sexta-feira, outubro 28, 2016

DOCE VENENO (Un Moment d'Égarement)























Se dissessem que a história era de um filme brasileiro da época das pornochanchadas ou da era de ouro do cinema erótico italiano todo mundo acreditaria. Mas, na verdade, na França das décadas de 1970 e 80 também se produzia filmes mais apelativos, ainda que seja um país que pareça tratar a sexualidade com um pouco mais de naturalidade e menos malícia do que nós e os italianos. DOCE VENENO (2015), de Jean-François Richet, é remake de um desses filmes para fazer graça, mexer um pouco com a libido e também encher os olhos do espectador com a beleza e o viço da moça que dá em cima do melhor amigo do próprio pai.

Na verdade, a cena que os dois ficam pela primeira vez juntos, uma cena na praia, é uma das melhores do filme. Ela diz para ele que a vida é pra ser vivida agora, ou algo do tipo; já ele está morrendo de preocupação, pois estaria se envolvendo com uma moça menor de idade (17 anos e meio), bem mais nova do que ele e, pior, filha do grande amigo, com quem estava passando uma temporada em uma casa de praia – ainda que a casa fosse um pouco afastada da praia, na bela região de Córsega.

Na trama, dois homens, Laurent (Vincent Cassel) e Antoine (François Cluzet), levam suas jovens filhas para passar uns dias na praia para se divertirem. Laurent é divorciado e Antoine está passando por uma crise no casamento. O filme já começa com os quatro dentro do carro e a caminho da casa que servirá de local de muitas confusões e intrigas. Mas tudo é visto de maneira bem leve, embora às vezes o diretor pese um pouco a mão, enquanto outras vezes Cluzet esteja visivelmente exagerado no registro cômico, especialmente quando ele descobre que um sujeito bem mais velho andou mexendo com sua filha. A cena fica, claramente, parecendo mesmo de um filme de outra década.

Curiosamente, a mesma trama, ou o mesmo ponto de partida, pelo menos, serviu de inspiração para um filme americano bem parecido dos anos 80, FEITIÇO DO RIO, que contou com Michael Caine como protagonista e trouxe Demi Moore de top less nas praias do Rio de Janeiro. DOCE VENENO talvez seja um pouco menos apelativo, embora seja generoso em pelo menos uma cena de nudez da jovem estreante Lola Le Lann. A cena já citada é realmente muito boa, mas quem espera que o filme prossiga com esse tom de provocação sensual pode até ficar um pouco decepcionado, já que há um interesse maior no modo como essa relação que nasceu em noite de lua cheia, e que Laurent quer evitar que prossiga a todo custo, abalará as estruturas das relações entre amigos e pais e filhas dentro daquele ambiente.

Tudo bem que não se trata de um grande filme. Mas é muito agradável de ver. E o anacronismo não incomoda. Ao contrário: acaba funcionando a favor, por mais que vá incomodar parte da plateia ou da crítica, que em sua maioria não tem gostado muito do filme. Muitos dizem se tratar de uma simples bobagem. O fato é que eu torço para que mais bobagens como essa apareçam nas comédias contemporâneas, até para nos lembrarmos de como o cinema de décadas passadas era divertido e libertário.

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