terça-feira, julho 14, 2015

O CONTO DA PRINCESA KAGUYA (Kaguyahime no Monogatari)



É triste, mas é verdade: o estúdio Ghibli, o mais prestigiado dos estúdios de animação japonesa, está encerrando suas atividades, embora tenha saído uma notícia de que Hayao Miyazaki estaria fazendo um curta-metragem em computação gráfica. As animações desse estúdio, tão queridas por muitos, têm a característica de ser à moda antiga.

O caso de O CONTO DA PRINCESA KAGUYA (2013), de Isao Takahata, é ainda mais especial, pois os traços muitas vezes parecem simples e grossos, mas mesmo dentro de seu estilo mais despojado, há momentos de sublime beleza. Caso de quando a Princesa tem um ataque de fúria e corre por uma vastidão, como se tivesse a força de um super-herói. O pincel de Takahata parece emular essa sensação de fúria da personagem.

O CONTO DA PRINCESA KAGUYA é uma história de amor, mas amor no sentido mais amplo do termo. A Princesa, desde muito pequena, sorri para a vida e à medida que vai crescendo assustadoramente rápido vai se tornando cada vez mais amiga das coisas simples da vida, que nos são dadas de graça, como a natureza e a amizade.

Assim, podemos dividir o filme em pelo menos três momentos: aquele em que a Princesa vive no vilarejo e é feliz; o momento em que é levada para a cidade grande para viver uma vida de luxo e ser cortejada por vários homens da nobreza; e o seu mágico momento final, que traz sequências de encher os olhos – ou de lavar os olhos – e momentos arrebatadores, num verdadeiro convite para que tiremos os pés do chão.

O filme é baseado em um conto folclórico japonês muito popular chamado "O Corte do Bambu". Na trama, um velho cortador de bambu encontra dentro de um bambu brilhante uma pequena garota em miniatura, que cabe na palma de sua mão. Ele fica encantado, se diz ser uma pessoa de sorte e abençoado pelos deuses e a leva para casa, onde ela será cuidada por ele e sua esposa. Logo no primeiro dia, a menina cresce bastante, em poucos minutos está do tamanho de um bebê normal e continua crescendo a olhos vistos.

A garotinha se encanta com tudo ao seu redor naquele cenário rural. O sabor de um melão, o pular de um sapo, o voar dos pássaros, tudo é motivo de alegria para ela. Inclusive, entre os amiguinhos que conhece no vilarejo há até um que se aproxima de um interesse amoroso. Mas tudo muda quando os pais decidem levá-la para a cidade grande para ter uma vida de uma verdadeira princesa, aprender a se comportar como uma dama e ter que se enquadrar nos costumes pouco simpáticos da nobreza do Japão feudal.

O CONTO DA PRINCESA KAGUYA conta com umas gordurinhas, especialmente no momento em que a protagonista é cortejada por príncipes e até por um rei, e isso acaba por arrastar o filme por mais de duas horas de duração sem a mesma graça do primeiro terço inicial. Felizmente, o último ato é de uma beleza tão difícil de descrever que compensa o que seria uma falha. Assim como a passagem da Princesa Kaguya pela Terra, podemos encarar a entrada deste filme em nosso circuito exibidor como uma dádiva divina.

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