segunda-feira, março 10, 2014

TRUE DETECTIVE



E a série que mexeu com as emoções e se tornou um fenômeno de divulgação boca a boca na internet partiu de um escritor de ficção, o premiado Nic Pizzolatto, que estreou na televisão como roteirista de dois episódios da primeira temporada de THE KILLING (2011) e agora surge como criador, produtor e roteirista de TRUE DETECTIVE (2014), uma série que traz dois atores consagrados do cinema, Matthew McConaughey e Woody Harrelson, como dois investigadores da polícia de Louisiana às voltas com um estranho caso de assassinato que acaba por se mostrar bem maior do que eles imaginaram.

A ideia de TRUE DETECTIVE é sempre trazer histórias fechadas a cada temporada (esta teve apenas oito episódios), com mudança completa do elenco e talvez também de diretor. O diretor escolhido para esta primeira temporada foi Cary Joji Fukunaga, de JANE EYRE (2011), e que se mostra tão habilidoso na condução da trama que dá vontade de conhecer sua ainda curta filmografia. A série ainda conta com um elenco de apoio bem interessante, com Michelle Monaghan e Alexandra Daddario, para citar os nomes mais conhecidos dentre os coadjuvantes. Sem falar que são mulheres que exibem também sua beleza e sensualidade ao longo da série.

Mas, afinal, o que faz de TRUE DETECTIVE tão especial? Provavelmente o seu mistério. Aliás, uma das coisas fascinantes com relação ao mistério é quando ele ainda é mistério. Por isso que uma série como TWIN PEAKS continua sendo uma referência até hoje. Aliás, comparações entre TRUE DETECTIVE e TWIN PEAKS surgiram com frequência nas últimas semanas: ambas são séries policiais com elementos sobrenaturais. Ou, no caso de TRUE DETECTIVE, possivelmente sobrenaturais, já que não sabemos ao certo se tudo não passa de crimes feitos pela mente doentia de um homem.

A estrutura narrativa de TRUE DETECTIVE é também importante para convidar o espectador a permanecer interessado sempre. Através de idas e vindas no tempo, que nos levam para o início dos anos 1990, quando os detetives Rust Cohle (McConaughey) e Marty Hart (Harrelson) começaram a trabalhar juntos em um bizarro caso de assassinato de uma mulher. Seu corpo foi encontrado amarrado em uma árvore, com galhos na cabeça e estranhas marcas no corpo que remetem a alguma espécie de ritual satânico ou coisa parecida. Ao mesmo tempo, somos levados aos anos 2010, com os dois homens sendo interrogados separadamente por outra dupla de detetives sobre os casos ocorridos na década de 90.

A mudança de 20 anos no aspecto dos dois homens são claramente mostradas tanto fisicamente quanto no comportamento. Principalmente de Cohle, que aparece barbado, bebendo muito e com um olhar que mostra ainda mais desencanto do que 20 anos atrás, quando ele já demonstrava um jeito niilista de encarar a vida e o mundo. Algumas de suas frases são tão interessantes que dão vontade de transcrever, apesar do tom sombrio.

O problema da série talvez aconteça a partir de seu quinto episódio, quando parte da trama é solucionada e acontece uma reviravolta na história dos dois homens. Até aquele momento, cada episódio era melhor do que o outro, gerando uma carga de excitação poucas vezes encontrada na televisão nos últimos anos. O quarto episódio, inclusive, traz um plano-sequência admirável, que ocorre numa perturbadora cena de ação que contrasta com o tom lento da série.

Por isso que, por mais que a season finale seja ótima, acaba ficando a dever, em qualidade, àqueles primeiros quatro sensacionais episódios. De todo modo, o clímax é muito bom, há um momento em que o realismo sai um pouco de cena para dar lugar ao fantástico, ainda que muito discretamente, e a violência gráfica ajuda a tornar aqueles momentos memoráveis. O epílogo, poético, dos dois homens falando de estrelas e de perdas, de luz e de escuridão, representa também uma mudança do pessimismo para um certo otimismo da parte de Cohle, desde já o personagem da vida de Matthew McConaughey.

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