domingo, agosto 23, 2015

VIAGEM AOS ESTADOS UNIDOS



Há tempos em que não sabemos nem mesmo o que ocorrerá nos próximos minutos, quanto mais daqui a alguns dias ou meses. Por mais que tenha sido cogitada e debatida várias vezes essa viagem para os Estados Unidos, ela estava fadada a não ocorrer devido a uma série de contratempos em nossas vidas. Quando falo nossas, me refiro à minha, à da minha irmã Adaila e a do meu cunhado Wandré. Mas eis que, depois de muito pensar e discutir, e até desistir em alguns momentos, resolvemos ir.

Como a Adaila e o Wandré já haviam ido para Nova York, eles não tinham tanta vontade assim de voltar. Já eu fazia questão de ir e não queria tanto ir para a Flórida, já que não consigo me visualizar me divertindo tanto em parques de diversão, embora provavelmente fosse me divertir. Mas apenas não era minha prioridade, levando em consideração que Nova York há muito tempo era a cidade que eu mais gostaria de conhecer no mundo. Bobeira minha ter levado tanto tempo para ir lá. Inclusive, quero um dia voltar sozinho para uma viagem dedicada apenas à cidade, quando me restabelecer financeiramente dos gastos.

San Francisco, apesar de estar localizada do outro lado do país, surgiu como uma cidade que a Adaila queria muito conhecer. Algo novo pra ela. E claro que pra mim também, que nunca tinha ido sequer ao Paraguai. E a ideia de sair de lá e também conhecer outros lugares da Califórnia num passeio de carro me deixou bastante entusiasmado, principalmente levando em consideração que teria a oportunidade de conhecer Los Angeles. Sem pretender me alongar muito, vamos, enfim, ao relato.

If I can make it there, I'll make it anywhere

Chegamos a Nova York pelo Aeroporto de Newark, que fica situado em New Jersey. Só de pensar que estava na terra de Tony Soprano, de Bruce Springsteeen e de Bon Jovi já foi interessante. Ao chegar lá, rola um pouco de tensão, mas até que foi tranquilo. O pessoal que recebe os estrangeiros que aportam nos EUA, apesar da cara fechada, não vi fazerem nenhuma restrição.

Mas pra mim a ficha só caiu mesmo quando chegamos definitivamente em Nova York, quando colocamos nossas malas no hotel e fomos às ruas. Ficamos em um hotel pertinho da Times Square, o que muito nos ajudou a nos locomover para outras partes da cidade. Qual não foi minha alegria quando, ao passar por uma das ruas, eu vejo o pequeno restaurante Soup Kitchen International, que serviu de inspiração para o antológico episódio "The Soup Nazi", de SEINFELD. Fiquei mais feliz que pinto no lixo quando vi. Tinha que comprar uma daquelas sopas que se come na rua.

O lugar é bem diferente do que é mostrado na série e eu fiquei um tempão para me decidir o que pedir sem perceber que uma longa fila estava se formando. Se não fosse a Adaila para me avisar ficaria mais tempo lá ainda, na dúvida. A sopa é boa, mas dizer que é a melhor dos EUA talvez seja um pouco de exagero. Vem com um pedaço de pão e uma banana. Essa foi uma das boas surpresas que vi por acaso lá e tenho certeza de que quem gosta da série iria ficar feliz em poder experimentar também.

Andamos um pouco pelas ruas da Broadway até chegar à entrada da parte sul do Central Park, na loja da Apple, a fim de resolver um problema do celular de minha outra irmã. Acabamos perdendo um bom tempo lá, mas era algo que precisávamos fazer – embora só tenhamos de fato resolvido na loja de San Francisco. A passagem pela Macy’s me deixou impaciente, tendo Nova York para conhecer e o tempo voando. Mas tudo bem. Havia os próximos dois dias, que foram bem mais produtivos.

No segundo dia na Big Apple, passamos na Best Buy para comprar máquinas fotográficas boas e pegamos o metrô para o Tom’s Restaurant, a minha dica pessoal de almoço que não podia faltar na minha ida à cidade. Trata-se do restaurante que é cenário de quase todo episódio de SEINFELD (olha ele aí de novo!) e, pra minha surpresa, o lugar, além de servir uma comida deliciosa, recebe a gente com muito carinho. Até tirei foto com a garçonete simpática de lá. O lugar conta com várias fotos da série e também de pessoas famosas que por lá passaram. Fiquei feliz também pois tanto a Adaila quanto o Wandré gostaram da comida e do lugar. Maravilha.

A próxima passagem seria partir para o Harlem em busca de uma igreja gospel black, dessas que aparecem nos filmes e que tanto formaram os mais diversos cantores negros americanos. Um grande amigo meu, o Michel, mesmo não tendo ligação com igrejas evangélicas, já esteve por lá duas vezes e me disse que gostou bastante. Pena que os lugares estavam todos fechados. Pelo menos deu para conhecer o bairro, muito bacana, de ruas e calçadas largas e gente atenciosa.

