quinta-feira, dezembro 24, 2015

JESSICA JONES



E a Netflix acerta mais uma vez em sua segunda parceria com a Marvel. Depois de produzir DEMOLIDOR e elevar as séries de super-heróis para níveis inimagináveis, o principal serviço de streaming do mundo dá um passo ainda maior ao apostar em uma personagem pouco conhecida do Universo Marvel, a investigadora particular Jessica Jones, criada por Brian Michael Bendis e Michael Gaydos em 2001 para o selo adulto Marvel Max com o título de Alias.

Como já há uma série com este nome (a protagonizada por Jennifer Garner), nada mais justo que dar à série o nome de sua protagonista, JESSICA JONES (2015). A série faz parte de um projeto de quatro títulos que pretende trazer também o Punho de Ferro e o Luke Cage. Este último, aliás, já aparece de maneira bem generosa na série da Jessica (Krysten Ritter), como interesse romântico dela. Nos quadrinhos, o primeiro encontro erótico dos dois é antológico e o relacionamento deles rendeu até mesmo um casamento e uma gravidez, além de participações no grupo dos Vingadores.

A série, claro, teve que fazer algumas adaptações e não seguiu à risca a história em quadrinhos. Ainda que faça parte do mesmo universo Marvel do cinema – com sutil citação aos eventos de destruição da cidade de Nova York no filme dos Vingadores –, a intenção da série é adotar um estilo menos fantasioso. Por exemplo, o grande vilão, Killgrave (David Tennant), não precisaria aparecer com a pele toda roxa. Optou-se apenas pela camiseta com essa cor.

Também não temos a Miss Marvel como grande amiga, mas temos uma loira linda e que possui uma relação ainda mais próxima com Jessica, Trish Walker, vivida pela belíssima Rachel Taylor. Trish é não apenas a melhor amiga de Jessica, mas que cresceu com ela na mesma casa durante a infância e adolescência. São como irmãs.

JESSICA JONES segue uma tendência muito interessante do mundo contemporâneo, que tem dado mais papéis de destaque às mulheres do que o que antes lhes era relegado. Em vez de donzelas em perigo, mulheres independentes que não precisam tanto da ajuda do macho-alfa, embora ele esteja lá, representado principalmente por Luke Cage, mas como personagem secundário. O que mais importa é mesmo a questão do abuso, seja ele de natureza sexual ou de outra natureza também, o que é um acerto monstruoso da série, aproveitando um super-vilão que tem o poder de fazer com que as pessoas obedeçam a sua vontade.

Há, inclusive, o sentimento de culpa que a própria vítima sente ao pensar no tempo em que foi dominada pelo algoz. É o caso de Jessica, que tem uma história com Killgrave, uma história que encerrou de maneira trágica e a deixou na pior, alcoólatra, amarga, depressiva e nada sociável. Encontra em Luke Cage uma espécie de alma gêmea, nesse sentido.

Apesar de encher linguiça em alguns momentos de seus 13 episódios, o que a faz menos empolgante que DEMOLIDOR, as qualidades da série compensam. Há uma utilização de música muito interessante, com um piano suave que acompanha a narrativa, dando-lhe um ar jazzístico e neo-noir.

A violência não parece tão brutal quanto na série do Homem sem Medo, mas é também bem gráfica. Como a personagem tem super-força, alguns momentos requerem uma suspensão maior da descrença nas cenas de luta física. No mais, o desenvolvimento da luta dela com seu maior inimigo, que é malvado o suficiente para se querer a sua morte, é muito inteligente e criativo, especialmente nos dois episódios finais. Bom saber que a Marvel está em boas mãos. E torçamos para que as séries seguintes dessa parceria consigam manter a qualidade das duas primeiras.

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