terça-feira, julho 30, 2013

LUZES DA CIDADE (City Lights)























Confesso que fiquei um tanto decepcionado com a revisão de LUZES DA CIDADE (1931). Pelo menos em comparação com as revisões de O GAROTO (1921) e O CIRCO (1928), que eu considero perfeitos, engraçados e extremamente comoventes. Os três filmes havia visto pela primeira vez em meados dos anos 1990, quando a Rede Globo exibiu um Festival Charles Chaplin, em que foram exibidos todos os seus longas-metragens.

Por mais que tenha achado o filme menos engraçado e menos comovente do que os dois citados acima, há, sem dúvida, momentos inesquecíveis de tão engraçados, como a cena da luta de boxe, perfeita, a cena do macarrão na festa e aquela em que o vagabundo engole um apito.

Aliás, genial essa transição do cinema mudo para o sonoro, sem abrir mão da pantomima. Ao mesmo tempo em que faz troça do cinema falado com a cena da inauguração da estátua, que por sua vez também é uma sutil crítica social ao sistema capitalista, ele abraça os novos recursos sonoros em alguns momentos, sem falar na música que ele mesmo compôs para o filme, dotada de muita beleza.

Talvez o que eu tenha desgostado seja o fato de o filme não parecer tão coeso quanto os antecessores. Embora a principal história seja a de Carlitos e a florista cega, as demais subtramas, como a do milionário bêbado que ele salva e que só é seu amigo enquanto está bêbado, acabam parecendo gags enxertadas. E acaba sendo tão importante quanto a trama principal. A busca de dinheiro para conseguir a operação para recuperar a visão da florista também rende a famosa cena da luta de boxe e fecha com aquele final lindo, com o close no rosto de Carlitos, que passa tantas emoções que fica difícil até enumerá-las.

Pena que a década de 1930 tenha sido bem escassa de trabalhos dele: apenas LUZES DA CIDADE e TEMPOS MODERNOS (1936), este último, a sua despedida do vagabundo e do cinema silencioso. Revi LUZES DA CIDADE pelo DVD da Coleção Folha, que contém textos muito bons de Cássio Starling Carlos e Pedro Maciel Guimarães, além do poema de Carlos Drummond de Andrade "Canto ao Homem do Povo Charles Chaplin".

Gostaria de ter comprado também o LUZES DA RIBALTA (1952), que foi o filme dele que mais me fez chorar, quando o vi (pela única vez) na televisão. Tenho até medo de revê-lo e perder a aura de amor que tenho por esse filme da fase crepuscular de Chaplin. Mas chegará a sua vez um dia.

segunda-feira, julho 29, 2013

TENTAÇÃO PROIBIDA (Così come Sei)























Histórias de homens mais velhos que se apaixonam por garotas bem mais jovens costumam ser interessantes, mesmo as que são cruéis com seus personagens masculinos. No caso de TENTAÇÃO PROIBIDA (1978), de Alberto Lattuada, a situação é ainda mais difícil para o protagonista, Giulio, vivido por Marcello Mastroianni, porque a garota que ele conhece é suspeita de ser sua filha, fruto do namoro que teve com a mãe da moça, vinte anos atrás. Os espectadores masculinos podem se identificar e sofrer um pouco com Giulio, já que a tal garota é vivida pela jovem Nastassja Kinski, linda como nunca, pouco antes de cair nas garras de Roman Polanski. No ano seguinte, ela faria TESS – UMA LIÇÃO DE VIDA, do diretor polonês.

Em TENTAÇAO PROIBIDA, Nastassja é Francesca, uma moça que se interessa pelo arquiteto Giulio. Um dos motivos de ela se interessar por ele, apesar da idade, é de ordem freudiana: em seu quarto há vários retratos de homens velhos famosos. Ela sente uma necessidade de se entregar a alguém mais velho, já que nunca conheceu o seu verdadeiro pai. Enquanto isso, o pobre Giulio fica se martirizando, sem saber o que fazer, achando que poderá estar cometendo incesto. Tal dramaticidade do enredo ganha tintas românticas com a trilha sonora do grande Ennio Morricone.

Outro elemento bastante atrativo é o fato de vermos a jovem Nastassja sem roupa, passeando pelo apartamento com total desenvoltura e orgulho do belo corpo. Uma cena de um café da manhã dos dois até faz lembrar uma famosa sequência de LUA DE FEL, do já citado Polanski, guardadas as devidas proporções. Mas a comparação não é gratuita, já que Francesca sensualiza com uma colher e a boca.

Apesar desses momentos eróticos e de nudez, que também incluem a irmã de Francesca, vivida por Ania Pieroni, que trabalharia em obras de Dario Argento e Lucio Fulci, o tom do filme é mesmo o de uma história de amor. TENTAÇÃO PROIBIDA, apesar de lidar com tabus e com o caso de um homem casado com uma moça que poderia ser sua filha, carrega consigo o espírito transgressor e libertário da década de 1970, que valoriza mais o amor e a liberdade do que as obrigações familiares impostas pela sociedade.

domingo, julho 28, 2013

WOLVERINE – IMORTAL (The Wolverine)























É tudo muito bonito quando está no papel, quando se tem boas intenções etc. A ideia de fazer um filme bem melhor que X-MEN ORIGENS – WOLVERINE, de Gavin Hood, era louvável. Afinal, com um resultado tão ruim no gosto dos fãs e dos críticos, aquele filme não fazia jus a um dos heróis mais populares e queridos do universo Marvel. Assim, criou-se um roteiro melhor e convidou-se um diretor que já transitou por diversos gêneros com habilidade. De dramas intimistas como COP LAND (1997) e GAROTA, INTERROMPIDA (1999) ao terror IDENTIDADE (2003); da cinebiografia JOHNNY E JUNE (2005) ao western OS INDOMÁVEIS (2007), passando pela aventura ENCONTRO EXPLOSIVO (2010), James Mangold parecia uma escolha de certa forma razoável para o que seria considerado o filme "definitivo" do herói mutante.

Havia também que se estabelecer um vínculo com o último filme da trilogia dos mutantes – X-MEN – O CONFRONTO FINAL e o próximo em que Logan estará presente, X-MEN – DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO, baseado no consagrado arco de Chris Claremont e John Byrne, e juntando o elenco de X-MEN – PRIMEIRA CLASSE com o da primeira trilogia. No mais, haveria certa liberdade para que os roteiristas e o diretor desenvolvessem uma boa e eletrizante aventura passada no Japão.

