quinta-feira, novembro 19, 2015

JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA – O FINAL (The Hunger Games: Mockingjay – Part 2)



Antes de mais nada, preciso deixar um desabafo aqui: trata-se da ditadura dos filmes 3D em grandes produções. Os filmes exibidos nesse formato, por melhor que seja a sala, perdem muito da cor, do contraste, da beleza da fotografia em geral, que fica horrendamente escura. E paga-se mais para ver neste formato. Agora que chegamos a um momento em que o 3D deixou de ser uma novidade, ele passou a ser uma imposição da indústria.

No caso específico de JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA – O FINAL (2015), o filme não será exibido neste formato na América do Norte, já que o público prefere que ele se mantenha do mesmo modo que foi exibido desde o começo, com o diferencial de ter também a opção de ver em salas IMAX. Enquanto isso, a Paris Filmes, além de não ter conseguido viabilizar cópias para as salas IMAX, infestou os cinemas do país de cópias 3D para vender antecipado e faturar mais com isso.

Em minha pequena aventura para ver o filme, escolhi uma sala que considero boa, o Cine Aldeota, uma das poucas que estavam oferecendo a opção de 2D. Comprei o ingresso mais cedo pensando que iria enfrentar filas monstruosas no dia da estreia, só para saber à noite que o ingresso que eu tinha comprado não valia, tinham cancelado a exibição em 2D para esse dia de pré-lançamento. Para não dar viagem perdida, aceitei – talvez erroneamente – ver na tal sala 3D de lá, só para ficar ainda mais raivoso: quanta escuridão, quantas imagens belas perdidas pela ganância do mercado. Sem falar na dor de cabeça, no incômodo dos óculos etc. Isso pode ter afetado um pouco (ou muito?) meu julgamento do filme, que considero, de longe, o pior da série, embora mesmo racionalmente pensando, eu veja muito mais problemas do que qualidades.

Pra começar, o vocabulário utilizado na trama parece tão estranho em alguns momentos que parece feito exclusivamente para os leitores do livro. E isso não deve acontecer. Uma adaptação tem que se bastar por si mesma, ser independente, por mais que tenha a intenção de agradar os leitores. No caso deste final da franquia, o fato de terem dividido em duas partes, assim como aconteceu com Harry Potter e Crepúsculo, só pode fazer bem para a adaptação se o roteiro e a direção ajudarem. Um respiro nas cenas e uma construção mais dramática dos diálogos é, geralmente, uma solução encontrada e que até funciona em alguns momentos de A ESPERANÇA – O FINAL. O problema se dá mesmo na linha geral, na base do enredo, que se mostra extremamente frágil. Os personagens mal delineados também não ajudam, embora alguns deles tenham se mostrado até interessantes nos filmes anteriores, ainda que em breves aparições.

O personagem Peeta (Josh Hutcherson), por exemplo, que é o rapaz que participou junto com Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) dos dois jogos vorazes e que com ela teve uma aproximação sentimental durante esse processo, desde o episódio anterior se mostrou um estorvo para a trama, não fazendo jus à personagem forte de Katniss. O possível romance dos dois – há um triângulo amoroso envolvendo Gale (Liam Hemsworth) – não é torcido ou comemorado pelo público. As mortes de personagens ao longo do filme também não são sentidas. Tudo acaba gerando indiferença. E isso é mortal para um trabalho desse tipo, que requer envolvimento da audiência.

Sim, Jennifer Lawrence é maravilhosa e há um elenco de apoio admirável, com nomes como Woody Harrelson, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Donald Sutherland, Elizabeth Banks, Jeffrey Right, Stanley Tucci etc, mas destes, apenas Sutherland, no papel do Presidente Snow, inimigo número um de Katniss e de todo o grupo dos rebeldes por suas atrocidades, tem algum tratamento digno. Muito pela excelência do ator, mas também pelo fato de que há um respeito dele por sua jovem adversária. A cena do encontro final dos dois, inclusive, corrobora a simpatia que criamos pelo vilão, mas é também uma alternativa um tanto covarde do roteiro para as intenções vingativas da heroína.

Como dizem que o terceiro livro é o pior da trilogia, há que se dar um desconto para Francis Lawrence, que provavelmente ficou engessado, sem poder fazer milagre usando um roteiro ruim, que privilegia a tentativa de chegada do grupo dos rebeldes à Capital em estilo de estratégia militar, mas não sem deixar de parecer videogame de quinta categoria, com direito até a monstros como obstáculos a serem vencidos.

É lamentável, portanto, que uma série que começou com dois episódios tão bem amarrados tenha acabado assim dessa maneira, embora isso faça parte do jogo. Mas sabemos que os jogos, principalmente os mostrados neste filme, nunca têm final feliz. Mesmo quando a gente torce pelos protagonistas. No entanto, se pensarmos nos quatro filmes, podemos dizer que tivemos um empate. Ou até que saímos ganhando, se lembrarmos no quanto é recompensador, mesmo em filmes medianos, ver Jennifer Lawrence em ação, essa que é uma das jovens atrizes mais brilhantes e belas do novo milênio.

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