quinta-feira, outubro 13, 2016

O SHAOLIN DO SERTÃO























O sucesso popular e o caráter de novidade de CINE HOLLIÚDY (2012) fizeram com que o nome de Halder Gomes se tornasse um nome quente. Não que o filme tenha sido a estreia dele na direção. Mas é como se fosse: era o seu projeto mais autoral, reunindo duas coisas que muito lhe agradavam: as artes marciais e o humor tipicamente cearense, com intenção, inclusive, de apresentar para os quatro ventos o "cearês", o linguajar tipicamente cearense.

O SHAOLIN DO SERTÃO (2016) dá seguimento a esse projeto de comédia regional com ambição de ganhar o Brasil, e talvez até mesmo de ser vista com curiosidade por algum espectador estrangeiro. Mas talvez um dos erros de Halder tenha sido entregar o trabalho de roteirização para outra pessoa, em vez de ele mesmo cuidar disso, como fez com CINE HOLLIÚDY.

Ou talvez o filme tenha partido de apenas uma ideia, um esqueleto, e não tenha conseguido desenvolver tão bem o seu miolo, com as piadas, essas sim de fundamental importância para que o filme fosse bem aceito pela plateia. Isso não quer dizer que O SHAOLIN DO SERTÃO não arranque algumas boa gargalhadas e que funcione melhor do que muitas outras comédias brasileiras, mas é um filme cujo humor vai ficando cansativo pela repetição e talvez também por problema de timing e montagem.

Uma das coisas que chama logo a atenção na parte técnica do filme são os créditos de abertura, que emulam uma transmissão de televisão dos anos 80 de um filme chinês de kung fu, como aqueles que passavam com imagem espichada no Faixa Preta, programa dedicado a filmes do gênero que teve grande sucesso nessa década. A brincadeira com o fato de os atores aparecerem magos e altos se dava ao fato de a janela original em scope ser esticada para caber na telinha quadrada dos antigos televisores. Daí o personagem de Aluísio Li (Edmilson Filho) acreditar que os chineses eram um povo alto e magro, enquanto que os cearenses eram baixinhos e de cabeça chata. Essa é uma das boas sacadas do filme, aliás.

A dicção ruim dos atores mirins em CINE HOLLIÚDY, e que acabou por exigir que os filmes fossem apresentados em cópias legendadas, deixou de ser um problema em O SHAOLIN DO SERTÃO. Até porque o garotinho Piolho, interpretado por Igor Jansen, está muito bem, no papel do melhor amigo de Aluísio. Ele é o único que entende a vontade do protagonista de se tornar uma pessoa parecida com aqueles que ele tanto admira nos filmes de artes marciais, muito embora ele costume apanhar e ser alvo de chacota de todos os moradores de Quixadá, cidade onde vive.

A sua motivação vem na forma de uma disputa que acontecerá em sua cidade, sendo que ele se voluntaria para lutar contra o terrível Tony Tora Pleura (Fabio Goulart), lutador que vem ganhando e mandando para o hospital seus adversários em cada cidade do interior por onde tem passado. E daí entra em cena o personagem do Chinês, vivido por Falcão, que será, por assim dizer, o treinador de Aluísio. Os momentos de treinamento lembram tanto KARATÊ KID quanto KILL BILL VOL. 1, mas com sotaque e piadas cearenses (algumas propositalmente datadas). Pena que boa parte delas não funcione, e algumas parecem apenas grosseiras.

Esse traço irregular do humor acaba por fazer de O SHAOLIN DO SERTÃO um filme um tanto cansativo, justamente pela intenção em fazer rir a quase todo instante. Ninguém tem a obrigação de rir de piadas que não funcionam, mas percebe-se o esforço do realizador e daí vem o incômodo. Fazer comédia não é fácil. Pensando nos aspectos positivos, o filme conta com alguns ótimos momentos, e o jeitão meio Chaplin e meio Didi Mocó de Edmilson Filho faz com que o filme ganhe a nossa simpatia. Mas não dá pra negar que se esperava muito mais.

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