍNA OVERDRIVE (2016), de Mozart Freire, tem uma direção de arte fantástica para uma produção de baixo orçamento. Ele faz milagre mesmo. Além do mais, há uma estranheza naquele universo que envolve uma transexual em busca de sobrevivência e também um incômodo saudável que fazem o filme valer a espiada.

CINEMÃO

Outro filme de Mozart Freire no festival, CINEMÃO (2015) é aparentemente mais modesto, mas me agradou mais. Sua natureza ao mesmo tempo investigativa e aproximadora sobre o desejo e a sedução da imagem (seja do outro, seja através da tela de uma televisão), e pela reflexão acerca da decadência do próprio cinema, sem a utilização de diálogos, apenas imagens e ruídos ao mesmo tempo intrigantes e incômodos, é um trabalho admirável. Foi escolhido pela crítica como o melhor curta da mostra competitiva.

ROSINHA

Pela beleza com que constrói a relação envolvente entre três personagens idosas e cria, com esmero técnico de direção, roteiro e atuações, ROSINHA (2016), de Gui Campos, possui uma narrativa enigmática acerca do relacionamento e do futuro possível dessas três pessoas, a partir do uso de pequenas pistas deixadas ao longo da narrativa, sejam elas feitas para trazer mais luz para a trama (e para a mensagem), seja para provocar surpresa.

CALMARIA

Um filme mal resolvido, mas que tem alguns bons momentos, em especial nos espaços externos (o quintal, principalmente), com as duas personagens femininas. Elas dividem a mesma casa com um bebê e vivem uma vida feliz e pacata, até a chegada do pai da criança. CALMARIA (2015), de William de Oliveira, tem algumas imagens bonitas, mas tem pouco a oferecer, especialmente por não ter uma conclusão satisfatória.

XAVIER

Um filme de mensagem bastante bonita e que agrada pela condução narrativa e pela simpatia de seus personagens, ainda que vistos com certo distanciamento, XAVIER (2016), de Ricky Mastro, aborda a questão do amor paterno e da aceitação da sexualidade do filho, ainda criança. É um filme carregado de ternura, sem dúvida, mas que justamente por isso pode desagradar quem não curte muito certas sentimentalidades.

ANTES DA ENCANTERIA

Foi muito bom ter podido rever ANTES DA ENCANTERIA (2016), de Jorge Polo, Lívia Bezerra, Elena Meirelles, Gabriela Pessoa e Paulo Victor Soares, e ter apreciado mais o trabalho. Gostei muito de praticamente tudo que revi, quase todos os segmentos, com seu cuidado plástico, e que não têm a intenção de buscar uma homogeneidade. É brilhante na construção de cada cena. Gosto principalmente dos dois primeiros segmentos, mas a junção da turma, toda fantasiada, também tem uma força admirável.

AINDA NÃO LHE FIZ UMA CANÇÃO

Filme que falha em causar empatia na história do relacionamento entre dois rapazes, AINDA NÃO LHE FIZ UMA CANÇÃO (2016), de Henrique Arruda, ainda tem um problema em não saber lidar com a questão do tempo e do rompimento da relação. A separação por capítulos mais atrapalha do que ajuda no processo de construção da narrativa.

SAILOR

Tentativa de segurar o curta com um suposto carisma do ator principal, SAILOR (2014), de Victor Ciriaco, não passa um sentimento de solidariedade para o espectador quando o outro da relação desaparece e deixa o protagonista na mão. Aliás, nem dá tempo de sentir a falta dele, muito menos de simpatizar com esse personagem. A conclusão também é bem problemática.

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