terça-feira, novembro 10, 2015

GAROTA SOMBRIA CAMINHA PELA NOITE (A Girl Walks Home Alone at Night)



Em que outra circunstância poderíamos ver um filme de terror falado em persa e com atores iranianos? Daí a singularidade de GAROTA SOMBRIA CAMINHA PELA NOITE (2014), que além de tudo ainda é dirigido por uma mulher, Ana Lily Armipour, e é fotografado em belíssimo preto e branco. Só isso já é suficiente para gerar uma curiosidade para ver o tal filme. Mesmo que na verdade ele tenha sido produzido, com baixo orçamento, nos Estados Unidos.

Mas o que importa é o espírito estrangeiro e estranho que impregna esta obra tão agradável de ver e também tão irregular em seu andamento narrativo, que peca em não saber a hora de cortar algumas gorduras, mas não quanto ao desenvolvimento final, que é bastante satisfatório, dentro de uma história que é muito simples.

Isso porque GAROTA SOMBRIA é um filme de mais forma e menos conteúdo. Interessa aqui menos a história do que a atmosfera e a beleza das imagens. E nesse sentido, trata-se de uma obra cheia de acertos. A moça que interpreta a vampira que ronda pela pequena cidade de Bad City é, além de atraente, muito boa no papel.

Na trama simples, acompanhamos alguns personagens que vivem uma vida um tanto desolada naquela cidade que contém um imenso buraco onde as pessoas despejam cadáveres humanos. É de lá que um dos personagens pega um gato e leva para sua casa. Nesta casa, vive com ele o seu pai, viciado em droga e sofrendo com uma abstinência gerada pela tentativa do filho em livrá-lo do vício.

O maior traficante da cidade é o sujeito que representa o que há de mais malvado no filme. Tanto é que ele faz falta quando deixa de aparecer na trama. A vampira, apesar de fazer suas vítimas, tem uma moral toda própria, dando preferência àqueles que merecem ter seu sangue sugado por ela. E o traficante canalha é um deles. Por isso a cena do encontro dos dois é um dos pontos altos do filme.

Vale destacar também a beleza na construção da personagem da vampira, que usa, por debaixo de roupas civis simples, uma camiseta listrada e calças esportivas, um véu que encobre o corpo e a coloca na posição de uma mulçumana tradicional. Interessante como esses trajes tradicionais são colocados como o traje que ela usa para atacar as vítimas. Como se a diretora quisesse mostrar a religião como algo maligno, ainda que necessário, dentro de uma sociedade doente. E há espaço para o amor também nesse mundo ruim, como veremos ao longo da narrativa. Eis mais um ponto positivo para esse filme único, cuja beleza vai além do mero gostar ou não gostar, do bom ou do ruim.

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