WOLVERINE – IMORTAL (2013) começa bem, com a participação de Logan (Hugh Jackman) como um prisioneiro de guerra dos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial em Nagazaki, momentos antes de a cidade ser atingida pela bomba atômica. De alguma forma ele sabe dos aviões com a bomba (como?, eu não sei) e salva um dos soldados japoneses da morte. Seus companheiros já estavam dando cabo de seus corpos praticando o seppuku, o suicídio sagrado e honroso. Provavelmente, para os japoneses mais tradicionais que viram o filme, a atitude do soldado que aceita a ajuda de Wolverine não deve ter sido muito bem vista.

O salto no tempo para os dias de hoje, quando Logan se esconde de tudo e de todos por causa dos eventos ocorridos em X-MEN – O CONFRONTO FINAL, mais exatamente a morte de Jean Grey (Famke Janssen, que aparece de vez em quando como fantasma/consciência do herói), é a prévia da aventura, que começa de verdade quando ele conhece a jovem Yukio (Rila Fukushima), que diz que o amigo que ele salvou na Segunda Guerra está prestes a morrer e quer se despedir do homem que o salvou da morte. Chegando lá, ele vê que as coisas não são bem assim.

Impressionante como há sequências que tinham tudo para ser eletrizantes e emocionantes, como a luta em cima do trem-bala, o relacionamento de Logan com a linda Mariko (Tao Okamoto), as lutas contra os ninjas levando em consideração o fato de ele ter perdido o fator de cura, e finalmente a luta contra um samurai gigante feito de adamantium, o mesmo material usado para constituir o seu esqueleto e suas garras. Infelizmente, tudo isso ficou apenas na boa vontade e em nenhum momento empolga. Ao contrário: ao optar por uma aventura de ação convencional, com trilha sonora genérica,  o filme é capaz de dar sono a quem já viu algo parecido centenas de vezes.

WOLVERINE – IMORTAL tem sim os seus méritos. O visual é um deles, principalmente com a entrada em cena dos ninjas mostrados de maneira inteligente pela câmera de Mangold. Mas o essencial, que é empolgar como um bom filme de super-heróis, isso não acontece. Infelizmente está sendo cada vez mais raro ver nos cinemas filmes de super-heróis com resultado realmente animador, por mais que a demanda por esse tipo de produção seja crescente e gere cada vez mais lucros.

sábado, julho 27, 2013

AMOR PLENO (To the Wonder)























Um filme como AMOR PLENO (2012) é um objeto completamente estranho na programação de um cinema de shopping. Especialmente no mês de julho. Por isso a rejeição que causa aos desavisados. AMOR PLENO é cinema-poesia, algo que raramente se faz, quando a tendência é o cinema-prosa, o cinema em que se conta uma história como em um romance. A história neste filme de Terrence Malick, no caso, é o que menos importa. Quem viu A ÁRVORE DA VIDA (2011) já sabe mais ou menos o que esperar, embora se trate de um filme menos ambicioso em diversos aspectos.

Algumas coisas incomodam, como o fato de Ben Affleck não dizer uma palavra sequer na língua de sua namorada/noiva. Aliás, ele mal fala durante o filme inteiro. E quando responde uma pergunta em francês da garotinha, ele responde em inglês. Isso pode ser visto como uma tendência do americano em rejeitar a língua estrangeira, mas no filme acaba ganhando outra conotação: a da dificuldade de comunicação e sintonia entre os personagens de Affleck e Olga Kurylenko. A atriz ucraniana, aliás, nunca esteve tão linda. (Se esteve, desconheço.)

Como se trata de cinema-poesia, AMOR PLENO tende a gerar percepções e impressões ainda mais diversas nos espectadores. Eu, por exemplo, vejo a imagem da mulher no filme muito mais natural, mais pertencente harmonicamente à natureza do que o homem, que parece sempre uma criatura perdida e hesitante. A hesitação, inclusive, é citada pelo personagem de Javier Bardem, que vive um padre em crise de fé. Ele afirma que a pessoa que hesita deixa a vida passar. E é assim que se mostra o personagem de Affleck, que se comporta sem saber o que fazer com as duas mulheres que passam por sua vida (a outra é Rachel McAdams, antiga paixão da mocidade).

A mulher, diferente do homem, quer amar de maneira plena; tem certeza de que quer viver fortemente a vida. E o curioso é o modo como Malick mostra esse sentimento, sem recorrer aos tradicionais diálogos naturalistas. Às vezes a situação não fica tão convincente, como nas cenas em que vemos os casais brigando. Se a música não fosse um elemento tão forte e presente para constituir uma obra tão cheia de reverência à vida, ao amor e à fé, AMOR PLENO poderia ser, sem problemas, um filme mudo. Mas as palavras, muitas vezes sussurradas em voice-over, também têm grande importância.Assim como as várias vezes em que a câmera se aproxima dos personagens, como se quisesse adentrar seus espíritos, mas encontrando sempre a barreira física.

O mundo físico, da natureza, dos filmes de Malick, que sempre têm um pé no plano metafísico, encontrou a espiritualidade de fato em A ÁRVORE DA VIDA, mas aqui novamente encontramos espíritos presos ao mundo material. O uso frequente da câmera aproximada passa um ar de amor aos personagens, mesmo aqueles que aparecem uma única vez, como os presidiários e as pessoas enfermas. Como se fosse a visão de Deus perante as almas sofridas.

Diferente de A ÁRVORE DA VIDA, em que a religiosidade é vista de forma mais explícita em sua conclusão, aqui os personagens são entregues a seus tristes destinos, como se estivessem totalmente abandonados por Deus. Por isso a solidão é um elemento tão presente. E talvez por isso AMOR PLENO seja um filme que tenda a crescer em nossa memória afetiva. Ter a chance de vê-lo em película é uma oportunidade que não se deve desperdiçar.

quinta-feira, julho 25, 2013

SE... (If...)

 

A primeira vez que vi SE... (1968), de Lindsay Anderson, foi lá pela virada dos anos 1980 para os 1990, quando foi exibido pela primeira vez na Rede Globo junto a outros filmes de prestígio. Lembro de ter gostado do filme, mas não sabia as razões. A revisão não resolveu muito bem a situação e talvez tenha gostado mais naquela época em que as obras de vanguarda que via eram mais misteriosas à minha compreensão do que atualmente, quando vejo os filmes, na maioria das vezes, procurando um entendimento racional ou uma lógica através dos bastidores.

A primeira coisa que eu lembrei quando vi o bando de alunos subindo as escadas caoticamente no início do filme, muitos deles, novatos, foi justamente o início de um de meus filmes favoritos, SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Há, também, outra cena que remete ao filme de Peter Weir, mas ela acontece lá pelo final, quando os três rebeldes do grupo liderado pelo personagem de Malcolm McDowell, recebem pauladas nos glúteos por insubordinação.

