terça-feira, março 31, 2015

PONTE AÉREA



Muito bom ver o cinema brasileiro que circula fora do circuito alternativo trabalhando com o gênero drama de vez em quando, ao invés das já tradicionais e manjadas globochanchadas. E não há mal nenhum em colocar no elenco dois atores globais. Isso é chamariz para a bilheteria, embora a distribuidora, no fim das contas, tenha colocado o filme com poucas cópias cartaz, talvez porque a resposta do público para filmes brasileiros tem sido um tanto preconceituosa. E isso, levando em consideração um público crescente que cada vez mais tem dado preferência para filmes dublados. O que é uma pena, mas isso ao menos seria uma boa desculpa para que esse mesmo público arriscasse mais no cinema brasileiro, já que não querem ler as legendas.

Quanto a PONTE AÉREA (2015), por mais que esteja longe de ser um primor de história de amor, não faz feio diante da maior parte dos dramas românticos produzidos em Hollywood. E embora a temática possa lembrar um pouco AMOR À DISTÂNCIA, com Drew Barrymore e Justin Long, por causa da questão do relacionamento à distância do casal de protagonistas, Julia Rezende faz algo bem diferente.

Na trama, durante um transtorno causado por mau tempo em São Paulo, um voo comercial precisa fazer uma parada no aeroporto de Belo Horizonte. E é no hotel próximo ao aeroporto que Bruno (Caio Blat) e Amanda (Letícia Colin) se conhecem e têm logo um momento de intimidade. A construção dos personagens no início incomoda, como estereótipos da figura de um carioca, o sujeito que vive a vida com mais tranquilidade, e da paulistana, que vive sempre tensa com os compromissos do trabalho, mas depois a própria questão do estereótipo dos dois é, de certa forma, discutida.

Tanto as locações na Av. Paulista quanto em Copacabana encantam, cada uma à sua maneira, nos momentos em que o casal vive nesse lá e cá, provocado tanto pelo trabalho de campo de Amanda (uma publicitária), mas principalmente pelo fato de o pai de Bruno estar na UTI, em São Paulo.

Julia Rezende trabalha bem a questão das diferenças entre o casal, mas difícil não achar Bruno um tremendo de um bobão diante de uma moça tão linda e tão amável como Amanda, personificada por uma Letícia Colin no auge da beleza. Nem parece a mesma mocinha, ainda verde, da mais recente versão de BONITINHA, MAS ORDINÁRIA. Além do mais, sua personagem é mais centrada, enquanto Bruno representa, de certa forma, a covardia masculina, ainda que atenuada por sua simpatia e a convincente situação de querer, ele mesmo, levar as rédeas de sua vida.

A trilha sonora contribui com algumas belas canções que costuram a narrativa com elegância e um pouco de nostalgia, mas como resistir a "Whiter Shade of Pale", do Procul Harum? É até covardia tocarem-na em determinada cena, que acaba culminando em lágrimas por parte da plateia.

Em entrevista à revista Preview, a diretora afirma que em alguns momentos Letícia Colin chorava nas filmagens e Julia Rezende tinha que pedir para ela segurar o choro até o momento certo. E essa entrega ao papel é percebida, principalmente nos momentos de crise do casal. Ou numa cena de reencontro. Quem já passou por algo parecido na vida certamente vai se identificar ou até sentir um pouco de déjà vu. Por isso, não seria exagero afirmar que a mesma diretora da comédia MEU PASSADO ME CONDENA – O FILME (2013) acertou a mão neste registro mais dramático e mais afetivo das relações humanas.

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