sexta-feira, janeiro 08, 2016

SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS (Spotlight)



A temporada de premiações está mais quente do que nunca e alguns dos principais filmes desse período estão começando a chegar neste início do ano. Um dos primeiros deles é SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS (2015), de Tom McCarthy, uma obra que entra em sintonia com os dias atuais de revelação de esquemas de corrupção em grandes corporações e no Governo e também em revelações pessoais em redes sociais, de gente confessando sua própria experiência de ter sido abusada sexualmente na infância ou na adolescência.

O caso aqui é um pouco mais delicado, já que envolve a Igreja Católica e um número alarmante de ocorrências de padres que abusaram sexualmente de crianças em suas paróquias. O filme foca a atenção no trabalho investigativo de um grupo de repórteres do jornal The Boston Globe, conhecido como Spotlight. A investigação começa a partir da chegada de um novo editor para o jornal, um homem que pede ao pequeno grupo de jornalistas investigativos que interrompa sua atual investigação para focar no caso de abuso sexual de um padre local, um caso que foi devidamente abafado pela Igreja.

De um único padre a investigação passou a ganhar proporções assustadoramente grandes com o surgimento de novas evidências, de novos casos envolvendo outros sacerdotes e novas vítimas, inclusive um grupo de pessoas (homens e mulheres) que foram abusadas na infância e que só têm a outras pessoas que também passaram pela mesma situação para falar sobre o assunto.

O Catolicismo, segundo pesquisa do Pew Research Center de 2008, possui 23,9%, de adeptos nos Estados Unidos, um número bastante expressivo em um país de maioria Protestante. Portanto, Hollywood, ao trazer um filme desses à tona, arrisca-se a ganhar inimigos. Embora não esteja trazendo nenhuma novidade, a recriação de um caso divulgado há mais de dez anos por um meio de comunicação com um maior alcance mundial, o cinema, pode prejudicar ainda mais a reputação de uma instituição religiosa de quase dois mil anos. Mas, segundo a Bíblia, a verdade liberta, não é?

Quanto às qualidades fílmicas de SPOTLIGHT, trata-se de um trabalho feito com um rigor admirável. A fotografia, de Masanobu Takayanagi, tem um trabalho de profundidade de campo dentro do ambiente de trabalho, o escritório do jornal, admirável, e os outros aspectos técnicos relacionadas (cenografia, figurino etc.) também não ficam atrás. É tudo muito discreto e sóbrio, mas também feito com um compromisso estético bem elegante, lembrando alguns filmes políticos e ligados ao jornalismo da década de 1970, como TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE, de Alan J. Pakula, e REDE DE INTRIGAS, de Sidney Lumet, com direito a toda uma carga de urgência e suspense que obras como essa requerem.

O elenco, formado por artistas de peso como Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Liev Schreiber, John Slattery e Brian d’Arcy James, compõe uma equipe de jornalistas que sacrificam a sua vida pessoal por amor ao trabalho, pela obsessão pela história bombástica a ser contada. Curioso como os cônjuges dos jornalistas não aparecem ou aparecem apenas em uma ponta. O filme também constitui um alerta para os novos tempos, em que jornais estão fechando as portas ou demitindo em massa por causa da internet, que muito raramente bancaria um tipo de investigação como essa, que requer meses de pesquisa e aprofundamento.

Portanto, SPOTLIGHT tem essas duas funções: o de filme-denúncia, mas também o de filme-homenagem, uma homenagem ao estilo de jornalismo old school e às pessoas que o fazem/faziam. Como filme-denúncia, porém, é que deixa a sua marca mais forte, ao mostrar uma instituição religiosa como uma espécie de máfia, capaz de esconder todas as fontes, comprar advogados, ou oferecer altas somas em dinheiro às vítimas.

SPOTLIGHT foi indicado ao Globo de Ouro nas categorias de filme (drama), direção e roteiro.

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