quarta-feira, fevereiro 10, 2016

AS MEMÓRIAS DE MARNIE (Omoide no Mânî)



Muito provavelmente, não fosse a marca forte e de qualidade dos estúdios Ghibli, AS MEMÓRIAS DE MARNIE (2014) não teria tido a boa recepção que merecidamente teve. Mesmo não sendo assinado por Hayao Miyazaki e Isao Takahata, os dois maiores nomes do estúdio, o filme de Hiromasa Yonebayashi é um primor em sua história sobre solidão, amizade e relações familiares, aliado a um crescente e instigante clima de mistério.

E tudo isso é muito comum à cultura japonesa, que tem um trato com o mais próximo de uma maneira mais fisicamente distanciada e tímida. Paradoxalmente, nos filmes de fantasma nipônicos, essas entidades são vistas de maneira física quanto pessoas de carne e osso, como podemos comprovar em obras referenciais do gênero terror, como CONTOS DA LUA VAGA, de Kenji Mizoguchi, e KWAIDAN – AS QUATRO FACES DO MEDO, de Masaki Kobayashi.

Não que AS MEMÓRIAS DE MARNIE se enquadre exatamente nessa categoria, embora a tangencie (os momentos que aproximam a animação de um horror gótico lembram, inclusive, certas produções do gênero da velha Hollywood). Aqui, percebemos desde o início algo de estranho na garotinha loira que mora em uma mansão abandonada que só pode ser acessada quando a maré está baixa ou de barco e que vira objeto de fascinação pela solitária Anna. Quando Anna visita a mansão pela primeira vez ela percebe que o lugar está abandonado; depois, vê que as luzes estão acesas; e, posteriormente, tem a primeira visão e depois contato com a nova amiga.

Inclusive, é até possível pensar que o relacionamento de amizade entre as duas em algum momento sugira uma espécie de amor romântico, graças a detalhes como o momento em que as duas tocam as mãos no barco ou quando Anna a convida para sua casa. Ou mesmo na cena da dança na festa patrocinada pelos pais aristocratas de Marnie.

A questão do sentimento de não se sentir amada de Anna, que é órfã (e também de Marnie), é mostrada a partir, principalmente, da conversa entre as duas meninas, e do recurso do flashback, tornando-as, devido a essas confissões, mais próximas e queridas do espectador.

Embora alguém possa achar que o filme exagera um pouco no melodrama, podemos dizer que, de certa forma, até que AS MEMÓRIAS DE MARNIE é bem contido nas emoções, já que o momento mais próximo de fazer o espectador chorar é lá pelo finalzinho, quando vemos que o filme é também sobre autodescoberta. E quando também, junto com Anna, vamos descobrindo quem de fato é Marnie.

AS MEMÓRIAS DE MARNIE foi indicado ao Oscar na categoria de melhor animação.

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