sábado, julho 27, 2013

AMOR PLENO (To the Wonder)























Um filme como AMOR PLENO (2012) é um objeto completamente estranho na programação de um cinema de shopping. Especialmente no mês de julho. Por isso a rejeição que causa aos desavisados. AMOR PLENO é cinema-poesia, algo que raramente se faz, quando a tendência é o cinema-prosa, o cinema em que se conta uma história como em um romance. A história neste filme de Terrence Malick, no caso, é o que menos importa. Quem viu A ÁRVORE DA VIDA (2011) já sabe mais ou menos o que esperar, embora se trate de um filme menos ambicioso em diversos aspectos.

Algumas coisas incomodam, como o fato de Ben Affleck não dizer uma palavra sequer na língua de sua namorada/noiva. Aliás, ele mal fala durante o filme inteiro. E quando responde uma pergunta em francês da garotinha, ele responde em inglês. Isso pode ser visto como uma tendência do americano em rejeitar a língua estrangeira, mas no filme acaba ganhando outra conotação: a da dificuldade de comunicação e sintonia entre os personagens de Affleck e Olga Kurylenko. A atriz ucraniana, aliás, nunca esteve tão linda. (Se esteve, desconheço.)

Como se trata de cinema-poesia, AMOR PLENO tende a gerar percepções e impressões ainda mais diversas nos espectadores. Eu, por exemplo, vejo a imagem da mulher no filme muito mais natural, mais pertencente harmonicamente à natureza do que o homem, que parece sempre uma criatura perdida e hesitante. A hesitação, inclusive, é citada pelo personagem de Javier Bardem, que vive um padre em crise de fé. Ele afirma que a pessoa que hesita deixa a vida passar. E é assim que se mostra o personagem de Affleck, que se comporta sem saber o que fazer com as duas mulheres que passam por sua vida (a outra é Rachel McAdams, antiga paixão da mocidade).

A mulher, diferente do homem, quer amar de maneira plena; tem certeza de que quer viver fortemente a vida. E o curioso é o modo como Malick mostra esse sentimento, sem recorrer aos tradicionais diálogos naturalistas. Às vezes a situação não fica tão convincente, como nas cenas em que vemos os casais brigando. Se a música não fosse um elemento tão forte e presente para constituir uma obra tão cheia de reverência à vida, ao amor e à fé, AMOR PLENO poderia ser, sem problemas, um filme mudo. Mas as palavras, muitas vezes sussurradas em voice-over, também têm grande importância.Assim como as várias vezes em que a câmera se aproxima dos personagens, como se quisesse adentrar seus espíritos, mas encontrando sempre a barreira física.

O mundo físico, da natureza, dos filmes de Malick, que sempre têm um pé no plano metafísico, encontrou a espiritualidade de fato em A ÁRVORE DA VIDA, mas aqui novamente encontramos espíritos presos ao mundo material. O uso frequente da câmera aproximada passa um ar de amor aos personagens, mesmo aqueles que aparecem uma única vez, como os presidiários e as pessoas enfermas. Como se fosse a visão de Deus perante as almas sofridas.

Diferente de A ÁRVORE DA VIDA, em que a religiosidade é vista de forma mais explícita em sua conclusão, aqui os personagens são entregues a seus tristes destinos, como se estivessem totalmente abandonados por Deus. Por isso a solidão é um elemento tão presente. E talvez por isso AMOR PLENO seja um filme que tenda a crescer em nossa memória afetiva. Ter a chance de vê-lo em película é uma oportunidade que não se deve desperdiçar.

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