segunda-feira, julho 27, 2015

12 CURTAS VISTOS NO CINE CEARÁ



Devia ter feito isso antes. Agora que já está com um mês do evento, mal consigo lembrar da maior parte dos curtas vistos na 25ª edição do Cine Ceará. Mas como me obrigo a escrever sobre tudo que vejo, vamos ver se dá pra sair alguma coisa, puxando pela memória.

MÓVEIS ADEGUER (Muebles Adeguer)

Foi o único curta da mostra dedicada ao cinema espanhol que eu vi e infelizmente não me fisgou. Na verdade, MÓVEIS ADEGUER (2015), de Irene M. Borrego, é aquele tipo de filme que termina e a gente fica sem entender o que acabou de ver. Vemos imagens de pessoas trabalhando numa loja de móveis, fazendo coisas comuns e nada mais. Logo, há algo que perdi no meio disso tudo. Eis um dos problemas dos curtas: muitas vezes, basta piscar para sequer deixar de entender uma suposta intenção do realizador.

KYOTO

Um dos meus favoritos dentre os que vi, KYOTO (2014, foto), de Deborah Viegas, é mais um filme que trafega pelo gênero fantástico, coisa que tem sido feita com muita propriedade por vários novos realizadores, o que muito me alegra. Em KYOTO, acompanhamos uma garotinha que tem uma tarefa de casa a cumprir: escrever uma redação sobre suas férias. Acontece que ela diz que foi a Kyoto e a professora devolve, querendo que ela escreva sobre coisas reais. Há uma atmosfera bem interessante no ar e um cuidado com o que é mostrado e o que não é mostrado, conferindo ao filme uma simplicidade e ao mesmo tempo um rigor muito interessante. Sem falar no arrepio que pode causar na plateia.

MIRAGEM

É talvez o caso de reavaliar o filme e ver com mais carinho. Trata-se do principal representante cearense da premiação dos curtas e o que mais saiu com prêmios dedicados a produções da terra. MIRAGEM (2014), de Virgínia Pinho, é experimental, brinca com sobreposição de imagens, usa voice-over, mostra a geografia de Fortaleza, e para o que se propõe, isto é, não ter exatamente um fim narrativo especificamente, deve ser visto de maneira diferente.

QUINTAL

Como eu mesmo falei ao próprio diretor ao final da noite, QUINTAL (2015) fez a alegria daquela noite no Cine São Luiz. Trata-se do mais novo trabalho de André Novais Oliveira, e o cineasta mineiro aproveita novamente o bem-sucedido trabalho com seus pais em ELA VOLTA NA QUINTA (2014) para construir com muito bom humor uma história envolvendo uma espécie de fenda extradimensional que muda a rotina de seus pais. Impagável o momento em que o Seu Norberto está ocupado vendo filmes pornôs e a mãe pede ajuda.

MICRO-MACRO

Diego Akel brinca novamente com as possibilidades que o movimento pode proporcionar. Diferente de FLUXOS (2014) e LINHAS E ESPIRAIS (2009), em que foi utilizada animação em stop-motion, o novo MICRO-MACRO (2015) foi feito sem ter dado muito trabalho ao realizador. Utilizando o seu aparelho celular, ele constrói uma sucessão de imagens que não necessariamente precisam ter um sentido. Ou tem, dependendo da livre interpretação do espectador.

AVENIDA PRESIDENTE KENNEDY

O documentário de Adalberto Oliveira aborda a rotina de uma das mais importantes avenidas de Recife. AVENIDA PRESIDENTE KENNEDY (2014) possui um formato que mistura reportagem jornalística com algo de experimental, o que o torna interessante, embora as imagens que mostram pessoas acorrentadas em ônibus possa ser uma metáfora um tanto óbvia.

HISTÓRIA DE ABRAIM

Muito bonito plasticamente, com sua fotografia em preto e branco e enquadramento estático de uma casa de taipa e nada mais, ouvimos o som do diretor Otavio Cury entrevistando um homem que trabalha com cajus. É muito bonito e agradável ouvir o som do vento sem precisar imaginar o que se passa no extracampo. A sinopse de HISTÓRIA DE ABRAIM (2015) já chama a atenção: "Abraim foi trocado por uma vaca". Daí pra esperar o que virá do belo diálogo entre um homem simples e um cineasta vindo de São Paulo.

FLORES

Primeiro dos curtas de Armando Praça e Janaína Marques apresentado na noite, FLORES (2015) nos apresenta a um velho e sua neta a caminho de um simples cemitério da cidadezinha. A narrativa não tem pressa para chegar ao local, toma o ritmo do senhor, mas o que acontece lá no cemitério mexerá com as emoções daquele homem viúvo.

SILÊNCIO

O segundo curta da dupla, SILÊNCIO (2015), aproveita a mesma menina do anterior, mas brinca com o gênero terror em torno de um casebre no sertão, uma garotinha atenciosa e um homem moribundo, com resultados interessantes. Para os dois curtas, o Cine São Luiz estava lotado de pessoas da localidade onde foram feitas as filmagens. Gente muito orgulhosa, e com razão, do trabalho que desempenharam em curto espaço de tempo, mas com muito carinho e dedicação.

COMO SÃO CRUÉIS OS PÁSSAROS DA ALVORADA

Este curta de João Toledo tem estilo, embora eu precise rever para lembrar melhor da atmosfera e da trama. COMO SÃO CRUÉIS OS PÁSSAROS DA ALVORADA (2015) acompanha a rotina de alguns jovens em busca de prazer, com destaque para um protagonista. A fotografia em scope fornece imagens bem bonitas, seja do rapaz no quarto, seja de uma espécie de suruba entre a turma, ou da imagem do horizonte enquanto dois amigos bebem cerveja.

FEIO, VELHO E RUIM

O filme de Marcus Curvelo aborda a questão da insegurança em tempos de selfies e exposição de supostas qualidades nas redes sociais. Em FEIO, VELHO E RUIM (2015), o próprio cineasta apresenta, através de fotos de diferentes fases de sua vida, uma espirituosa voice-over em que destaca, como que para vender o próprio peixe, suas qualidades. Na voz, ele conversa com uma atendente de telemarketing. Filme muito simpático.

VIRGINDADE

Tiraram as crianças da sala antes de exibir este VIRGINDADE (2015), de Chico Lacerda. Não por causa do tema da homossexualidade, mas por causa das cenas de nudez explícitas. Gostando ou não (eu gostei), o filme relata, também usando fotos diversas, as experiências iniciais do cineasta, suas descobertas sexuais desde a infância, o interesse por meninos etc. É um trabalho pungente e corajoso. Que bom que saiu do gueto dos festivais LGBT para chegar a festivais mais amplos.

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