quinta-feira, agosto 11, 2016

VAN GOGH



Quando no ano passado eu pude ver uma série de clássicos do cinema francês na telona, em cópias restauradas, acabei não tendo tempo para colocar "no papel" minhas impressões sobre boa parte desses filmes. Uma dessas obras, que agora estou puxando pela memória, um pouco com a ajuda de críticas brasileiras e estrangeiras, foi VAN GOGH (1991), de Maurice Pialat. Foi o meu primeiro Pialat, vale destacar, mas, pelo que andei lendo em um dos textos a respeito do diretor, seus trabalhos não são tão marcadamente impressos de uma assinatura óbvia, como o de seus antecessores da Nouvelle Vague. Logo, cada filme seu seria bem singular, embora eu um dia vá querer voltar a este especificamente quando fizer uma peregrinação pela obra do cineasta.

Uma das coisas marcantes em VAN GOGH é a maneira antidramática e antirromântica com que o diretor lida com os últimos dias da vida de um dos pintores mais famosos do mundo, mas que manteve a fama de maldito até o fim da vida, quando se suicidou, aos 37 anos. Como Pialat foi pintor antes de ser cineasta, VAN GOGH é um filme de pintor para pintor, com a fotografia emulando a pintura impressionista de um Renoir ou de um Manet.

É também tido como uma espécie de filme-testamento do cineasta, já que ele também foi um tanto maldito, tendo começado a dirigir o seu primeiro longa-metragem, INFÂNCIA NUA, só em 1968, depois de quase duas décadas dirigindo apenas curtas, e deixado de dirigir dizendo que as pessoas não iam sentir falta de seu cinema. Nota-se, já a princípio, uma identificação de sua biografia com a vida do famoso pintor holandês.

O filme se passa na pequena cidade de Auvers-sur-Oise, em 1890, quando o Van Gogh passou uma temporada na casa do Doutor Gachet (Gérard Sety) e teve relações amorosas com sua filha, Margueritte (Alexandra London) . Não há, aqui, nenhum compromisso com a verdade e o filme nem tem cara de cinebiografia. O que já podemos ver como algo bem positivo, sem querer diminuir outro trabalho que se debruça sobre o pintor de maneira mais convencional, SEDE DE VIVER, de Vincente Minnelli. Até porque eu nem vi ainda o filme do Minnelli.

VAN GOGH é também um filme sem música, despojado, com uma atuação econômica de Jacques Dutronc no papel principal. Poderia ser uma obra que adotasse um tom dramático ou até mesmo trágico, levando em consideração não apenas o destino final do pintor, mas principalmente sua personalidade instável e seu desequilíbrio mental, que é, de certa forma, atenuado pelo tom sóbrio da direção de Pialat. É certamente um filme que eu pretendo rever em um futuro próximo. E então escrever algo mais próximo do que a obra merece.

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