sexta-feira, agosto 26, 2016

CAFÉ SOCIETY



Interessante perceber esta tendência mais amena e romântica que Woody Allen tem colocado em suas obras recentes, desta década, em particular. De VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS (2010) ao novo CAFÉ SOCIETY (2016), apenas BLUE JASMINE (2013) se destaca como uma obra essencialmente amarga em relação à vida, além de contar com um senso de humor bem menos presente do que os demais. Mesmo um filme como HOMEM IRRACIONAL (2015) traz a história de um homem que passa a ver sentido em sua vida depois de encontrar motivações não muito recomendáveis.

CAFÉ SOCIETY tem sido recebido com muito mais entusiasmo pela crítica internacional do que os três trabalhos anteriores, mas não significa que seja uma das obras mestras do velho Woody. Claro que é muito bom ouvir a voz do próprio diretor contando a história, assim como é adorável ter um objeto de desejo como Vonnie, vivida por Kristen Stewart. Nem sempre uma unanimidade, Kristen se mostra como a razão de ser não apenas da vida do jovem Bobby (Jesse Eisenberg, mais um a assimilar os trejeitos de Allen em outro de seus alter-egos), mas do próprio filme, embora mais à frente vejamos a Veronica de Blake Lively representando a estabilidade emocional necessária para o protagonista.

Um dos problemas de CAFÉ SOCIETY é a tentativa de Allen em construir uma fauna generosa de tipos que acaba atropelando e atrapalhando a trama principal, ou seja, a ciranda de amores envolvendo quatro personagens. Assim, todas as questões envolvendo a máfia nova-iorquina acabam tornando o filme menos interessante, embora se destaquem alguns diálogos afiados, como o sobre Judaísmo não ter a vida após a morte em seus dogmas, passando, assim, a perder pontos para o Catolicismo.

Porém, mesmo com essa irregularidade, o novo trabalho de Allen conta com uma fotografia de Vittorio Storaro tão especial que vale a pena ser destacada como uma das mais importantes dos filmes de Allen dos últimos 20 anos, pelo menos. Conhecido por sua brilhante parceria com Bernardo Bertolucci, o veterano diretor de fotografia homenageia os filmes das décadas de 1930-40, especialmente nos close-ups de Kristen Stewart, trazendo uma espécie de véu sobre sua imagem, dando-lhe um ar de semideusa. O belo uso da luz no filme é percebido logo de cara, com tonalidades que variam de cores dessaturadas, em Nova York, para cores mais quentes, nas cenas passadas em Hollywood.

CAFÉ SOCIETY é mais uma história sobre como as paixões acabam gerando memórias ao mesmo tempo agradáveis e dolorosas, além de tornarem as pessoas mais fortes, como acontece com Bobby, depois de ter conhecido Vonnie. O reencontro dos dois em Nova York pode ser visto como o grande momento do filme, bem como as cenas que marcam sua conclusão. Na obra agridoce de Allen, não há espaço para um final exatamente feliz, como no adorável e subestimado MAGIA AO LUAR (2014), mas um sorriso triste de quem deve ficar satisfeito com o rumo dos acontecimentos trazidos por escolhas pessoais. Dependendo do estado do espectador, é possível sair do cinema suspirando e lembrando aquela paixão que marcou sua vida, e se solidarizar facilmente com os personagens.

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