sexta-feira, novembro 27, 2015

A VISITA (The Visit)



Quem aprecia o cinema de M. Night Shyamalan certamente torce por sua volta por cima, depois de ter aceitado participar de um projeto de encomenda como o massacrado DEPOIS DA TERRA (2013). O ÚLTIMO MESTRE DO AR (2010) também foi bastante criticado, mas trata-se de um belíssimo filme, um colírio para os olhos. É só aceitá-lo como é: uma bela fantasia infanto-juvenil estrelada por uma criança, com influências da cultura oriental e uma agradável atmosfera zen.

Lembrando desses dois filmes, até podemos entender que o novo A VISITA (2015) não é apenas o retorno de Shyamalan ao gênero que o consagrou: é também o final de uma espécie de trilogia de filmes com o ponto de vista de crianças e que tratam, em sua construção narrativa, da questão do apego e desapego e da necessidade impositiva de crescer diante das adversidades e de relacionamentos já muito cedo. Portanto, é interessante ver que os trabalhos do diretor são coerentes, por mais que algumas pessoas só enxerguem desvios. Coisa, portanto, de um verdadeiro autor.

A VISITA tem dividido opiniões e é até fácil entender o porquê. Shyamalan utiliza o já manjado recurso do found footage para contar essa história de dois irmãos que são enviados pela mãe para passar uns dias na casa dos avós que eles não conheciam. Aos poucos, eles vão percebendo um comportamento muito estranho no casal de idosos. Acontece que, apesar de haver um ou dois momentos que remetem à franquia ATIVIDADE PARANORMAL, o cineasta vai por um caminho estranho e diferente, evitando sustos gratuitos e usando seu tradicional cuidado com os enquadramentos, dentro do que se pode usar em um filme que utiliza muita câmera na mão.

Quem lembra dos requintados trabalhos de construção visual que o diretor fez em filmes como SEXTO SENTIDO (1999), A VILA (2004) e A DAMA NA ÁGUA (2006), para citar os mais plasticamente caprichados, percebe que ele filma como um pintor, além de usar o cinema de gênero para tratar de assuntos recorrentes, suas obsessões pessoais. Não é muito diferente em A VISITA, com o problema que esse seu perfeccionismo visual atrapalha um pouco o clima de horror.

No entanto, sendo A VISITA uma obra híbrida, algumas vezes não sabemos se estamos vendo uma comédia ou um filme que se leva a sério. Noutras vezes, há uma busca em tratar dos problemas pessoais dos personagens jovens com uma seriedade dramática que soa deslocada da narrativa, por mais que isso contribua, até positivamente, para a estranheza pretendida. O que dizer da beleza de uma das cenas finais, envolvendo as crianças e a mãe? Nesse momento, A VISITA alcança uma beleza catártica de arrepiar, isso depois das sequências que encerram a questão deles com seus velhinhos sinistros, que nem deve ser contada aqui, sob o risco de estragar as surpresas para quem ainda não viu o filme.

E que bom sair do cinema com um sorriso nos lábios, depois da divertida cena final, de uma simpatia impressionante. É Shyamalan voltando ao terror, em uma produção de baixo orçamento, e se reafirmando como grande autor que é. Só esperamos que esse seja apenas um ensaio para o que há de vir no futuro. Os fãs agradecem.

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