sexta-feira, janeiro 01, 2016

DRUGSTORE COWBOY



Lembro da primeira vez que vi DRUGSTORE COWBOY (1989) no extinto Arte Iguatemi em companhia de minha irmã mais velha. Como o filme estreou no Brasil em 1991, deve ter sido neste ano mesmo ou no seguinte que pude testemunhar a estreia de Gus Van Sant como diretor de longas-metragens. Até então ele só era conhecido por um pequeno público de festivais. Este drama sobre viciados em drogas que assaltam farmácias nos Estados Unidos dos anos 1970 elevou de imediato o cineasta a grande revelação daquele momento e a promessa da década que viria. Promessa que se cumpriu, vale dizer.

Rever o filme hoje, sabendo da tendência de Van Sant em tratar com carinho personagens marginais, passa a impressão de que estamos vendo um novo trabalho seu. A direção é tão acertada e madura, já em sua estreia, sem falar que ele teve poucas chances de superar essa sua obra. Talvez só com ELEFANTE (2003), vários anos depois, em nova fase, na chamada "trilogia da morte", depois de dirigir uma série de trabalhos mais comerciais.

O curioso de DRUGSTORE COWBOY é que ele não carrega aquela carga de "oitentismos" tão característica em produções da época do neon. Talvez por ele já ser um diretor à frente do seu tempo, embora a direção de arte e o fato de o filme se passar nos anos 1970 já ajude bastante. Há uma preocupação em tratar a questão das drogas com seriedade, e há também uma problematização interessante, especialmente quando entra em cena o escritor William Burroughs, no papel de um padre junkie passando uma temporada numa clínica de reabilitação. Para o padre, é preciso parar de demonizar as drogas e os seus usuários.

Porém, se Bob, personagem de Matt Dillon, foi parar ali, depois de uma vida inteira dedicada ao uso de drogas, é porque algo muito sério aconteceu. E esse algo a gente acompanha até com bastante tensão em um dos momentos mais fortes do filme, quando tudo começa a dar muito errado na vida dele a ponto de ele, sendo líder da gangue, decidir cair fora, deixando inclusive a sua fiel namorada Dianne (Kelly Lynch, em estado de graça).

Também é interessante ver no elenco Heather Graham, que pra mim só ganharia visibilidade de fato no papel da sapeca moça dos patins de BOOGIE NIGHTS – PRAZER SEM LIMITES, de Paul Thomas Anderson. Também está no elenco Grace Zabriskie, que faria a mãe de Laura Palmer em TWIN PEAKS, e um jovem James Remar, que ficaria famoso na televisão, como o pai fantasma de DEXTER.

DRUGSTORE COWBOY é baseado no romance autobiográfico de James Fogle, um homem que dedicou sua vida ao uso e ao assalto de farmácias e hospitais, a fim de manter o seu vício e o seu estilo de vida, tendo sido preso, inclusive, durante o lançamento do filme. Depois de várias vezes preso pelos mesmos motivos, o escritor morreu de câncer em 2012, enquanto estava cumprindo pena em Monroe, Washington.

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