Próxima parada: ir ao Central Park, dessa vez para conhecer os principais pontos turísticos do lugar, e assim que lá chegamos fomos abordados por um desses caras que fazem passeios de bicicletas que carregam até três pessoas. O sujeito era uma simpatia, veio do Mali, país do norte da África, ralou bastante para se estabelecer nos EUA e brincava o tempo todo com a gente e com os colegas dele. Ele nos mostrou a casa do Woody Allen, a casa de propriedade da Madonna, lugares que serviram de locação para diversos filmes, e fez paradas em lugares importantes, como o memorial em homenagem a John Lennon, que fica próximo ao Edifício Dakota, onde ele foi assassinado, e a fonte que aparece na abertura de FRIENDS, onde tiramos fotos pulando – isso foi sugestão dele, mas foi divertido para caramba. Ao final desse delicioso passeio, ficamos um tempinho sentados na grama do Central Park, apreciando a paisagem.

Não sabíamos direito para onde ir, mas como eu tinha passado em frente a um cinema que exibia HOMEM IRRACIONAL, o novo filme do Woody Allen, achei que seria interessante dar uma passada por lá, enquanto a Adaila e o Wandré davam uma volta pelas lojas daquela área. Estava um tanto cheio de lojas e queria muito aproveitar a oportunidade mais do que simbólica de ver um filme de um dos cineastas mais representativos de Manhattan. O novo filme, se não me agradou tanto quanto o anterior, MAGIA AO LUAR, dialoga tanto com outras obras do diretor que é difícil não gostar. E fiquei feliz em poder entender mais de 95% dos diálogos. Gostei também da projeção da sala do Lincoln Plaza, lugar especializado em filmes alternativos, ou seja, estrangeiros e filmes americanos independentes. A essa altura do campeonato já tínhamos mais ou menos entendido a lógica um pouco complexa do metrô da cidade.

No terceiro dia em Nova York, a ideia era chegar pertinho da Estátua da Liberdade, através de um barco que levaria de graça pessoas que moram em Staten Island. Mas como os estrangeiros que lá moram são espertos e também simpáticos na abordagem, um deles conseguiu convencer a gente que seria muito melhor fazer um passeio de barco, por um preço até simpático, chegando bem mais perto da estátua. O passeio foi uma maravilha, apesar de o calor estar bem grande naquele momento. Deu pra ver também muita coisa bonita da geografia do sul de Manhattan, especialmente os prédios mais comerciais, como o primeiro prédio do soerguido World Trade Center.

Depois de comer na rua uma iguaria bem gostosa, fomos em direção ao Marco Zero, onde há um memorial para pessoas que foram vítimas do atentado de 11 de setembro e também o majestoso One World Trade Center, o prédio gigante da área, construído nos últimos anos. O curioso de nossa passagem por essa área foi quando um sujeito chegou na minha frente e me ameaçou com um punho, encostando-o em meu pescoço, como se eu tivesse feito algo a ele. Fiquei muito desorientado, sem saber o que tinha acontecido. Ele tinha ódio nos olhos e depois, quando viu que eu estava confuso e não ia reagir em nada, foi embora. Bizarro.

Quando vimos que lá perto havia uma loja da Century 21, acabamos sucumbindo às tentações do capitalismo e passando um tempinho lá. De fato, o lugar é a maior loja de preços baratos de roupas boas do lugar. Compramos umas peças de roupas e fomos, em seguida, em busca da igreja da Times Square, indicada pelo pastor da igreja da minha irmã, a Comunidade do Amor. Acontece que encontramos alguns obstáculos ao chegar lá. Havia duas reuniões: uma direcionada a jovens, que ficava na igreja grande, e outra dobrando a esquina. Como queria ir a Broadway ver algum espetáculo, e o culto só começaria às 7 da noite, acabei dando uma escapulida para ver sozinho Hedwig and the Angry Inch, que quis ver graças às boas recordações que tenho do filme, dirigido por John Cameron Mitchell.

Não gostei tanto assim da peça, tanto por estar me sentindo mal por ter exagerado nos cafés da Starbucks (só nesse dia, passei lá três vezes para tomar um delicioso mocca), quanto por não entender direito as piadas. Pelo menos, a banda fazia um som porrada e as canções continuam muito boas. Sentei perto de uma moça que me disse que era a terceira vez que havia assistido à peça. Valeu mais por ter experimentado um pouco da Broadway por um preço razoável em comparação com os demais, mas depois fiquei pensando se não seria bem mais interessante ver THE JERSEY BOYS, que também estava em cartaz.

If you're going to San Francisco/ Be sure to wear some flowers in your hair

O dia seguinte já era de ir a San Francisco. Fomos aos Fisherman's Wharf, um lugar muito bonito, mas que, devido ao calor infernal daquele dia, só foi ficando mais agradável mesmo quando o sol estava perto de se por, coisa de oito da noite mais ou menos. Vimos os leões marinhos, uma espécie de museu de diversões do início do século XX e tomamos um sorvete bem bom no Ben & Jerry’s. Tomei um sorvete que tinha o nome do Jimmy Fallon.

