quinta-feira, dezembro 18, 2014

UMA MULHER SOB INFLUÊNCIA (A Woman under the Influence)























Como diz uma canção do mundo livre s/a, "de vez em quando é bom falar dos fracassados". E poucos cineastas lidam tão bem e de maneira tão humana com personagens fragilizados e longe do ideal de felicidade quanto John Cassavetes. UMA MULHER SOB INFLUÊNCIA (1974) segue a linha de dramas que tentam se aproximar cada vez mais da vida e menos das fórmulas hollywoodianas de se buscar a emoção. Cassavetes nos coloca no centro das emoções e nos deixa atordoados sem entender direito o que são essas emoções.

Cá pra nós, no fundo eu ainda prefiro o jeito hollywoodiano, mas isso se deve, provavelmente, ao fato de eu já estar acostumado e talvez prefira em geral o caminho da fuga. Mas já sabemos que em Cassavetes não é isso o que acontece, embora ASSIM FALOU O AMOR (1971) se aproxime mais das comédias românticas e seja um filme mais leve do que os demais.

Um pouco mais longe da figura linda e elegante do trabalho anterior, Gena Rowlands não se importa em aparecer mais envelhecida, sem maquiagem e interpretando uma mulher com problemas mentais, mas com um amor imenso pelos filhos e pelo marido, embora já no começo saibamos que ela foi para a cama com outro homem, depois de uma noite de bebedeira. Mas isso, além de ser comum no cinema de Cassavetes – lembra de imediato FACES (1968) –, é também mais um elemento de aproximação com as imperfeições humanas.

E o interessante é que aos poucos vamos ficando mais acostumados e criando um carinho por esses personagens. Até mesmo os masculinos, que em algumas obras suas são mostrados como quase insuportáveis. Aqui é quase impossível não gostar de Nick, o personagem de Peter Falk, um homem que ama tanto sua esposa Mabel, que sente raiva quando os amigos tentam pelo menos insinuar que ela é louca.

Assim como outros trabalhos do diretor, há uma predominância de planos longos, como a cena do café da manhã com espaguete, a tentativa de internar Mabel ou a sua chegada do hospício. Essa última cena, aliás, é uma das mais tocantes de toda a carreira do diretor. É quando Gena Rowlands mostra toda a complexidade e a riqueza de sua personagem, flutuando entre a busca por um comportamento aceitável para a sociedade e uma fragilidade imensa, como se ela não pertencesse àquele mundo, tão cheio de regras.

Curiosamente o filme quase não foi lançado por não conseguir distribuidor e até mesmo foi inicialmente rejeitado no Festival de Nova York. O curador do festival havia dito que o filme era o maior pedaço de merda que ele já havia visto. UMA MULHER SOB INFLUÊNCIA só passou no festival graças ao pedido de Martin Scorsese, que defendeu Cassavetes até o último minuto.

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