Mas as semelhanças param por aí, pois SE... está muito mais distante do classicismo americano e do romantismo do filme de Weir. Há aqui uma conexão direta com o espírito rebelde da época. 1968 é um ano emblemático na história do mundo ocidental. No mesmo ano, saiu o "Álbum Branco" dos Beatles, com John Lennon cantando "Revolution 1". Foi também o ano das manifestações de Maio de 68 na França. Enfim, SE... não é apenas um filme que recebeu ecos daquele ano, mas que foi concebido nele.

O filme se passa em uma escola privada burguesa e enfatiza a ordem estabelecida que deve ser cumprida sem nenhum questionamento. SE... também mostra aqueles alunos sêniors que chegaram a uma posição de prestígio e usam seu poder de autoridade para humilhar ou mesmo agir de maneira amoral, como quando um deles convida um novato para ser seu servo, com intenções pedófilas.

SE... também se passa em um período em que a escola passou a ser questionada como o lugar adequado para a obtenção da educação e conhecimento. Não deixa de ser incrível que, mesmo depois de passado tanto tempo, ela tenha resistido, ainda que aos trancos e barrancos, principalmente depois do advento da internet, cada vez mais sugando o pouco que resta da capacidade de concentração dos estudantes. O caos em uma escola atual pode visto, por exemplo, em ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, de Laurent Cantent. Que é quase um inferno na Terra para um professor. E um filme que ganhou a Palma de Ouro curiosamente 40 anos após SE... ter ganhado.

Mas SE... não procura trazer um registro realista ou com tons documentais como o filme francês. Alguns momentos parecem sonhos, como aquele em que o personagem de McDowell e o amigo saem da escola, roubam uma moto em uma loja e conhecem uma garçonete, que apareceria como uma guerrilheira no capítulo final do filme. É, definitivamente, uma ode à rebeldia, mas um tipo de rebeldia que não propõe nada além de destruir a instituição vigente. Praticamente um gesto de revanche.

quarta-feira, julho 24, 2013

O LUGAR ONDE TUDO TERMINA (The Place Beyond the Pines)























Depois de NAMORADOS PARA SEMPRE (2010), Derek Cianfrance ganhou visibilidade mundial, com seu registro próximo do documental mostrando, muito de perto, o declínio de um relacionamento afetivo. Essa relação de proximidade com o documentário pode ser entendida uma vez que conferimos sua filmografia, com vários documentários em curta e longa-metragem e poucos filmes de ficção. Em geral, diretores que lidam bastante com o documentário, como Werner Herzog, por exemplo, acabam por fazer filmes de ficção bem interessantes e realistas.

Na história em três atos, ou tríplice história, já que os protagonistas mudam ao longo de O LUGAR ONDE TUDO TERMINA (2012), esse registro permanece presente, como na sensacional perseguição da policia ao assaltante de bancos vivido por Ryan Gosling. A cena, que mostra ele com um pneu da motocicleta furado e a câmera tremida do ponto de vista da viatura o seguindo, faz lembrar um desses programas policiais. As três histórias são contadas em três diferentes perspectivas, mas sem nunca perder o foco e a personagem de Eva Mendes é uma espécie de denominador comum de todas elas.

O filme começa com a história de Luke, um homem que ganha a vida em um circo itinerante dirigindo motocicleta em um globo da morte. Tudo muda quando ele, ao passar por uma cidadezinha do interior de Nova York, reencontra uma mulher (Eva Mendes) com quem havia tido uma rápida relação algum tempo atrás. Ao descobrir que tem um filho com ela, passa a querer mudar de vida. Desiste da vida que leva e resolve permanecer naquela cidade, mesmo não tendo outra coisa para fazer e nem dinheiro para bancar os custos do filho.

A simpatia com que Cianfrance lida com Luke, um personagem marginal e sempre aparecendo com camisetas rasgadas, com tatuagem em todo o corpo e uma vontade imensa de ter uma família, mesmo que para isso assalte bancos, faz com que o cinema do diretor se assemelhe em alguns aspectos ao cinema de Nicholas Ray, também famoso por passar um amor pelos tipos marginalizados e fracassados. E por mais que Gosling ainda carregue, em sua interpretação, um pouco do personagem cool de DRIVE, de Nicolas Winding Refn, há aqui um diferencial, uma busca por mais crueza, tanto em seu visual quanto em todo aquele universo pobre que o cerca. Mais uma vez podemos "culpar" a experiência de Cianfrance com os documentários.

A surpresa da entrada em cena de Bradley Cooper e a mudança de foco para o seu personagem faz com que entendamos também o seu drama, especialmente quando ele percebe a corrupção na polícia. Ele, como jovem policial, mas já aclamado como um herói, passa a sofrer com a pressão psicológica de lidar com o sentimento de culpa, de se espelhar na figura de Luke, por causa do filho de um ano. O grande momento deste ato do filme é a sequência em que o personagem de Ray Liotta (especializando-se em bandidos e homens de caráter duvidoso) o leva para o "lugar além dos pinheiros" do título original.

E já que falei de Bradley Cooper, tirando um pouco o fator-surpresa, que é tão importante para a apreciação de O LUGAR ONDE TUDO TERMINA, não custa deixar registrado a grandeza da performance do jovem Dane DeHaan, que já havia se mostrado um ótimo ator em PODER SEM LIMITES, de Josh Trank, mas que aqui, saindo do cinema fantástico para o cinema realista contemporâneo, aparece como um gigante em sua interpretação. No filme de Cianfrance, ele é o responsável por fechar uma história de tragédias familiares e a câmera do diretor o segue com um amor e um respeito semelhante ao mostrado nos dois primeiros atos. O que só acentua o caráter humanista de Cianfrance no trato com seus personagens.

Outro detalhe que merece ser destacado é a música de Mike Patton, mais conhecido como o vocalista do Faith No More, que utiliza uma trilha sonora muitas vezes perturbadora, que dá o tom necessário para a criação de uma atmosfera de desencanto que o filme propõe e, muito inteligentemente, constrói. Por isso, não seria exagero dizer que O LUGAR ONDE TUDO TERMINA é um dos melhores e mais bem-vindos lançamentos do ano.

terça-feira, julho 23, 2013

O CONCURSO

 

Quem gostou de VAI QUE DÁ CERTO, uma das melhores comédias brasileiras dos últimos anos, até pode ficar um pouco esperançoso com O CONCURSO (2013), estreia no cinema de Pedro Vasconcelos, diretor de programas de televisão da Rede Globo desde os anos 1990. Infelizmente o que há de comum entre os dois filmes é apenas a presença de Danton Mello e Fábio Porchat, que continuam muito bons no que fazem, mas, com um roteiro fraco e piadas que nem sempre funcionam, acabam sendo subutilizados.

