domingo, novembro 15, 2015

FOGO CONTRA FOGO (Heat)



Quando FOGO CONTRA FOGO (1995) estreou nos cinemas, Michael Mann ainda era um cineasta pouco vinculado ao primeiro escalão de Hollywood, ainda que fosse já cultuado por uma boa parcela de apreciadores de cinema ou por fãs da série MIAMI VICE (1984-1990). Com atores bem populares mesmo ele só tinha feito O ÚLTIMO DOS MOICANOS (1992), recebido com frieza por muitos, inclusive por fãs do diretor. Eu até hoje não vi, talvez por causa disso.

Mesmo FOGO CONTRA FOGO, quando eu vi no cinema, no saudoso Cine Diogo, não gostei muito. Talvez por causa de sua longa duração ou por não estar preparado para um tipo de andamento narrativo mais lento, embora frequentemente compensado com cenas de ação e tiroteio de tirar o fôlego. Por isso era preciso uma revisão, ainda que na tela pequena, desta obra tão louvada.

Em FOGO CONTRA FOGO Mann junta o ponto de vista do detetive de polícia, como já havíamos visto em CAÇADOR DE ASSASSINOS (1986), com o de um criminoso, como vimos em PROFISSÃO: LADRÃO (1981). A obsessão de Mann por filmar esta história era tão grande que ele já havia feito um telefilme antes, lançado no Brasil em VHS com o título de OS TIRAS DE LOS ANGELES (1989). Poder refazer de maneira mais ambiciosa e com Robert De Niro e Al Pacino nos papéis principais seria um sonho. Até porque seria a primeira vez que os dois astros contracenariam juntos – em O PODEROSO CHEFÃO – PARTE II eles aparecem em tempos distintos da narrativa.

E se é para fazer uma obra especial, Mann fez tudo com muito esmero, dando espaço para que pudéssemos ser testemunhas das vidas particulares de cada um desses homens, tendo respeito por ambos, inclusive. O detetive de polícia Vincent Hanna (Al Pacino) é descrito como um homem cujo casamento está em frangalhos, devido ao seu envolvimento intenso e obsessivo com o trabalho, enquanto o ladrão profissional Neil McCauley (Robert De Niro) é um sujeito solitário e focado no que faz, mas começa a ver outro sentido na vida mesmo quando se apaixona por uma mulher (Amy Brenneman). As cenas dos dois são belas e tocantes.

Nos extras da edição especial em DVD, Amy conta que odiou o roteiro de FOGO CONTRA FOGO e falou que não estava interessada em fazer parte daquilo. Michael Mann conversou com ela em seguida e procurou saber os motivos – ela achava aquilo tudo muito sangrento e violento, algo do tipo. E foi justamente por esse posicionamento que Mann achou que ela seria a atriz ideal pra interpretar Eady. E ela acabou aceitando a proposta.

A paleta de cores, dando ênfase ao azul e ao cinza, ajuda a acentuar o ar de melancolia daquela história que se encaminhava para a tragédia entre dois homens opostos e complementares. E o grande diferencial dessa obra de Mann para outras que privilegiam o estilo, como DRIVE, de Nicolas Winding Refn, por exemplo, é que Mann sabe dosar o estilo, visível na fotografia e na direção de arte, com a profundidade da trama, presente no drama dos personagens. FOGO CONTRA FOGO é um exemplo perfeito dessa aliança.

A famosa cena do primeiro encontro dos dois protagonistas, em um café, é tensa e ao mesmo tempo comovente. Sabemos que o próximo encontro dos dois, que estão, naquele momento, em atitude de respeito com o outro, não será nada agradável. A cena foi filmada com várias câmeras, sendo as principais as que mostravam os closes de Pacino e De Niro, com uso do tradicional campo e contracampo, filmados simultaneamente.

Mesmo no DVD é possível ouvir o alto som dos tiros reverberando nas caixas de som nas sequências de tiroteio. Vale dizer que, para dar um ar de mais verdade às cenas, Michael Mann fez com que os atores treinassem com artilharia de verdade em outro lugar, antes de usar balas de festim nas locações, sempre aos domingos, em Los Angeles. Esse tipo de tratamento tão cuidadoso mostra por que o cinema de ação produzido em Hollywood ainda é difícil de ser superado por outra cinematografia.

Outros extras do DVD mostram a história real que inspirou OS TIRAS DE LOS ANGELES e FOGO CONTRA FOGO, a busca por um elenco enquanto as filmagens já estavam rolando, depoimentos de atores e atrizes importantes, de Mann e dos produtores, entre outras coisas que ajudam a potencializar o valor do filme.

Nenhum comentário: