domingo, dezembro 27, 2015

AS SUFRAGISTAS (Suffragette)



Eis um filme que reflete bem o espírito de nossa época, dos últimos anos e em especial deste ano, que testemunhou o avanço do feminismo nas redes sociais e nas artes. O cinema, como reflexo da sociedade, não tem ficado atrás e mesmo filmes de ação de grande repercussão, que antes eram liderados apenas por homens foram protagonizados por mulheres, como foi o caso de duas super-produções, MAD MAX – ESTRADA DA FÚRIA e STAR WARS: EPISÓDIO VII – O DESPERTAR DA FORÇA.

AS SUFRAGISTAS (2015), dirigido por Sarah Gavron, escrito por Abi Morgan (roteirista de SHAME e A DAMA DE FERRO) e produzido por várias mulheres, sem falar em outras funções técnicas também assumidas por mulheres na produção, é um exemplo claro de que a mulher quer ter o direito de contar sua própria história de luta. E uma vez que o filme termina nos perguntamos por que há tão poucos trabalhos que se detêm sobre esse momento histórico tão importante. Afinal, se a mulher hoje pode votar, exercer o seu direito de cidadania e assumir cargos públicos é por causa do esforço e do sacrifício dessas pioneiras que perderam a família, os empregos e até mesmo a própria vida para que o sonho de uma vida digna fosse materializado.

O filme acompanha a jornada de Maud Watts, interpretada de forma inspirada pela bela e talentosa Carey Mulligan. Maud é uma jovem mulher que trabalha como lavadeira de roupas em uma empresa administrada por um homem acostumado a abusar sexualmente de suas jovens empregadas. Maud, ao chegar cansada do trabalho, ainda tem que cuidar do filho e do marido (Ben Wishaw).

Maud encontra uma razão para viver ao se aliar a um grupo de mulheres rebeldes que praticam a desobediência civil para chamar a atenção da sociedade. Se com palavras ninguém as ouve, por que não quebrar vidraças, incendiar caixas postais, e se necessário até mesmo ir para a cadeia por suas ações? O perigo que o filme corre, porém, é pintar os homens excessivamente maus. E é o que acontece, com exceção do farmacêutico, que apoia as ações da esposa (Helena Bonham Carter), uma das líderes do movimento das sufragistas.

Mas não deixa de ser interessante ver os investigadores de polícia, encabeçados pelo ótimo Brendan Gleeson, tratando as ações das mulheres como se fossem atos de extrema periculosidade, como se elas fossem espiãs internacionais ou algo do tipo. De certa forma, são mesmo ações perigosas para os homens que veem aqueles gestos como imorais ou criminosos, uma vez que para eles as mulheres têm que se manter passivas diante da lei e da cultura opressoras.

AS SUFRAGISTAS é um filme que poderia alcançar melhores resultados do ponto de vista artístico, ser ainda mais contundente nas emoções, embora a cena do aniversário do filho de Maud seja de cortar o coração, mas é a tal coisa: se o foco é contar uma história ainda que de forma convencional, mas que sirva como incentivadora de debate político não só sobre o passado, mas também sobre o quanto ainda deve ser conquistado no presente, a diretora Sarah Gavron até que se saiu muito bem, tanto na criação de suas adoráveis e corajosas personagens femininas quanto no cuidadoso trabalho de reconstituição de época.

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