Ainda assim, O CONCURSO é diversão escapista agradável de ver, caso não se espere nada além de uma comédia besteirol. O filme brinca com estereótipos de quatro finalistas de um concurso para juiz federal. Um vem de Minas Gerais (Rodrigo Pandolfo), outro do Ceará (Anderson De Rizzi), outro do Rio Grande do Sul, mais exatamente de Pelotas (Fábio Porchat), e o outro é do Rio de Janeiro (Danton Mello). Assim, o mineiro é tímido, o cearense é supersticioso e religioso (às vezes lembra mais o perfil de um baiano), o gaúcho é gay e o carioca é malandro.

Não cheguei a acompanhar muitas críticas, mas o filme deixa margem para que boa parte dos espectadores critique a visão estereotipada, principalmente em relação aos gays, e também as piadas envolvendo anões e mulher gostosa - a propósito, Sabrina Sato estreia nos cinemas no papel de uma mulher que tem fixação pelo tímido personagem de Rodrigo Pandolfo. Chega a dar um pouco de saudade do que se fazia nas pornochanchadas das décadas de 70 e 80, quando se podia ir mais longe com esse tipo de piada.

Uma vez que os personagens são devidamente apresentados, e de maneira bastante divertida até, o filme se encarrega de fazê-los participar da aventura de viver um fim de semana no Rio de Janeiro em busca de um gabarito da prova com chefes de quadrilhas nos morros cariocas. Um dos melhores momentos é quando o personagem de Danton Mello põe droga em três de quatro copos de refrigerante para fazer com que todo mundo fique muito louco em um baile funk.

Sabrina Sato até se esforça, mas sua subtrama com Pandolfo é a que menos funciona no filme. A cena de Porchat travestido junto com um grupo de drag queens também não chega a ser nada inteligente. Por outro lado, a cena de De Rizzi em um terreiro de umbanda não deixa de ser bem divertida. Já Danton Mello está bem à vontade no papel do malandro carioca. Ele parece não se esforçar muito para compor o seu personagem e por isso é o que fica menos próximo de uma caricatura.

Este SE BEBER NÃO CASE brasileiro até tem o seu charme e é simpático o suficiente para sairmos do cinema sem ficarmos muito incomodados. Talvez por já vermos muitas comédias brasileiras recentes capazes de nos deixar bem constrangidos. Não é o caso de O CONCURSO, que é, aparentemente, inofensiva, embora isso também possa ser questionado, levando em consideração justamente os estereótipos. De todo modo, não sou eu quem vai jogar pedra no filme.

segunda-feira, julho 22, 2013

REENCONTRANDO A FELICIDADE (Rabbit Hole)























Quando vi HEDWIG – ROCK, AMOR E TRAIÇÃO (2001) nos cinemas, na época de sua exibição, fiquei bastante animado com o filme e interessado na filmografia de seu diretor, John Cameron Mitchell. O problema é que ele demorou demais a dirigir outro filme e, apesar das atrativas polêmicas sexuais, acabei não vendo, até agora, SHORTBUS (2006). Até porque não foi um filme que foi exibido por aqui. Caso semelhante ocorreu com REENCONTRANDO A FELICIDADE (2010), seu terceiro longa, com a diferença que, agora, vários amigos elogiaram o filme, a ponto de eu ficar bem mais curioso para conferi-lo.

E, de fato, REENCONTRANDO A FELICIDADE é um belo filme, que tem um intimismo feminino que até lembra obras de escritoras como Clarice Lispector e Virginia Woolf. A personagem de Nicole Kidman, Becca, é uma mãe que sofre com a perda ainda recente do filho pequeno e seu casamento passa a entrar em crise, apesar de o marido Howie (Aaron Eckhart) tentar colocá-lo novamente nos trilhos, a começar por tentativas de restabelecer a vida sexual perdida.

Mas o filme não se prende apenas à Becca. O narrador onisciente também acompanha os passos de Howie, que começa a ter uma relação mais próxima com uma mulher (Sandra Oh) que frequenta com eles um grupo de terapia com pessoas que perderam um ente querido. Há também a relação bastante incômoda de Becca com sua mãe (Dianne Wiest). No entanto, o que mudará o comportamento de Becca é o encontro dela com o rapaz que foi de certa forma responsável pela mudança (pra pior) na vida da protagonista. Os diálogos dos dois em um parque estão entre os mais sensíveis e emocionantes de todo o filme, que trata tudo com uma emoção à flor da pele, sem, no entanto, abraçar de corpo inteiro o registro do melodrama. Cameron Mitchell prefere a sutileza.

O filme é baseado em uma premiada peça da Broadway, de 2006, e despertou o interesse de Nicole Kidman, aqui atuando pela primeira vez como produtora. O roteiro acabou caindo nas mãos do diretor John Cameron Mitchell, que, por ter perdido um irmão de dez anos de idade, sabe como é a dor que é ter que seguir em frente sentindo a falta do ente querido. REENCONTRANDO A FELICIDADE mostra duas maneiras de encarar a falta do filho: seja em busca de negar ou esquecer o acontecido, como faz Becca, seja revendo todos os dias um vídeo com a criança, caso de Howie. De uma forma ou de outra, ambos lidam com a dor, e o filme trata o assunto com propriedade.

quinta-feira, julho 18, 2013

SHARKNADO























Orçamento estimado do telefilme SHARKNADO (2013): um milhão de dólares. Orçamento estimado de O CAVALEIRO SOLITÁRIO: 250 milhões. O primeiro é uma grande bobagem, mas divertida pra caramba. E teve uma repercussão inesperada nas redes sociais quando de sua exibição no canal SyFy. Produção da Asylum, famosa por produzir picaretagens sem medo e sem vergonha de ser feliz. Já O CAVALEIRO SOLITÁRIO, que gastou 250 vezes o que gastou a produção da Asylum, é uma chatice estufada que serviu para os executivos da Disney quebrarem a cara e pensarem duas vezes na hora de investir tanto com essa turminha de PIRATAS DO CARIBE. Mas deixemos para outro dia o filme de Verbinski. Falemos dessa coisa, digamos, impressionante, que é SHARKNADO.

O que chama a atenção nesta modesta produção da Asylum é o absurdo da situação: juntar num mesmo filme tornados e tubarões. E além de a ideia em si ser absurda, há várias situações também absurdas, o que só torna o filme mais interessante, o que não quer dizer que seja necessariamente bom. Seria o caso de filme que, de tão ruim, chega a ser bom. Ou quase. Afinal, é preciso relevar um monte de coisas para embarcar nessa viagem maluca protagonizada por Ian Zering, o Steve, de BARRADOS NO BAILE.

