sexta-feira, abril 03, 2015

O ANJO AZUL (Der Blaue Engel)



O ANJO AZUL (1930) foi o primeiro dos sete filmes que Josef von Sternberg fez com Marlene Dietrich. Minha intenção é ver todos esses trabalhos e, quem sabe, ver os demais também do cineasta, se porventura eu me encantar com sua obra. O ANJO AZUL foi realizado excepcionalmente na Alemanha (o diretor já tinha uma carreira estabelecida em Hollywood), a convite do grande astro alemão Emil Jannings, que pretendia fazer uma boa transição do cinema mudo para o falado e Sternberg lhe parecia um ótimo nome.

A fim de ampliar o mercado, O ANJO AZUL teve duas versões: uma em inglês e outra em alemão, algo que era comum no início dessa década, que ainda não acreditava no poder de expansão do cinema falado em territórios de língua estrangeira. Creio que é mais válido ver a versão em alemão, levando em consideração a nacionalidade de Jannings e Dietrich. Curiosamente, a versão em inglês, dada como perdida durante algum tempo, conta com o áudio dos próprios astros.

Havia visto um filme que parecia uma espécie de variação deste, o brasileiro ANJO LOIRO, de Alfredo Sterheim. E confesso que ainda prefiro o brasileiro. Ainda assim, foi muito bom entrar em contato com este trabalho de Sternberg, cujas tonalidades ainda trazem influências do expressionismo alemão, principalmente quando mostra o velho professor (Jannings) caminhando pelas ruelas até chegar ao clube onde Lola Lola (Dietrich) está dando seu espetáculo.

Na trama, o professor Immanuel Rath é um senhor que costuma ser alvo de chacota pelos seus alunos, embora seja um homem respeitado pela comunidade de sua pequena cidade. Certo dia, ele descobre, através de pequenos postais com a foto de Lola Lola, que ela está se apresentando como cantora (e usando roupas muito sensuais) em um clube noturno lá perto. Ele não resiste à tentação e vai visitá-la. Inclusive no camarim, onde é visto com respeito pelos membros do grupo itinerante, e também pela estrela. Não demora para que ele decida jogar tudo pra cima e se aventurar como marido dela.

Este ato de paixão cega acaba por tornar a vida do velho professor o início de uma jornada aos infernos. Mas o curioso é que O ANJO AZUL transcende o mero jogo moral de ver a cantora sensual como uma espécie de anjo do mal ou responsável pela queda de um bom homem da sociedade. O filme nunca a coloca como demoníaca ou algo do tipo. O desejo, aliado à falta de bom senso de Immanuel, é que é o seu próprio inimigo. A questão da moral também se mostra no posicionamento da câmera, no extracampo, que prefere não mostrar Immanuel em situação ainda mais decadente do que já está.

Há também um interessante trabalho de som, que, para as produções daquele período, é bastante criativo, como nas vezes em que o professor está dentro do camarim e a porta se abre e ouvimos o barulho do clube, com os artistas se apresentando e os espectadores fazendo barulho.

O ANJO AZUL ajuda bastante a entendermos o fenômeno Marlene Dietrich, ao flagrarmos a atriz ainda na casa dos vinte anos, e, portanto, sem a expressão mais grave que apareceria nas produções hollywoodianas. Destaque também para as belas pernas da moça. Apesar de as vestimentas parecerem hoje estranhas, não dá para negar o quanto deveriam ser ousadas naquela época.

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