quinta-feira, abril 23, 2015

CASA GRANDE



Depois de dois curtas e de um documentário que passou discretamente nos cinemas brasileiros chamado LAURA (2011), Fellipe Barbosa estreia em um longa-metragem de ficção que recebeu muitos elogios nos festivais por onde passou e continua recebendo agora que foi lançado comercialmente, ainda que em circuito limitado. A comparação com O SOM AO REDOR, de Kleber Mendonça Filho, tem a sua razão de ser, já que CASA GRANDE (2014) é também um filme que propõe discussões sobre a diferença de classes e o atrito que existe entre empregados e patrões no Brasil contemporâneo. A própria alusão à obra literária de Gilberto Freyre já é explícita logo a partir do título.

A diferença maior entre CASA GRANDE e o filme pernambucano é que aqui a visão do patrão é um tanto mais suavizada. Vemos o filme mais pelos olhos dos ricos, que não estão mais tão ricos assim, na verdade. A família do filme, encabeçada pelo personagem de Marcello Novaes e sua esposa (Suzana Pires), se encontra em uma situação delicada, com o patriarca tentando manter as aparências, quando na verdade a crise chegou com força, a ponto de ele ter que demitir um empregado e fazer com que o filho (Thales Cavalcanti) passe a ir para a escola de ônibus.

E é pelos olhos do jovem Jean (Cavalcanti) em sua jornada de autodescoberta que acompanhamos a maior parte da narrativa. Sabemos logo de início que ele dá umas escapadas para o quarto da simpática empregada, a fim de dar-lhe uns amassos, ainda que sem tanto sucesso. Também é através de Jean que vemos sua rotina na prestigiada escola particular só para garotos, bem como a pressão que o pai lhe impõe para que escolha um curso universitário que dê dinheiro (Direito ou Economia, por exemplo), e quando ele encontra uma garota de outra escola, uma escola pública, uma menina que de alguma forma lhe encanta.

Há todo um cuidado estético de Barbosa na construção da trama e dos personagens e no quanto a emoção chega num crescendo inesperado, mas fruto de uma direção firme e de desempenhos notáveis até mesmo do elenco de apoio. Todo esse cuidado contribui para que CASA GRANDE seja percebido como uma das melhores produções brasileiras do cinema recente. Desses que merecem mais atenção por parte do público e quem sabe até da crítica estrangeira, como foi o caso de O SOM AO REDOR.

Mas todo esse cuidado na parte técnica (vale destacar também o ótimo trabalho de som) nada valeria se não fosse a sensibilidade do diretor em saber lidar com as emoções dos personagens, principalmente as de Jean, um garoto confuso e ainda sem opinião formada sobre alguns assuntos e que talvez não saiba ainda o que quer da vida, mas que começa a se conhecer a partir do confronto com o pai, alguém que ele não quer adotar como modelo.

As emoções, principalmente as que lidam com situações-limite ou situações que representam passagens ou finalizações, chegam a impactar o espectador. Depois das belas cenas finais, os créditos sobem e ficamos ainda parados olhando para a tela preta, com a certeza de que acabamos de ver algo especial, que nos fez ganhar o dia.

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