sábado, abril 23, 2016

AVE, CÉSAR! (Hail, Caesar!)



Os irmãos Coen sempre tiveram um interesse muito grande pela História do Cinema, em especial do cinema americano. Eles começaram a carreira fazendo um film noir sujo (GOSTO DE SANGUE, 1984), revisitando o gênero mais tarde de maneira diferente em O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ (2001). Ao longo da carreira irregular mas brilhante da dupla, outros gêneros foram homenageados, como o musical (E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ, VOCÊ?, 2000), o western (BRAVURA INDÔMITA, 2010) e o filme de gângster (AJUSTE FINAL, 1990).

Além disso, os irmãos Coen passearam pelas mais diferentes épocas da história americana. Ainda que eles já tenham feito um filme sobre os bastidores de Hollywood (nos anos 1940), o delirante BARTON FINK (1991), AVE, CÉSAR! (2016) é um trabalho diferente, uma obra em esquetes, que procura homenagear vários gêneros, com um registro cômico quase sempre satisfatório, sobre a Hollywood dos anos 1950, considerada a última década da chamada Era de Ouro dos estúdios.

O problema é que, por ser justamente um filme de esquetes, ele tende mesmo a ser irregular. E embora seja bastante inteligente e também situe o contexto histórico da Guerra Fria em sua trama, nem sempre o humor é exatamente engraçado, mesmo levando em consideração que nem sempre comédias precisam fazer o espectador gargalhar.

O fio que liga as demais tramas é a história do produtor (Josh Brolin) que precisa manter seus astros na linha, ao mesmo tempo em que recebe uma proposta indecente para mudar de emprego. Entre os astros de seu estúdio estão: o protagonista de um épico cristão (George Clooney), que é sequestrado por comunistas; uma diva desbocada de filmes de balé aquático (Scarlett Johansson); um ator de musicais com sapateado (Channing Tatum); e um caubói com pouco talento que integra o elenco de um melodrama (Alden Ehrenreich, que acaba sendo a melhor surpresa do filme).

Inclusive, a cena de Ehrenreich treinando como deve dizer uma fala com o diretor afetado vivido por Ralph Fiennes é uma das melhores do filme. E o cenário e a fotografia lembram bastante os melodramas da época, como os de Douglas Sirk. O filme também explora a fofoca (representada pelas irmãs gêmeas vividas por Tilda Swinton) e a tentativa dos produtores de evitar que vazem certas coisas para a mídia. É só lembrar o quão pouco se sabia até então da orientação sexual dos astros da Velha Hollywood, embora houvesse burburinhos.

Os Coen aqui parecem querer fazer tudo ao mesmo tempo e acabam se atropelando em um projeto que poderia ter levado menos tempo de produção, levando em consideração que o espaçamento entre os trabalhos da dupla tem aumentado. Ainda assim, tanto para eles mesmos, que puderam fazer cenas (caprichadas) de balé aquático e de marinheiros dançando sem precisar dedicar um filme inteiro, além de homenagearem de maneira ainda mais explícita a Era de Ouro de Hollywood, quanto para o espectador que gosta de cinema, AVE, CÉSAR! é um filme a se ver com interesse. Principalmente por quem aprecia a marca de seus diretores.

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