domingo, fevereiro 22, 2015

LIVRE (Wild)



Não vou negar: o que mais me chamou a atenção em LIVRE (2014) foi a trilha sonora. Não a original, mas os trechos das canções que surgem ao longo do filme. Ao longo da jornada de Cheryl (Reese Witherspoon), podemos ouvir "El condor pasa (If I could)", por Simon & Garfunkel; "Let'em in", por Paul McCartney"; "Suzanne", de Leonard Cohen; "Glory box", do Portishead; "The air that I breathe", do The Hollies; entre outras tantas que eu não sou tão íntimo, mas que compõem um painel sonoro que ajuda a tornar a apreciação do filme de Jean-Marc Vallée ainda mais agradável.

Não é como NA NATUREZA SELVAGEM, de Sean Penn, que é muito extremo, e também não é tão incômodo quanto 127 HORAS, de Danny Boyle. E comparar com HISTÓRIA REAL, de David Lynch, então, seria um sacrilégio. Sim, Cheryl passou por maus bocados, mas se não sentimos tanto o peso do seu passado não é necessariamente um problema do filme, que talvez tenha optado mesmo pela busca de uma leveza espiritual, que a personagem vai obtendo ao sacrificar o corpo, ao pensar no passado, ao ter um contato com a natureza de maneira exponencial.

Depois do sucesso de CLUBE DE COMPRAS DALLAS, que conferiu Oscar a dois astros do elenco, Jean-Marc Vallée volta a conseguir novamente indicações para dois de seus intérpretes. Embora o papel de Laura Dern seja bem fraco, ainda assim, ela e Reese estão juntas na competição, mesmo que com poucas chances. Então, só a indicação já está valendo, ainda que o filme em si tenha passado quase batido nos cinemas quando foi exibido.

Na trama, Cheryl é uma jovem mulher que pretende fazer uma jornada a pé pela costa oeste americana, num percurso de 1.100 milhas (transformar em quilômetros daria número quebrado). Isso, como uma forma de se penitenciar pelo tempo em que passou viciada em heroína e vivendo uma vida sexual irresponsável, depois de passar por maus bocados com a morte da mãe e o divórcio. Uma penitência e ao mesmo tempo uma busca de si mesma. A enorme mochila que ela carrega nas costas, inclusive, pode ser vista como um simbolismo daquilo que ela carrega na mente e no coração.

LIVRE é baseado em um livro de memórias de Cheryl Strayed, que alguns amigos leram e gostaram bastante. É mais um exemplar do quanto o cinema tem se apropriado de histórias reais ultimamente. Talvez porque a vida se tornou mais espetacular do que a arte, talvez por falta de criatividade mesmo. Ou talvez seja um momento de mais apego à vida real, por mais ficcionalizada que ela seja quanto transposta para as telas.

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