sábado, março 01, 2014

INSIDE LLEWYN DAVIS – BALADA DE UM HOMEM COMUM (Inside Llewyn Davis)



Um novo filme dos irmãos Coen é sempre algo a se levar em consideração como sendo de grande relevância, não importando se está ou não indicado a algum Oscar. Nos últimos anos, porém, alguns de seus trabalhos ganharam bastante visibilidade no prêmio máximo da Academia. Começou com as indicações de FARGO (1996) e ganhou ainda mais força com a obra-prima ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (2007), que conquistou o prêmio máximo numa festa que geralmente costuma premiar filmes mais caretas.

Depois dessa premiação, ficou a impressão de que eles se sentiram mais livres ainda para fazer o que bem entenderem, por mais que um trabalho como BRAVURA INDÔMITA (2010) possa ser visto como um filme mais convencional. Com INSIDE LLEWYN DAVIS – BALADA DE UM HOMEM COMUM (2013), eles voltam aos filmes "menores". Tanto que, para ser finalizado, eles contaram com ajuda de dinheiro britânico e francês, além de americano, na produção. Muitos grandes cineastas americanos, aliás, estão tendo que fazer esse tipo de acordo para que consigam materializar suas ideias em filmes.

Assim, com um modesto orçamento estimado em 11 milhões de dólares, Joel e Ethan Coen concluíram a história de um homem que tenta sobreviver com música em um mundo cruel. O filme se passa em 1961, momento em que se iniciava a cena folk de Greenwich Village. No início, aquele tipo de música não era considerado vendável. E isso é percebido ao longo de todo o filme, mas que se torna ainda mais notável na sequência em que Llewyn Davis (Oscar Isaac) toca, em vão, para um produtor de Chicago, vivido por F. Murray Abraham.

Curiosamente, o personagem de Davis não é tão simpático, mas também não é antipático. E ao longo de sua trajetória de pancadas e humilhações que leva, sem desistir de sua vontade de viver de música, é fácil nos compadecermos dele, de cada lugar que procura para passar a noite, por não ter uma casa pra morar, de cada xingamento que leva da ex-namorada (Carey Mulligan), do frio que passa, sem ter um casaco para se agasalhar naquele pesado inverno, da preocupação em ter que devolver intacto o gato da casa de um amigo etc.

Enquanto isso, o filme também nos proporciona momentos de emoção através da música, principalmente as que ele canta e toca no violão. Se os Coens já fizeram um musical antes homenageando um tipo de música tradicional americana, E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ VOCÊ? (2000), usando um registro de comédia, aqui os temas musicais funcionam como mais um elemento da melancolia da vida daquele homem, cujo passado só aos poucos vamos conhecendo.

Levando em consideração o senso de humor tão presente em grande parte da obra dos irmãos Coen, essa necessidade de usar um registro mais dramático para contar a história de Llewyn Davis, personagem fictício inspirado no músico Dave Van Ronk, pouco conhecido, principalmente se compararmos com a fama de Bob Dylan e Joni Mitchell, é mais um motivo para levarmos a sério o filme, que aparentemente parece um apanhado de grandes cenas, mas que não se mostra tão orgânico como um todo.

O que não dá para deixar de notar é que se trata de um filme feito por mestres na arte de narrar com imagens. E que aqui também brindam o espectador com uma trilha sonora excepcional, que vai da música erudita à música folk. É, definitivamente, um filme que cresce na memória afetiva, na medida em que pensamos nele.

INSIDE LLEWYN DAVIS – BALADA DE UM HOMEM COMUM foi indicado a (apenas) dois Oscar: fotografia e mixagem de som.

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