Curiosamente, o primeiro nome que aparece nos créditos não é o dele, mas de Tara Reid, que se mostra impressionantemente perdida no filme. Ambos são astros decadentes, mas Zering está muito à vontade em seu papel, enquanto Tara parece estar se sentindo uma grandissíssima idiota de tão canastra. Além de Zering, vale destacar Cassie Scerbo no papel da garçonete Nova, que, segundo as palavras do próprio personagem de Zering, fica gostosa (hot) sempre que usa uma arma de fogo para matar um tubarão.

A trama, além de mostrar jovens perseguidos por tornados e tubarões, dá espaço também para lidar com os problemas familiares do personagem de Zering, separado de Tara, que não quer vê-lo, nem quer que ele visite a filha (Aubrey Peeples, na foto, prestes a ser comida por um tubarão). Na verdade, esse pequeno detalhe serve apenas para dar um pouco de humanidade aos personagens, o que quase funciona. O que importa mesmo é se divertir com as situações rocambolescas do filme, que só se acumulam até o seu grandioso final, envolvendo uma motosserra.

Não sei se o mundo vai ser um lugar melhor para viver com filmes como esse, mas com certeza esse tipo de produção despretensiosa faz muita gente rir. O que não precisamos é de filmes como aquele que eu citei como exemplo de superfaturamento e de ladrão de nosso tempo e dinheiro.

quarta-feira, julho 17, 2013

UNIVERSIDADE MONSTROS (Monsters University)























Depois de duas continuações de sucessos populares, TOY STORY 3 (2010) e CARROS 2 (2011), até se poderia dizer que a Pixar estava secando o seu poço de criatividade, por mais que TOY STORY 3 seja um filme bastante querido. Uma ideia original veio com com VALENTE (2012), uma aproximação dos contos de fadas clássicos da Disney, que, no entanto, não foi tão bem visto pelos fãs da produtora. UNIVERSIDADE MONSTROS (2013) é uma volta a um universo familiar da Pixar com os personagens de MONSTROS S/A (2001). Novamente, a companhia apela para personagens recorrentes para capitalizar. E com a vantagem de não precisar caprichar tanto assim em detalhes, como aconteceu com VALENTE.

Porém, é bastante bem-vindo este prelúdio que conta o início da amizade dos monstros Mike e Sullivan, especialistas em assustar criancinhas. A própria ideia de uma universidade em que se aprende a dar sustos e que mostra uma série de arquétipos do comportamento dos jovens em universidades não deixa de ser bastante criativa. Claro que não dá pra mostrar coisas mais pesadas, como sexo e drogas, afinal é uma animação para crianças, mas tudo funciona muito bem. Principalmente a partir do momento em que Mike e Sullivan passam a se aliar por um objetivo em comum.

O filme inicialmente mostra o pequeno e empolgado Mike chegando à tão sonhada Universidade Monstros, lugar em que ele poderia estudar com afinco o ato de assustar até se tornar um monstro respeitável. Por outro lado, o grandalhão Sullivan tem uma postura bem mais relaxada em relação à faculdade. Para ele, não se aprende a assustar em livros. E por isso ele age com irreverência, a ponto de praticar bullying no pequeno Mike. É agradável ver a amizade dos dois se formando depois de ambos se mostrarem rivais.

Assim como também é divertido acompanhar os jogos que decidirão se eles poderão voltar à universidade depois de uma situação que os expulsou. Suas chances estão em vencer os jogos de assustar, tendo com eles um grupo de monstrinhos inofensivos e sem a menor malícia para vencer os demais participantes, muito mais agressivos. Com a inteligência de Mike e a esperteza de Sullivan, aos poucos eles vão conseguindo superar os obstáculos. Assim, além de ser sobre a amizade, UNIVERSIDADE MONSTROS é também sobre a superação, numa espécie de variação dos filmes de esportes. Em ambos os aspectos, o diretor Dan Scanlon é bem-sucedido, e é possível perceber a plateia do cinema torcendo, como num emocionante jogo, pelos nossos heróis monstruosamente simpáticos.

Antes do filme começar, vemos uma animação em curta-metragem muito bonita, que lembra um pouco o romantismo de O AVIÃO DE PAPEL (2012), de John Kahrs, que foi exibido antes de DETONA RALPH. Trata-se de O GUARDA-CHUVA AZUL, de Saschka Unseld. Ambos os curtas mostram o universo conspirando magicamente para que um casal se encontre, apesar das dificuldades impostas pela vida. Em O GUARDA-CHUVA AZUL, vemos um casal de guarda-chuvas que são levados por seus donos em uma noite chuvosa e se apaixonam um pelo outro. Há uma poesia no filme que impressiona, com a humanização de objetos que se tornam coparticipantes do encontro dos dois guarda-chuvas. Cheio de ternura, O GUARDA-CHUVA AZUL antecipa os corações de crianças e adultos para as emoções de UNIVERSIDADE MONSTROS.

segunda-feira, julho 15, 2013

CORPOS ARDENTES (Body Heat)























Um dos baratos do cinema e que o torna cada vez mais viciante é o modo como alguns filmes são conectados a outros, formando hipertextos. Assim, logo que eu me deliciei com PACTO DE SANGUE, de Billy Wilder, deu logo vontade de rever CORPOS ARDENTES (1981), visto na época de minha pré-cinefilia na televisão. Quer dizer, já fazia tanto tempo que eu vi o filme, que pouco havia ficado em minha memória. Talvez apenas a cena de William Hurt jogando uma cadeira no vidro da casa da personagem de Kathlenn Turner, que na época (início dos anos 80) era uma das mais sensuais atrizes de Hollywood. CORPOS ARDENTES foi sua estreia no cinema.

Foi também a estreia de Lawrence Kasdan na direção. Os filmes de Kasdan merecem ser redescobertos. O cineasta teve sua carreira naufragada com o fiasco de O APANHADOR DE SONHOS (2003). Ele deve ter ficado bastante traumatizado, pois só voltou a dirigir no pouco badalado QUERIDO COMPANHEIRO (2012), que conta com um de seus atores preferidos, Kevin Kline. William Hurt também é um ator bastante presente em sua filmografia e sua performance como o advogado seduzido pela mulher casada vivida por Kathleen Turner é brilhante.

Uma espécie de remake de PACTO DE SANGUE, CORPOS ARDENTES traz muitos elementos do film noir para o que seria chamado neo noir, o estilo das décadas de 40 e 50 repaginado para os anos 80 e que se faria presente em uma das obras mais representativas desta década, BLADE RUNNER – O CAÇADOR DE ANDRÓIDES, de Ridley Scott. Uma das principais diferenças entre PACTO DE SANGUE e CORPOS ARDENTES é a apresentação do sexo.

