sábado, dezembro 06, 2014

HOMENS, MULHERES E FILHOS (Men, Women & Children)























Na quinta-feira resolvi finalmente conhecer uma das salas VIPs recém-instaladas no complexo da Cinépolis do novo Shopping Rio-Mar. Ao mesmo tempo em que estava muito curioso para ver o grau de conforto da sala, queria ver também como se comportava o público, em um ambiente que diz que lugar de cinema também é para almoçar ou jantar. As instalações são muito bonitas e o espaço é agradável, mas há algo ali que me deixou desconfortável a ponto de eu querer ficar sentado (e não deitado) em mais da metade do filme. E, de preferência, com os pés no chão, o que nem sempre é possível pelo tamanho das poltronas reclináveis.

A ideia de ver o filme deitado até me passa uma ideia de pouco respeito para com a obra de arte – isto, levando em consideração que o filme é mesmo uma obra de arte. Quanto à comida, não tenho nada contra comer no cinema, mas aquele serviço de garçons me incomodou um pouquinho. Talvez por eu ser o único que não comprou nada lá.

Quanto à projeção, que é o mais importante, não há do que reclamar. Imagem perfeita, com tudo no lugar. O som poderia ser um pouco mais alto e potente, mas também não é baixo. Nos aspectos técnicos, é tudo muito bom. O filme escolhido foi HOMENS, MULHERES E FILHOS (2014), de Jason Reitman, cineasta que respeito bastante, embora não a ponto de achá-lo um dos melhores de sua geração.

Desde JUNO (2007) Reitman conquistou o seu lugar como cineasta classe A de Hollywood, com indicações ao Oscar e tudo. AMOR SEM ESCALAS (2009) repetiu o feito. Mas talvez o seu melhor filme seja mesmo JOVENS ADULTOS (2011), que foi esnobado pela academia, mas que lida com a questão da necessidade de autoafirmação e o sentimento de ser um perdedor numa sociedade que valoriza muito o ter e o ego.

HOMENS, MULHERES E FILHOS é um filme que tropeça na sua ambição de abarcar mais de uma temática, embora tudo seja incluído na intenção de pensar a sociedade de hoje, tão focada no mundo virtual que deixa escapar o mundo real. Tim, o personagem de Ansel Elgort (o jovem de A CULPA É DAS ESTRELAS) é talvez o mais representativo do elenco. Seus únicos amigos são virtuais, participantes de um jogo interativo.

Tanto ele como o pai sofrem com o abandono da mãe/esposa, mas ele quer acreditar que seus problemas não valem nada, pensando numa escala cósmica de que somos nada diante do universo que um dia vai deixar de existir. O rapaz tem alguém com quem contar no mundo real, Brandy (Kaitlyn Dever), uma garota que ele conhece na escola e que sofre perseguição da mãe (Jennifer Garner), quase uma psicopata em sua obsessão em proteger a filha de qualquer possível perigo vindo da internet ou do mundo real.

Um dos personagens mais curiosos é Don (Adam Sandler), um homem que tem passado por uma crise no casamento e encontra válvulas de escape em sites de pornografia, através da masturbação. Curiosamente, ele chega a conhecer alguns sites através do computador do filho adolescente, que também se acostumou tanto com o mundo virtual que tem dificuldades em lidar com os desafios sexuais do mundo real.

A curiosidade com relação ao personagem de Don é que ele é o único que tem o direito a uma narradora (Emma Thompson) para sua vida. HOMENS, MULHERES E FILHOS começa com ele e essa narradora, que se afasta dos demais personagens, em seguida, dando à narrativa um caráter ainda mais fragmentado. Porém, um dos problemas tanto da narradora quanto da própria narrativa como um todo é a tendência a tornar o filme moralista além da conta, mesmo mais à frente criticando o excesso de proteção da personagem de Jennifer Gardner.

Há outras duas subtramas interessantes, como a de duas garotas diferentes, mas com pontos em comum: uma delas não come para ficar muito magra e com isso conseguir um pouco de popularidade com os rapazes; a outra é incentivada pela mãe a fazer fotos sensuais que seriam postadas na internet para divulgação.

Neste filme-coral, sobra pouco espaço para aprofundamento dos personagens, mas Reitman tem bom domínio da narrativa e o filme é agradável de ver, embora passe sempre a impressão de estar dando uma lição de moral o tempo inteiro, especialmente com a narração em voice-over desnecessária.

Vale destacar a presença cameo de uma estrela pornô no filme: Tori Black, atualmente uma das mais famosas do ramo, e que tem lucrado bastante dentro da indústria dos filmes adultos. É interessante como de vez em quando Hollywood faz filmes que criticam o seu lado mais "pecaminoso". Foi assim com SHAME, LOVELACE e COMO NÃO PERDER ESSA MULHER, embora alguns poucos, como SEX TAPE – PERDIDO NA NUVEM, tenham encarado as ovelhas negras da família com mais carinho.

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