sábado, agosto 08, 2015

A MISTERIOSA MORTE DE PÉROLA



O bacana da ascensão do horror no cinema brasileiro é quando ele começa a chegar também pertinho da gente. A MISTERIOSA MORTE DE PÉROLA (2014), de Guto Parente, é uma produção cearense que tem conquistado a crítica e boa parte do público por onde tem passado, com seu exercício de estilo no subgênero "casa assombrada" (embora não seja só isso). Por enquanto só tem passado em festivais e mostras especiais; portanto, não dá pra dizer se terá um bom apelo popular  quando lançado comercialmente.

Dividido em dois capítulos, o longa apresenta dois pontos de vista: o da moça do título e em seguida o de um homem. A primeira parte até lembra alguns filmes que lidam com a tensão de uma casa sendo vigiada por alguém misterioso ou algo sobrenatural, embora haja algo que diferencie bastante o estilo de Parente com o das produções estrangeiras. Principalmente o andamento lento e a estranheza e beleza que se revelam tanto nos exteriores da casa e na fotografia iluminada (nos dois sentidos da palavra) dos próprios realizadores/atores (Guto Parente e Ticiana Augusto Lima).

No filme, Ticiana é uma jovem brasileira que se muda para a França para estudar arte. No belo mas antigo e sombrio apartamento em que ela se aloja, as paredes e os quadros parecem ter olhos para lhe vigiar. E o medo e a solidão pairam no ar. Aos poucos, sua sanidade passa a ser questionada quando ela começa a confundir realidade de fantasia. Essa sensação é transferida para o espectador, embora seja possível não embarcar na viagem de Parente.

No meu caso, por algum motivo (não sei se o tamanho gigante do Cine São Luiz e o número pequeno de espectadores), mas acabei ficando disperso algumas vezes e até atribuí isso a uma possível falha da realização, que fez com que o andamento lento acabasse por permitir que minha mente divagasse para outro lugar que não o filme ou algo relacionado a ele. Até cheguei a pensar que a duração de 62 minutos foi uma maneira de forçar uma exibição comercial do trabalho, tornando o que seria um belo média-metragem em um longa esticado.

Assim, o que eu mais valorizei foi o cuidado que os realizadores tiveram com a direção de arte e a fotografia, a diversidade nos pontos de vista da câmera, o uso do som (de ruídos) para acentuar uma atmosfera de medo etc. E há também uma intenção de criar um filme de horror atípico, mais próximo de um filme de arte. Ou seja, a beleza plástica de A MISTERIOSA MORTE DE PÉROLA acaba por torná-lo um trabalho bem longe do vulgar. Sem falar que a segunda parte torna o trabalho até que bastante intrigante e as referências a OS OLHOS SEM ROSTO, de Franju, e A ESTRADA PERDIDA, de Lynch, funcionam como piscadelas de olho interessantes para os fãs do gênero.

O legal é que a grande maioria das críticas que eu tenho lido sobre o filme na internet são bem positivas, e não de jornais locais ou de críticos locais, o que poderia ser um indicativo de puxa-saquismo ou de bairrismo, mas de pessoas de outras partes do país, que se empolgaram de verdade com o trabalho do casal Ticiana e Parente.

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