Se PACTO DE SANGUE tinha que se esquivar de cenas mais explícitas denunciando o adultério dos personagens principais, CORPOS ARDENTES já não tinha mais esse problema. O início dos anos 80 chegou com uma carga libertária que só diminuiria com o advento da AIDS. Até então, foi um período fértil para ousar em cenas sensuais. Tanto que detalhes da intimidade dos dois impressionam até hoje. Sem falar que Kathleen Turner estava mais linda do que nunca com os seus 27 anos de idade.

Há também uma diferença no registro da dramaturgia. Se o filme de Wilder trabalhava bastante com a narração em voice-over, aproximando-se bastante da literatura pulp, CORPOS ARDENTES tem um registro mais moderno, conseguindo criar uma atmosfera de sedução e perigo sem precisar explicitar os pensamentos do personagem de Hurt. Não que eu queira dizer que é um filme melhor. Não é. Mas não deixa de ser uma obra cheia de brilho com uma direção acertada de Kasdan.

A tal cena da explosão de desejo que faz com que o advogado vivido por Hurt destrua o vidro da mansão da femme fatale para a primeira noite de sexo é muito bem coreografada, com a aproximação e o distanciamento da câmera para enfatizar o desejo irrefreável do personagem. Há também um interessante uso do calor na trama e nas imagens como uma das justificativas para deixar a cabeça dos personagens ainda mais perturbada, além de aumentar o nível de sensualidade das cenas. Curiosamente, há também momentos que se passam em meio a uma neblina, como nas sequências que envolvem o assassinato do marido. Eis um filme que valeu demais ter revisto, agora com qualidade HD.

domingo, julho 14, 2013

PACTO DE SANGUE (Double Indemnity)























A Segunda Guerra Mundial deixou um rastro de pessimismo no mundo todo. Se os Estados Unidos não partiram para algo tão radical quanto a Itália e seu Neorrealismo, a seu modo, e principalmente pela visão de cineastas estrangeiros trabalhando em Hollywood, formou-se um estilo que marcaria boa parte da cinematografia americana e que seria reflexo dos tempos sombrios daquela época. PACTO DE SANGUE (1944) é considerado um dos primeiros film noirs, que abriria as portas para esse estilo que valorizava luz e sombras, principalmente as sombras.

PACTO DE SANGUE é bastante representativo desse subgênero por trazer elementos comuns a outros filmes que viriam, como a figura da femme fatale, de nos colocar no lugar de um criminoso, de fazer uso das literaturas baratas policiais. No início, o filme foi bastante ousado, transgressor até, embora os textos-fonte já fossem sucesso popular desde a década de 1930. Mas o filme, além da certeira direção de Billy Wilder, ainda conta com a ajuda do escritor Raymond Chandler no roteiro, adaptando de maneira poética a novela de James M. Cain.

O meu interesse repentino para ver PACTO DE SANGUE, obra básica, que todo cinéfilo que se preze deve ver logo nos anos iniciais, veio finalmente com a leitura de História do Cinema, delicioso livro de Mark Cousins. Lembrei que tinha cópia do DVD da Versátil, que ainda conta com um ótimo documentário sobre o filme e sua influência sobre os vários filmes do gênero posteriores. Mas principalmente sobre seu valor, sobre os bastidores, só aumentando ainda mais a impressão já intensamente rica que o filme nos deixa, com aquele final amargo e arrepiante.

Outro destaque importante do filme é a excelente fotografia de John F. Seitz, que trabalharia com Wilder ainda em FARRAPO HUMANO (1945) e em CREPÚSCULO DOS DEUSES (1950). No documentário, destacam o uso da luz passando pelas frestas e deixando, inclusive, aquela poeira, que ele conseguiu através de um artifício especial. Infelizmente esse detalhe eu não percebi vendo o filme em DVD. Provavelmente é bem mais visível na telona ou em uma cópia HD. A própria Barbara Stanwyck dizia que a fotografia ajudou bastante no resultado de sua atuação, como a mulher que seduz o vendedor de seguros vivido por Fred McMurray a fazer um crime: matar o marido dela de uma forma que pareça acidental e ambos recebam uma boa quantia em dinheiro.

Mas, como já é de se prever, as coisas não são tão simples assim, por mais que todo o planejado até a morte do homem funcione. O mais difícil é passar impune pela polícia e principalmente pelo homem esperto que trabalha na seguradora, vivido pelo sensacional Edward G. Robinson. Não só ele. Há também a filha do falecido, que suspeita da madrasta. Uma coisa que William Friedkin destaca, no documentário, é a voice-over do protagonista comentando que, naquela manhã, logo após efetuar o crime, ele não conseguia sentir os pés enquanto caminhava. Era a caminhada de um homem morto.

E de fato o filme passa todo o desespero da situação. Se antes havia amor por parte dele pela mulher, com aquela angústia o comendo por dentro, o que ele mais queria era sua vida de volta. Mas quem diria que no final o que predominaria não seria o amor dele pela femme fatale, mas o amor do amigo que trabalhava com ele, num dos melhores diálogos sobre a amizade entre dois homens que deixaria Hawks com inveja. Ou pelo menos comovido.

É terminar de ver PACTO DE SANGUE e ficar apaixonado pelo filme. E nem precisa ser necessariamente fã de Billy Wilder para isso, muito embora o respeito pelo seu trabalho só aumente. Ao pegar um pouco do expressionismo alemão aqui, das literaturas pulp ali e de influências dos filmes de suspense de Alfred Hitchcock, Wilder fez um filme que rivaliza fácil com algumas das melhores obras do mestre do suspense.

sábado, julho 13, 2013

AQUI, TARADOS!

 

Essas antologias regadas a sexo e produzidas, em sua maioria, nos bons tempos da Boca do Lixo, renderam belos exemplares. Como foi o caso de AS SAFADAS, de Carlos Reichenbach, Inácio Araújo e Antônio Melliande; A NOITE DAS TARAS, de John Doo, David Cardoso e Ody Fraga; PORNÔ!, de Luiz Castellini, David Cardoso e John Doo; ou, partindo para outro grupo de cineastas, o bem menos carregado de sexualidade gráfica CONTOS ERÓTICOS, de Roberto Santos, Roberto Palmari, Eduardo Escorel e Joaquim Pedro de Andrade. Mas é da turma da Boca, especialmente da Dacar, empresa de David Cardoso, que nasceu este AQUI, TARADOS! (1981), uma versão bem mais transgressora e sombria dessas antologias, embora não seja, em sua totalidade, tão bom quanto AS SAFADAS ou A NOITE DAS TARAS.

