domingo, julho 03, 2016

O FRANCO ATIRADOR (The Deer Hunter)



Depois de dois anos que vi O FRANCO ATIRADOR (1978), aqui estou eu para falar alguma coisa sobre este filme especial, impulsionado pela notícia da morte do diretor Michael Cimino, um dos nomes mais importantes da chamada Nova Hollywood, mas que teve uma trajetória bem complicada. O FRANCO ATIRADOR, com suas mais de três horas de duração, é justamente o auge de sua popularidade, tendo ganhado os Oscars de melhor filme e direção e sinal verde para fazer um próximo projeto ambicioso pelos executivos de Hollywood. Acontece que o próximo projeto foi ambicioso demais e O PORTAL DO PARAÍSO (1980), depois de quebrar uma companhia com o prejuízo e os altos custos, ficou marcado como o filme que encerrou aquele glorioso momento iniciado lá no fim dos anos 1960, de maior liberdade criativa dos atores, com menor interferência dos estúdios.

Mas o importante é que suas obras ficaram, por mais triste que tenha sido ver o cineasta de molho por tanto tempo, depois de amargar a rejeição dos produtores. E deve ter havido outros motivos para sua reclusão, que não vou saber dizer aqui. Porém, se ele tivesse feito apenas O FRANCO ATIRADOR já seria suficiente para deixar a sua marca, já que se trata de um dos filmes mais intensos sobre amizade masculina, sobre os traumas da guerra, sobre os Estados Unidos.

Além do mais, Cimino meio que passou a perna em Francis Ford Coppola, ao lançar este filme antes do complicado APOCALYPSE NOW, que também se passa na Guerra do Vietnã. Mas O FRANCO ATIRADOR segue outra proposta, embora pegue emprestado dois atores da saga O PODEROSO CHEFÃO, Robert De Niro e John Cazale. Sem falar que a cena do casamento acaba encontrando paralelos com a cena do casamento do primeiro Chefão, só que muito mais estendida.

O filme começa mostrando a vida pacata de um grupo de jovens que estão prestes a servir na Guerra do Vietnã, mas antes disso eles se casarão com suas noivas. Há uma cena particularmente muito bonita, com eles no bar, bebendo e ouvindo "Can’t take my eyes off you", de Frank Valli, uma das canções mais lindas do mundo. Na cena, o personagem de De Niro é o único que não canta. Fica sério, jogando bilhar sozinho, neste momento. E isso diz muito de seu personagem, e do que ele se tornará ao longo da história.

Se APOCALYPSE NOW pretende levar o espectador ao inferno da guerra, mostrando a loucura direto do olho do furacão, O FRANCO ATIRADOR tem a intenção de mostrar também o antes e o depois da experiência da guerra entre aqueles homens, no quanto ela transforma suas vidas para pior. Como não esquecer a tensa sequência envolvendo uma roleta russa em plena selva vietnamita?

Mas é também aquele filme que encanta nos momentos em que os personagens festejam os momentos de felicidade que lhes restam, numa cena de casamento que parece se estender mais do que o normal de propósito, como se fosse um presente do cineasta para aqueles homens e aquelas mulheres. E como não se encantar com a jovem Meryl Streep, em um de seus primeiros papéis para o cinema? Ela interpreta uma mulher que é amada por dois homens, os personagens de De Niro e de Christopher Walken.

Quanto ao formalismo de Cimino, infelizmente não tenho gabarito para falar a respeito. Vi poucos filmes dele e nem gostei de alguns que vi, como O SICILIANO (1987) e NA TRILHA DO SOL (1996). E até hoje não vi O PORTAL DO PARAÍSO (1980). Gosto de O ANO DO DRAGÃO (1985) e de HORAS DE DESESPERO (1990). Pensando bem, para uma filmografia de apenas oito títulos, até que não vi poucos. O que me falta é prestar mais atenção em seu trabalho com mais carinho. De todo modo, lamento não só a morte do autor, mas o modo como ele foi maltratado por Hollywood.

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