quarta-feira, abril 15, 2015

JACKIE BROWN



Já fazia mais de 16 anos da primeira e única vez que havia visto JACKIE BROWN (1997) no cinema numa das salas do extinto Art Iguatemi. As impressões na época não foram de muito entusiasmo, levando em consideração que eu havia saído da sessão de PULP FICTION – TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994) em êxtase. Assim, Quentin Tarantino pegou muita gente de surpresa com seu novo trabalho, uma adaptação de um romance de Elmore Leonard e talvez por isso seja um de seus trabalhos menos tarantinescos.

Aliás, engraçado como na época, só com dois longas no currículo e uns poucos roteiros, o cineasta já havia ganhado um adjetivo para si, o que não deixa de ser um tanto limitador, ainda mais para quem ainda estava só começando. Por outro lado, isso também provava a imensa popularidade do diretor. Mas se JACKIE BROWN era um tanto diferente, até por não se passar no universo de Tarantino, mas num mundo à parte, o cineasta também trata de homenagear outro dos subgêneros marginais que ele tanto aprecia, o blaxsploitation, ou seja, os filmes produzidos e protagonizados por negros que foram tão populares nos Estados Unidos dos anos 1970. O próprio título remete diretamente a FOXY BROWN (1974), estrelado pela musa Pam Grier, que aqui ele trata de trazer aos holofotes, como protagonista.

Na trama, Jackie (Grier) é uma comissária de bordo de uma companhia de segunda categoria que é pega pelos policiais federais (Michael Keaton é um deles) portando uma boa quantidade de dinheiro e um pouco de cocaína. É o suficiente para ela ficar encrencada, mas consegue logo ficar livre graças à intervenção do contrabandista Ordell (Samuel L. Jackson), que contrata os serviços de Max Cherry (Robert Forster) para tirá-la da prisão. Logo no primeiro encontro, Jackie e Max se gostaram e uma relação se inicia. Uma relação que também se estende às ligações perigosas de Jackie com o perigoso Ordell.

Completam o elenco de apoio dois personagens bem interessantes: o ex-presidiário vivido por Robert De Niro e a surfista maconheira e preguiçosa vivida por Bridget Fonda, que parece nunca ter aparecido tão bela antes ou depois. Há uma cena de sexo entre esses dois personagens que é um tanto quanto desconfortável. Pelo menos, a tara de Tarantino por pés se justifica nas várias vezes em que vemos Bridget fazendo as unhas na sala de Ordell. Os dois personagens têm importância na trama, especialmente no último ato, mas valem mais pela ótima construção de suas características.

Um dos diálogos mais bonitos do filme é entre Max e Jackie, quando ela pergunta a ele sobre como ele se sente ao envelhecer. É um diálogo curto, mas que é bem representativo do respeito com que o jovem Tarantino tinha com essas duas figuras icônicas do cinema. E esse diálogo sintetiza o próprio ritmo do filme, muito mais pausado que PULP FICTION.

A empolgação juvenil que pega o espectador de jeito acaba vindo da inteligência da trama e do modo como ela é contada, de diferentes pontos de vista, na sequência climática envolvendo uma troca de sacolas em uma loja de roupas de um shopping center. É então que lembramos das brincadeiras temporais e de montagem de PULP FICTION e dos demais trabalhos de Tarantino que viriam.

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