San Francisco é uma cidade bem diferente. O bairro onde a gente ficou era um tanto estranho, com vários mendigos nas ruas. Quando a gente parou para comer algo à noite num dos vários restaurantes de comida fast food, havia um homem com as roupas esfarrapadas e todo sujo, mas com óculos de grau e estudando. Parecia lutar para sair daquela situação. Provavelmente tinha muita coisa na vida e quebrou, tendo perdido tudo, até a casa.

San Francisco também me deixou feliz em pelo menos mais duas ocasiões: uma vez, quando passamos pela Union Square, um homem tocava no saxofone o tema de O PODEROSO CHEFÃO. Não tive como não ficar arrepiado ao ouvir aquele belíssimo tema de Nino Rota. Quase chorei. A noite estava gelada, ao contrário do dia. Temperatura de deserto.

No segundo dia em San Francisco comemos um delicioso almoço no John's Grill, lugar dedicado à memória de Raymond Chandler, que comia todos os dias lá e escreveu o romance O Falcão Maltês todinho no lugar. Até há, perto do restaurante, uma estátua do falcão. Não sei se é a mesma utilizada no filme de John Huston. Provável que seja. Comi um peixe delicioso, a melhor refeição que tive o prazer de comer nos Estados Unidos, inclusive. No lugar, também passei por uma excelente loja de discos, a Raspuntin, indicada pelo amigo Zezão. Saí de lá com 17 CDs! :)

Não daria para passar por San Francisco sem chegar mais perto da Golden Gate, o cartão postal da cidade. Pena que a neblina tenha atrapalhado a nitidez das fotos. Ainda assim, é uma visão e tanto. Minha irmã ficou bastante emocionada. Chegamos perto da ponte à noite e de dia também. Quanto a Alcatraz, pela pouca grana, optamos por não aderir ao passeio até o antigo presídio. Em compensação, fomos ao Crissy Field, uma área belíssima, talvez a mais bela paisagem natural de lá, dando para ver a parte de baixo da ponte e lembrando uma cena clássica de UM CORPO QUE CAI, de Alfred Hitchcock.

A saída de San Francisco via carro foi um tanto longa, mas deu tempo de chegar a tempo para almoçar em Monterey e conhecer o que deve ser um dos maiores aquários do mundo. Destaque para a apresentação dos pinguins sul-africanos. O restante do dia foi também de carro, em busca de um hotel em Camarillo, próximo a um outlet, antes da chegada a Los Angeles. Ficamos hospedados em uma cidadezinha bem bonita e simpática chamada Duarte, uma das várias que fica dentro do condado de Los Angeles.

Ói nós aqui...

O curioso de Los Angeles é que é uma cidade que funciona praticamente de dia. À noite, as pessoas vão para suas casas dormir. Bem diferente da rotina louca de Nova York. Assim, tivemos que dormir cedo mesmo para aproveitar o passeio por L.A. no dia seguinte.

Começamos pela Calçada da Fama, que é menos glamorosa do que imaginávamos, mas que não deixa de ser bem interessante. Infelizmente o Chinese Theater estava fechado por causa de uma première, mas aproveitamos e fizemos um passeio de duas horas que incluiu uma passagem por Beverly Hills. O sujeito que vendeu o pacote, por cerca de 20 dólares, enganou a gente. Falou que iríamos parar no melhor spot para tirar foto com o letreiro de Hollywood. Mentiu. Tivemos que fazer o trajeto de carro e um pouco a pé. Sem falar que o tal motorista que apresenta a cidade com um microfone tinha um sotaque estrangeiro bem carregado e mal dava para entender o que ele dizia. E ainda mostrava as coisas quando elas já haviam saído de nossa visão.

Mas em compensação, a caminhada de cerca de meia hora até os letreiros de Hollywood foi um dos momentos mais emocionantes da viagem. Estava felicíssimo e cantando "Pescador de ilusões", dO Rappa, com a Adaila. Tivemos um contratempo na hora de voltar de lá, mas não foi nada de mais. Em seguida, saímos de lá para conhecer os estúdios da Universal. Acontece que o preço para conhecer o parque e o horário que chegamos não compensava gastar tanto e tive a ideia de irmos ao centro de Los Angeles, onde pude conhecer (e gastar alguns dólares) na livraria Barnes & Noble, dentro do shopping ao ar livre The Grove. Belíssimo. Queria ter tido mais tempo de conhecer o centro de Los Angeles.

O resto da viagem foi de volta para casa, com direito a passagem por Tijuana rapidinho e zarpando para o Brasil pelo aeroporto de San Diego. Enfim, uma das melhores viagens da minha vida, certamente. Além do mais, o Wandré é um cara muito divertido e ri muito de suas presepadas. Claro que havia muito para escrever a respeito, mas acho que já exagerei bastante no tamanho do relato.

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