domingo, abril 24, 2016

PATO FU NA PRAÇA VERDE DO DRAGÃO DO MAR – FORTALEZA, 23 DE ABRIL DE 2016



Um presente para os fãs e também um presente para aqueles que estiveram lá meio que de passagem ou por curiosidade ou acompanhando um amigo. Tirando a apresentação da turnê do Música de Brinquedo, o Pato Fu não fazia um show de grande porte em Fortaleza desde o Ceará Music, em 2004, na turnê do Ruído Rosa. Mas minha lembrança desse show não foi muito boa, pois não era um show exclusivo da banda e não rolou sintonia fina entre o público, que estava estranhando o novo repertório de então. O deste sábado se aproximou mais do maravilhoso show na mesma Praça Verde, em 2000, da turnê do Isopor, que eu costumo dizer que foi um dos melhores dias da minha vida, num dos shows mais alto astral que eu já assisti. Guardo com muito carinho e alegria esse momento mágico de elevação espiritual.

E com o tempo, o meu amor pela banda só foi aumentando. Infelizmente eles não fizeram por aqui um show de um de seus melhores álbuns, Toda Cura para Todo Mal. Mas fazer o que se eles dependem também de convites dos organizadores? E ser uma banda independente no Brasil não é fácil, mesmo que seja a maior banda independente e com um monte de hits na manga que fazem a plateia cantar junto. Poucos estiveram sintonizados com as canções do novo álbum, Não Pare pra Pensar, o que é uma pena, mas ainda está em tempo de ficar em dia.

E eis que finalmente, depois de ter que ficar ouvindo, meio a contragosto, cinco outras bandas tocando para poder ver finalmente a grande atração da noite, que só começou a tocar pouco depois de meia-noite, o cansaço é esquecido e a alegria toma de conta. O show começou com "Cego para as cores", primeira faixa do novo álbum, uma das tantas do disco que funcionam para elevar espíritos enfraquecidos. Guitarra certeira do genial John Ulhôa torna a faixa marcante.

Em seguida vem outra do novo disco, com melodia mais alegrinha, mas letra triste, "Eu era feliz", seguida de outra espécie de homenagem aos perdedores, "Perdendo dentes", que levantou mais a audiência por ser o primeiro hit da noite O público continuou feliz com a seguinte, "Ando meio desligado", famosa cover dos Mutantes. Entra em seguida a ótima e venenosa "Crédito e débito", do novo disco, uma das mais inspiradas, aliás.

Felicidade descreve a faixa seguinte, "Eu sei", da Legião Urbana, na versão excepcional já velha conhecida dos tempos do Televisão de Cachorro. Inclusive, eu diria que poucos artistas conseguiram fazer cover da Legião e se saírem tão bem quanto o Pato Fu nesta faixa com sintetizadores e bateria eletrônica. Foi outra canção cantada com prazer pelo público.

"Ninguém mexe com o diabo" mostra a faceta mais bad boy e mais pesada da banda para os desavisados. Cantada pelo John, os amplificadores nesse momento chegaram à potência mais alta. Houve uma breve brincadeira com "Capetão 66.6" no final, mas foi jogo rápido. Será que a banda começou a cansar dessa faixa nos shows? Seria ao menos um pouco do Tem Mas Acabou no show, um disco que acabou sendo deixado de lado no setlist.

As próximas seriam "Made in Japan", com toda aquele jogo de dança e simpatia de Fernanda, elogiando os produções pop japoneses. A nova "Pra qualquer bicho" foi cantada junto com o baixista Ricardo Koctus, uma simpatia de pessoa, que fez a voz do Ritchie (que canta no disco) no show. E o clima esquenta de novo com "Eu", faixa muito querida dos tempos do Ruído Rosa.

"Antes que seja tarde" relembrou outros bons momentos dos tempos de Televisão de Cachorro, com sua letra agridoce, mas que Fernanda consegue torná-la, de certa forma, até otimista. Já a faixa skate-punk "You have to outgrow rock n’roll", cantada pelo John e em homenagem aos skatistas, levantou o público com sua forte energia e sua letra que fala sobre pendurar as chuteiras, casar e ter filhos.

Anunciada como a canção mais fofa do mundo (ou a segunda mais fofa, como John quis retificar), "Depois" animou geral a galera, com seu arranjo simples, acertado e grudento. De volta ao disco novo – muito bom eles enfatizarem o novo álbum, apesar de ser menos popular entre o grande público –, Fernanda canta justamente a mais bela do álbum, a melancólica "Um dia do seu sol", que eu confesso que foi uma das que me fez chorar uma meia dúzia de vezes desde que a ouvi pela primeira vez em 2014.

A propósito, outra canção pra chorar e um dos pontos altos da noite, talvez o grande ponto alto, pra mim, foi "Canção pra você viver mais". Puxa, que lindo ouvir esta maravilha ao vivo, que traz memórias muito bonitas de uma penca de anos atrás. Confesso que eu fiquei tão emocionado quando começaram a tocar que esqueci de anotá-la na sequência correta.

E eu confesso também que fiquei muito feliz em saber que "Sobre o tempo", o primeiro grande hit do Pato Fu, do disco Gol de Quem?, ainda é cantado com prazer pelo grande público. É uma canção mágica mesmo, que envelheceu muito bem com o tempo. E foi essa a faixa escolhida para "encerrar" o show.

No bis, rolaram "O filho predileto do Rajneesh", sobre o sexo e a o poder da mulher, e tocada com uma energia impressionante. Foi a melhor versão que eu já vi desta canção, ganhando de lavada na versão de estúdio presente no álbum Isopor. E, para encerrar o show com muito alto astral, a ode à felicidade terrena "Uh uh uh, la la lá, ié ié", cantada em estilo meio Jackson Five, e contagiando a plateia com felicidade.

Claro que a gente quer sempre mais – ficaria feliz com mais uma hora de show -, mas tudo bem. Foi lindo, foi demais. E, ainda por cima, aceitei a proposta da minha irmã de ficarmos na fila para tirarmos foto com a Fernanda e o John. Que alegria ao saber que a Fernanda lembrou de mim, da breve conversa que tivemos no show solo que ela apresentou na Caixa Cultural no ano passado. Ela sabia que eu estava esperando muito este show, que ela havia comentado que seria em janeiro! E pude dar uma abraço, ainda que meio desajeitado, no John, esse cara fantástico e dono de composições belíssimas. Com o abraço, quis mostrar o meu sentimento de gratidão. Grandes artistas talvez não saibam o quanto são importantes para a vida das pessoas. E mesmo que saibam, é sempre bom a gente poder dizer um muito obrigado.

Ok, 2016. Surpreenda-me com outro dia melhor do que este. Na foto abaixo, Sanna, Fernanda, eu e John.



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