Mas há algo em AQUI, TARADOS! que faz a diferença e o torna, de certa forma, uma pequena joia: o segmento "O Pasteleiro", de David Cardoso, estrelado por John Doo e a bela e sensualíssima Alvamar Taddei. Como já dá para prenunciar desde o começo, os tais pastéis especiais produzidos pelo chinês vivido por Doo, só podem ser feitos da carne de suas vítimas. Aí, cria-se uma tensão constante desde o momento em que o maníaco leva a prostituta vivida por Alvamar para sua casa e fica enrolando a moça até conseguir o que quer. O mais importante, portanto, não é a história, mas o modo como ela é contada. E também a própria criação do personagem de Doo, genialmente diabólico. E, nisso, temos de dar os parabéns a David Cardoso, que assina a direção desta pequena joia da cinematografia brasileira, que pode, inclusive, ser vista como um dos maiores representantes do horror nacional.

Os outros segmentos perdem feio na comparação, embora o primeiro, "A Tia de André", de John Doo, carregue em sua essência não apenas o tabu de transar com a própria tia (Sônia Garcia), quando se é adolescente, mas principalmente o tesão de ter aquela idade, estar com os hormônios à flor da pele e estar ao lado de uma mulher muito gostosa. A narração em voice-over dos pensamentos do jovem rapaz, desde que pega a tia no aeroporto, até o momento em que consegue ir pra cama com ela, é também outro ponto positivo e dá um ar de bem-vinda sem-vergonhice ao segmento, que tem uma trama bem simples.

Já o segundo, "A Viúva do Dr. Vidal", de Ody Fraga, é o mais fraco. O segmento não chega a ser minimamente excitante. A não ser que alguém curta a ideia de transar do lado de um cadáver. Na trama, uma viúva (Zaira Bueno) manda todo mundo sair do velório e fica com apenas o defunto e um amigo dele. Lá, ela pretende se vingar de todos os anos que sofreu com o cafajeste do marido, fazendo sexo com outro homem em pleno velório. O que há de interessante neste segundo segmento é o fato de trazer um pouco mais de elementos sombrios e preparar terreno para "O Pasteleiro", este sim, difícil de esquecer.

sexta-feira, julho 12, 2013

SEDE DE SANGUE (Bakjwi / Thirsty)























Enquanto SEGREDOS DE SANGUE (2013), a primeira incursão de Park Chan-wook em Hollywood, não chega em Fortaleza (se é que vai chegar), fui de SEDE DE SANGUE (2009), que não chegou por estas terras também, e que até foi lançado em DVD recentemente. O barato de ver essas experimentações com mitologias ocidentais reinventadas por orientais, principalmente por japoneses e coreanos, é ver o quanto eles se sentem à vontade para fazer o que bem entendem com os costumes, as religiões e as criaturas do Ocidente. A começar por trazer um tipo de vampiro que também é padre.

Em um tempo em que já saiu de moda vampiros terem medo de cruz e de água benta, nada mais curioso do que ver um sacerdote cristão transformado em vampiro, tendo que sobreviver chupando o sangue dos pacientes que estão em coma no hospital, para não ter que se sair matando gente por aí. Song Kang-ho, rosto conhecido de filmes como O HOSPEDEIRO e MR. VINGANÇA (2002), este último também de Park, é o padre Sang-hyeon, um homem devotado que se submeteu a um experimento médico e se tornou uma espécie de vampiro. Se ele não se alimentar de sangue logo, começam a se formar grandes verrugas em seu corpo.

Mas o melhor do filme acontece a partir do momento em que o padre passa a ter um caso com uma jovem mulher casada, Tae-ju (Kim Ok-bin). A primeira relação sexual dos dois, por exemplo, é bastante excitante. E ela vai se revelando uma mulher cada vez mais ousada, até por não gostar do marido, doente, e se achar tão atraída por aquilo que torna aquele sacerdote tão diferente.

Um dos maiores méritos de SEDE DE SANGUE está em seu visual belíssimo. Há uma sequência em que o padre está junto com a mulher e seu marido em um barco. O lugar parece deliciosamente artificial, como uma pintura moderna representando um sonho. Como o padre não pode sair durante o dia, quase todos os momentos do filme acontecem à noite. E esta noite é também pintada de maneira muito bonita, em especial quando vemos as ruas desertas e o vampiro voando ou saltando pelos cantos.

O fantástico do filme também ganha pontos com o uso da violência e do sangue espirrando pelos cantos. E como a narrativa é um tanto lenta, alguns momentos são verdadeiramente surpreendentes. A cena da transformação de Tae-ju em vampira é igualmente inspirada. Ao contrário da maioria dos filmes de vampiros, em que esses seres já aparecem com dentes caninos bem protuberantes e prontos para atacar a vítima, o vampiro de Park precisa se esforçar um pouco mais para furar a pessoa e poder sugar o seu sangue. Em certo momento, ele rasga as línguas dos dois para que ela possa sugar o seu sangue também. A violência, por ser estilizada, não chega a chocar, dada a sua beleza. Muitas vezes o sangue espirradondo parece um balde de tinta sendo derramado em uma tela. E o diretor não precisa se apegar o tempo todo a uma trilha musical para construir uma atmosfera de terror ou suspense.

Legal que Park Chan-wook tenha voltado a ser centro das atenções aqui no Ocidente. Tanto por causa de SEGREDOS DE SANGUE, quanto pelo remake de OLDBOY (2003), a ser lançado em breve, com direção de Spike Lee. Mas o legal mesmo seria se voltassem a lançar com frequência em salas brasileiras produções asiáticas, como ocorreu na primeira metade dos anos 2000, com a popularização dos filmes de horror e afins produzidos no Oriente.

quinta-feira, julho 11, 2013

MARCELO CAMELO – MORMAÇO























O DVD MARCELO CAMELO – MORMAÇO (2013) é constituído de duas partes: uma é o show acústico de Marcelo Camelo, AO VIVO NO THEATRO SÃO PEDRO, que rendeu também um CD, com menos faixas do que as presentes no DVD; e a outra parte é o documentário em curta-metragem DAMA DA NOITE, de Jack Coleman. Este documentário é bem descartável. É constituído basicamente de imagens caseiras com alguns efeitos meio bestas para passar uma impressão "artística". Ora tenta emular um filme velho e arranhado, ora mostra imagens borradas. Não sei quem é esse Jack Coleman, mas eu nem quero saber o que esse sujeito faz da vida.

Quanto ao show, no começo confesso que não estava gostando muito do registro só em voz e violão do Camelo, mas aos poucos fui gostando. Principalmente a partir da segunda metade. Como já vi show dele com a banda Hurtmold e pude presenciar uma maravilha no tratamento de som, uma busca por algo mais rústico (ainda que cuidadosamente límpido) diminui um pouco o impacto de algumas canções que dependem bastante da banda e dos metais. Mas, das vezes que participa da apresentação com rabeca e batedeira, Thomas Rohrer manda muito bem. Tanto é que, na canção que finaliza o show, "Além do que se vê", fase Los Hermanos, ele substitui os metais de maneira linda. De arrepiar mesmo.

