terça-feira, maio 06, 2014

BYE BYE BRASIL



É impressionante o quanto a revisão de um filme faz a diferença. Especialmente quando há uma distância temporal bem grande entre a primeira vez e a mais recente em que o vemos. Atualmente, por exemplo, até por estar com muitas obrigações a cumprir, não estou conseguindo me concentrar em ver muitos filmes em casa. Acabo ficando com complexo de culpa e não finalizando nem mesmo longas de curta duração. Porém, dentro de uma sala de cinema, isso é diferente. Há uma imersão que dentro de casa é um pouco mais difícil, em especial quando estou com esse espírito mais inquieto.

Por isso, foi de um prazer até difícil de narrar poder rever BYE BYE BRASIL (1980), de Carlos Diegues, no cinema, em cópia restaurada, em 35 mm. A sessão foi dedicada a José Wilker, que neste filme está em um de seus melhores papéis. O filme é de uma fase de ouro para Cacá Diegues. Nem parece o cineasta medíocre que foi se tornando a partir dos anos seguintes.

Ver BYE BYE BRASIL é como penetrar no Brasil profundo. No sertão onde a televisão ainda não chegou (ou que chegou recentemente), na Amazônia, e até, muito rapidamente, em praias desertas de nosso extenso litoral. Trata-se, portanto, de uma experiência semelhante a de uma viagem, ao mesmo tempo em que é uma viagem, no sentido espiritual, pela alma dos personagens enquanto eles vivenciam suas experiências.

Os personagens principais são o casal que participa de uma pequena caravana circense, o Lorde Cigano, vivido por José Wilker, líder do bando; e Salomé (Betty Faria), mulher que, além de fazer performances "exóticas" no circo, também ganha algum dinheiro como garota de programa transando com políticos do interior. Junta-se ao bando o sanfoneiro Ciço, vivido por Fábio Jr., e a esposa grávida Dasdô, vivida por Zaira Zambelli. Aliás, cá pra nós, há um momento em que Zaira tira a roupa e se revela muito mais bela do que a Betty Faria. Naquele vestidinho de sertaneja humilde, difícil prever.

Com a união dos dois casais, Ciço se apaixona por Salomé. Ela, mulher experiente e amarga, rejeita seus convites loucos de fugir com ele para viver juntos para sempre. Cego de paixão, ele sequer tem planos de como administraria a vida a dois. Quanto ao personagem de Wilker, por trás de uma figura enganadora e cafajeste, há uma pessoa generosa e é talvez o personagem mais fácil de se gostar da história.

Mas o interessante é que BYE BYE BRASIL é um filme que não se prende ao enredo. Flui como um rio, sem muita preocupação de chegar a algum lugar. Se há uma pressa, que é especialmente da parte do personagem de Ciço, devido à sua paixão, ela é vista com lucidez por nossos olhos.

Com música de Chico Buarque, é uma pletora de temas que são convites a reflexão, como a chegada da televisão e a facilidade de deixar os espectadores feito zumbis; a tentativa de resistência do grupo, até como um símbolo daquele momento político; a pobreza do povo brasileiro; a busca de uma espécie de terra prometida; a verificação dos vários traços de composição de nossa diversa etnia etc. Filmaço.

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