quinta-feira, novembro 26, 2015

TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS



Na melhor tradição do chamado "filme de professor", que já nos deu exemplares comoventes como SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS, ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, O QUE TRAZ BOAS NOVAS, O SUBSTITUTO, MR. HOLLAND - ADORÁVEL PROFESSOR, entre outros, entra em cartaz nos próximos dias um exemplar brasileiro que dignifica o subgênero: TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS (2015), que conta a história real da formação da Orquestra Sinfônica Heliópolis, bem-sucedido trabalho de jovens da periferia de São Paulo que contou com a ajuda de um músico exigente.

Dirigido por Sérgio Machado (CIDADE BAIXA, 2005), o filme enfatiza o drama de Laerte (Lázaro Ramos), um jovem e dedicado violinista baiano que está em na capital paulista com fins mais ambiciosos, como entrar para a Osesp - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Logo no começo do filme, vemos o seu estado de completo nervosismo e travamento na hora de se apresentar em uma audição.

Vencido pelo medo e frustrado por também não estar conseguindo dinheiro para se manter adequadamente e ainda ajudar a família na Bahia, Laerte aceita trabalhar como professor de uma pequena orquestra bem desafinada de uma escola da periferia. Demora um pouco para ele perceber as dificuldades e os dramas daqueles jovens, bem como habituar-se ao encontro nada agradável com os traficantes do local, mas aos poucos aquela missão passa a se tornar tão nobre para ele do que o seu sonho de entrar na Osesp.

TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS carrega um bocado no melodrama, e isso pode ser visto tanto como um defeito quanto como uma qualidade. Depende de quem o vê. Como a intenção do filme é de natureza mais popular, acaba sendo necessário que ele dialogue com um público maior e se afaste mais de hermetismos. Não que CIDADE BAIXA seja hermético, se formos comparar com outro trabalho de Machado, mas certamente se trata de uma obra mais sofisticada em sua dramaturgia e direção. Por outro lado, há um registro quase documental da briga de duas alunas no primeiro dia de aula com Laerte. Quem é professor de escola pública certamente vai se sentir tristemente familiarizado com aquela cena.

O filme protagonizado por Lázaro Ramos bebe na fonte da cartilha tradicional do melodrama americano de histórias de superação e relacionamento de amizade e respeito entre professor e aluno, mas de maneira bem eficiente. A música, especialmente a erudita, de Bach e Vivaldi, ajuda bastante a tornar a experiência de ver o filme em algo tocante. Vale destacar também o trabalho de Lázaro Ramos, ainda que apenas correto, mas principalmente de alguns jovens atores que compõem a orquestra da escola, seja o rapaz que tem uma sensibilidade especial para a música, seja o garoto-problema que alcança a superação depois de uma tragédia. E é nele que o filme mais ganha em emoção.

TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS teve sua primeira exibição no Festival de Locarno, na Suíça, e teve uma exibição bem especial e calorosa no Festival do Rio. Agora é a vez de encarar o nosso circuito. Como se trata de um filme do bem, torcemos pelo seu sucesso.

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