quarta-feira, janeiro 06, 2016

QUATRO FILMES INDIGESTOS



Dizer que um filme é indigesto é geralmente dizer que um filme é ruim. É o caso de minha percepção destes quatro exemplares. Alguns deles são considerados ótimos por críticos de respeito e publicações de renome. No entanto, eles estão aí mais pelo fato de eu pessoalmente não ter gostado. Em poucas palavras, vamos a eles.

MOMMY

Foi o meu primeiro filme de Xavier Dolan, o jovem cineasta canadense que tem agradado a alguns, mas que tem feito também muitos inimigos. Com MOMMY (2014), eu lembro de ter saído do cinema sem saber direito o que tinha achado, só que eu tinha tanta raiva daquele moleque que eu seria capaz de esganá-lo. Sei que isso não é coisa que se diga, mas tomemos o caso do belo DE CABEÇA ERGUIDA, de Emmanuelle Bercot, que trata de um assunto similar, ou seja, de um adolescente com problemas de se relacionar com o mundo. O garoto do filme de Bercot comete coisas mais horríveis que o garoto-problema de Dolan, mas o segundo rapaz não é abandonado pela mãe, que faz de tudo para manter aquele rapaz selvagem em casa. Uma das características marcantes em MOMMY é a janela 1:1 para forçar um sentimento de claustrofobia e depois passar uma impressão de abertura com uma famosa canção pop. A brincadeira com a janela não deixa de ser divertida, mas o problema é que o menino é impulsivo e insuportável o tempo todo (seja na alegria, seja na raiva), não há trégua, não há tempo para respirar e o filme acaba numa espécie de monotonia do exagero e do histerismo.

A GANGUE (Plemya)

Um filme ucraniano totalmente falado em linguagem de sinais de surdos (e sem legendas) não deixa de ser interessante, não é mesmo? O problema é que A GANGUE (2014, foto), de Miroslav Slaboshpitsky, é daqueles filmes apelativos, que se encaminham para a violência gráfica a fim de chocar a plateia. E sem o charme das produções autenticamente exploitation, já que A GANGUE quer ser também um filme de arte respeitado. Na trama, um jovem protagonista ingressa numa turma do mal e vai galgando até se tornar um dos líderes. Há uma cena que é mesmo de causar muita aflição, envolvendo um aborto. E é provavelmente a melhor cena desse filme que se estende além do que deveria e que causa mais incômodo pelo tédio na maior parte de sua metragem do que por ser ousado.

À BEIRA MAR (By the Sea)

Angelina Jolie quer assumir o posto de doutora em direção de filmes ruins. Num mesmo ano, tivemos a “honra” de assistir o drama de guerra INVENCÍVEL (2014) e agora nos vemos diante de uma trama mais intimista sobre a crise de um casal em À BEIRA MAR (2015). Desta vez, Jolie também atua, e ao lado do marido, Brad Pitt. Os dois são um casal de americanos que passa uma temporada em uma pequena cidade da costa francesa. A intenção para ele é conseguir inspiração para o novo livro; para ela é sair da depressão e da estagnação de seu casamento aparentemente falido. O que pode salvar o casamento é ao mesmo tempo aquilo que pode matar: um casal de vizinhos mais jovens em lua de mel. Entre os dois quartos há um pequeno buraco em que é possível ver a intimidade desses jovens cheios de energia e amor para dar. Se uma coisa positiva podemos dizer de À BEIRA MAR é que Angelina consegue mesmo nos deixar cansados e angustiados, doidos para que aquilo tudo termine. Eu não considero isso exatamente uma qualidade, mas até que À BEIRA MAR é uma evolução em relação aos dois anteriores da diretora.

A VERY MURRAY CHRISTMAS

Se não fosse o nome de Sofia Coppola na direção e a duração ser menor que uma hora eu certamente teria largado este A VERY MURRAY CHRISTMAS (2015) logo no começo. Trata-se de um especial de Natal com músicas cantadas por Bill Murray e convidados, todos em situação constrangedora. E ficamos também constrangidos. Até tem algo de semelhante ao que a diretora trabalha em seus longas, como a questão de um personagem se sentir deslocado, mas isso não chega a ser um grande mérito diante de uma experiência tão chata. Mesmo as participações especiais de gente famosa no elenco não ajudam e só tornam a coisa parecida com um mero capricho da diretora em fazer o que lhe der na telha, mesmo quando não há boa ideia. Curiosamente, a parte menos constrangedora é a cantada por Miley Cyrus. Provavelmente não avisaram pra ela que não era pra cantar direitinho e aí ela destoa de todo o conjunto.

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