sábado, agosto 20, 2016

BEN-HUR



Por mais que seja tentador, é melhor nem tentar comparar BEN-HUR (2016), de Timur Bekmambetov, com a versão grandiosa de 1959, dirigida por William Wyler. O próprio diretor cazaque tentou partir para uma direção mais humilde com uma produção de 100 milhões de dólares, mas que parece muitas vezes com uma produção feita para a televisão. Até pelos efeitos especiais pouco caprichados, ainda que funcionem para dar uma dimensão da grandeza do Império Romano, e isso é importante para o filme.

Uma vez que esquecemos a versão memorável de Wyler, vinda de um momento em que as produções épicas atingiram uma dimensão inigualável até hoje, é possível perceber algumas qualidades na nova versão, embora seja muito difícil não sair do cinema até mesmo envergonhado com algumas cenas, em especial as que trazem Rodrigo Santoro como Jesus. Seria preferível não ter dado mais enfoque a Jesus na história, pois a cada vez que vemos e ouvimos Santoro falando algumas palavras, mais o filme nos lembra de suas imensas falhas.

Bekmambetov, cujo melhor filme talvez ainda seja O PROCURADO (2008), opta para uma produção bem menos ambiciosa, a começar pela duração. Enquanto o filme de Wyler tinha quase quatro horas de duração, o remake, ou melhor, a nova adaptação do livro de  Lew Wallace, tem pouco mais de duas, tornando-se economicamente viável no mercado atual. Imagine a plateia ter que aguentar quatro horas de cinema ruim.

Mas ao menos BEN-HUR não é daqueles filmes ruins que nos convidam a cada minuto a sair da sala, como foram os casos recentes de INDEPENDENCE DAY – O RESSURGIMENTO e de ESQUADRÃO SUICIDA. O fato de ser um filme que tem uma edição rápida e de ser mais centrado na ação não cansa a plateia. Além do mais, há ao menos um momento empolgante: quando o herói é levado como escravo e passa anos remando em uma galé. Há uma sequência de choque entre duas embarcações que chega a ser emocionante. A partir daí, porém, o filme só derrapa. O que é uma pena.

De todo modo, o momento mais esperado, que é o da vingança de Judah Ben-Hur (Jack Huston) do irmão Messala (Toby Kebbell), responsável por sua injusta prisão, bem como de sua mãe e irmã, é cercado por alguma expectativa pelo público. A vingança se dá em uma corrida de bigas, a tal corrida que ficou famosa na versão de Wyler (e também na versão muda, de 1925), e que aqui tem sua duração aumentada, mas não sua intensidade dramática. Na verdade, o sentimento que temos é de quase apatia. Algo, porém, chama a atenção quando Judah vence o irmão: as palavras de Pôncio Pilatos, ao afirmar que o povo hebreu agora também é romano, comemorando a vitória de seu representante em um esporte violento.

E é talvez o momento que mais traz alguma reflexão, pois vivemos em um país em que as pessoas também vivem conformadas com vitórias no esporte ou até no Carnaval, de modo que nos esquecemos de lutar por algo verdadeiramente importante para nossas vidas e para o futuro do país. Por isso, este seria o momento ideal – ou quase ideal – para que o novo BEN-HUR acabasse.

Pois, depois desta sequência, quando o realizador e seus dois roteiristas tentam apelar para o aspecto religioso da redenção e nova visão de vida de Judah, a partir do encontro com Jesus, o que já era ruim consegue se tornar infinitamente pior, trazendo uma série de momentos que estão entre os mais constrangedores das grandes produções hollywoodianas em um bom tempo. É ir ao cinema e não esquecer do saco para cobrir a cabeça.

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