sexta-feira, março 20, 2015

MAPAS PARA AS ESTRELAS (Maps to the Stars)



Há diretores que, mesmo tendo perdido uma legião de fãs devido a suas escolhas, continuam ainda fiéis a si mesmos, ao seu cinema autoral. David Cronenberg é um desses casos. Desde MARCAS DA VIOLÊNCIA (2005) que o diretor tem trazido para a vida real aquilo que antes era ficção científica e horror. A tão anunciada "nova carne" de VIDEODROME – A SÍNDROME DO VÍDEO (1983) chegou. O futuro é hoje. E isso nunca se manifestou de maneira tão forte quanto em MAPAS PARA AS ESTRELAS (2014).

O mundo estranho da filmografia de Cronenberg se fundiu com o mundo estranho da nossa contemporaneidade. Vivemos em uma sociedade doente, e que está se acostumando ainda com esse fato. Mas Cronenberg parece bem à vontade com esse novo momento. Em uma das cenas de MAPAS PARA AS ESTRELAS, o personagem de Robert Pattinson, um chofer que sonha em ser ator em Hollywood, fala para a personagem de Mia Wasikowska, uma jovem piromaníaca com o rosto marcado por queimaduras e pelo fato de ter causado mal à sua família no passado, que ela é muito louca. Ela diz algo como "e daí?".

As fronteiras entre a loucura e a sanidade nunca estiveram tão borradas quanto nos dias de hoje e Cronenberg faz de uma família rica de Hollywood a representação da atualidade. John Cusack é o patriarca, um sujeito que ganha dinheiro como uma espécie de guru de autoajuda, enquanto a esposa (Olivia Williams) vive preocupada com o filho adolescente (Evan Bird), que, apesar da idade, já é veterano em clínicas de reabilitação e sofre o mal de quem é mimado e idolatrado desde pequeno.

A filha expulsa de casa da família, que adora tocar fogo nas coisas e toma várias caixas de comprimidos para evitar ter uma recaída novamente, está de volta a Los Angeles. Consegue com Carrie Fisher (interpretando ela mesma) um cargo de assistente de uma atriz famosa mas atormentada (Julianne Moore) por visões da jovem mãe, que morreu em um incêndio. Seu sonho atual é interpretar uma nova versão de um filme que a mãe fizera na década de 1960, mas não é fácil lidar com o mundo tortuoso das negociações de Hollywood.

Outro cineasta talvez tornasse MAPAS PARA AS ESTRELAS em algo mais fantasmagórico, menos cientificista. Mas estamos falando de Cronenberg e muito provavelmente sua intenção é se encaminhar mais para o campo da ciência ao lidar com as alucinações de seus personagens, reflexo do cada vez mais crescente aumento de casos de problemas psíquicos graves e perturbadores.

O gosto pela violência e pelo gore presentes desde alguns dos primeiros trabalhos do diretor marca presença também em MAPAS, embora aqui seja necessário um pouco mais de paciência por parte do espectador, tendo em vista a semelhança de andamento com seu trabalho anterior, COSMÓPOLIS (2012), que chegou a enxotar muitos incautos da sala de cinema. Porém, pode-se dizer que MAPAS é mais acessível e aparentemente menos complexo, embora ofereça uma abertura imensa de possibilidades de discussão, tanto no que concerne ao cinema do próprio diretor quanto no diálogo com o mundo atual.

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