Mas, antes de chegar a este momento lindo da apresentação, podemos lembrar de outros destaques. Um deles é "Porta de cinema", bela canção composta pelo avô de Camelo, Luiz de Souza. A utilização do termo "morena" dedicado à suposta amada da canção pode ter sido uma influência para Camelo e combina muito bem com sua poética. As outras faixas inéditas, compostas por Camelo, são "Luzes da cidade" (muito boa) e "Dois em um" (preciso ouvir novamente para checar).O DVD também dá a chance de se ter um registro "oficial" do Camelo cantando "Cara valente", até então só existente na voz de Maria Rita.

Uma coisa que poderia ter ficado ainda melhor é o momento em que ele chama sua mulher para cantar com ele "Sambinha bom", a bela canção que Mallu Magalhães fez para o seu terceiro álbum. Faltou técnica e sobrou improviso e timidez por parte de Mallu. Acho que ele ajudou um pouco a estragar a canção, mal deixando a moça ficar à vontade com o microfone. Mesmo assim, dá pra dizer que foi um dos momentos mais bonitos do show.

Aliás, a presença de Mallu na vida de Camelo mudou demais tanto o seu estilo quanto o estilo dela. Diria que ela saiu ganhando na assimilação, enquanto ele, ao adotar um estilo de letra mais "espontânea", acabou fazendo umas canções com letra ruim, coisa que não ocorria na época da banda. Ainda assim, algumas faixas da fase solo são lindas, como "Vermelho", que ele deixa pra perto do final, de modo a criar uma boa impressão do show. E funciona. Ela, por outro lado, ao adotar canções mais dolorosas, pessoais e em português, acabou por superá-lo em qualidade de música e letra. Na fase solo, claro.

Dessa leva de canções com letras pouco interessantes, a música pode se sobressair muito bem, como no caso de “Saudades”, que funciona lindamente no formato acústico. No mais, ver a participação do público junto é também prazeroso, principalmente quando essa participação é mais intensa, o que ocorre principalmente nas canções do Los Hermanos. É, certamente, um registro que tende a melhorar com mais audições. Que as férias de Camelo sejam inspiradoras e que o disco solo de Rodrigo Amarante, tantas vezes adiado, saia logo. Por enquanto é o que temos do que sobrou da banda brasileira mais cultuada dos anos 2000.

quarta-feira, julho 10, 2013

MARCAS DA VIOLÊNCIA (A History of Violence)























Aproveitando que estava (re)vendo aos poucos os filmes de David Cronenberg (ficaram faltando apenas FAST COMPANY (1979) e os trabalhos que ele fez para a televisão), resolvi rever MARCAS DA VIOLÊNCIA (2005), que na época que o vi no cinema eu estava muito sonolento e acabei não aproveitando direito o filme. Agora, com um pouquinho de cafeína na veia, pude finalmente apreciar em toda sua glória este que é um dos marcos da filmografia do diretor canadense. Na verdade, Cronenberg já havia saído do gênero horror em SPIDER – DESAFIE SUA MENTE (2002), mas, por algum motivo, é a partir de MARCAS DA VIOLÊNCIA que muitos marcam sua mudança.

Porém, apesar da mudança do gênero, em nenhum momento Cronenberg deixou de imprimir suas marcas. Aliás, elas se tornaram ainda mais evidentes. Estão lá a transformação, o sexo e a violência, temas presentes em cada um dos filmes do cineasta. No caso de MARCAS DA VIOLÊNCIA, Viggo Mortensen é Tom Stall, um pacato dono de uma lanchonete, que, de uma hora para a outra, depois que defende seu estabelecimento e seus funcionários de bandidos, passa a ser visto como um herói nacional. Até porque sua ação é incrível. Mas o impressionante da luta é o quanto a violência é gráfica, mostrando, por exemplo, o queixo estourado de um dos bandidos.

O sexo está presente em pelo menos duas sequências importantes: quando a esposa (Maria Bello) veste-se de cheerleader para satisfazer uma fantasia sexual, o que acaba gerando uma cena bem excitante, com um meia-nove lindamente fotografado; e a outra cena é quando a esposa transa não mais com Tom Stall, mas com o seu alter-ego, aquele que ele era antes de mudar de identidade. Neste momento, o sexo é agressivo, causando feridas nas costas da esposa, já que eles transam na escada. E já sabemos o quanto ferimentos também são vistos como objeto de fetiche por Cronenberg, vide CRASH – ESTRANHOS PRAZERES (1996).

A transformação, que não é tão brutalmente exagerada como em A MOSCA (1986), é também muito sentida, já que, uma vez que a família descobre que aquele homem com quem eles conviveram era na verdade um assassino em uma "outra vida", nada continuará da mesma maneira, embora a cena final, do jantar, seja tão bonita e poética. É possível comparar a mudança de vida do personagem com a dos jogadores de EXISTENZ (1999), que atravessam um portal para uma outra realidade. Uma realidade forjada, mas que é possível perder o controle. A jornada que o herói de MARCAS DA VIOLÊNCIA empreende, visitando o irmão para acabar de vez com as ameaças à sua família, só mostra o quanto ele está disposto a aceitar a "nova carne", para usar o termo várias vezes utilizado em VIDEODROME – A SÍNDROME DO VÍDEO (1983). Quer dizer, Cronenberg continua sendo um prato cheio para autoristas. E, para a nossa sorte, é um diretor que permanece bem ativo.

terça-feira, julho 09, 2013

O RIO DA AVENTURA (The Big Sky)























Curioso como o rio é um símbolo tão presente na filmografia do mestre Howard Hawks. Há RIO VERMELHO (1948), ONDE COMEÇA O INFERNO (1959, cujo título original é RIO BRAVO) e o filme que encerra sua rica obra se chama RIO LOBO (1970). Ainda que O RIO DA AVENTURA (1952) não seja tão bom quanto esses filmes citados e nem conte com a palavra "rio" no título original, o rio está no título brasileiro e está presente em praticamente todo o filme. É a partir do momento em que os personagens principais seguem um rio em um barco com uma índia à bordo que o filme ganha seu rumo.

Porém, no começo, já há muitos elementos hawksianos, a começar pela amizade dos personagens de Kirk Douglas (Jim) e Dewey Martin (Boone). A história de amizade dos dois começa com violência, mas logo termina em abraço. Até porque Jim é uma simpatia só. Quase não consegue tirar o sorriso do rosto. Diria até que é o mais bobo dos personagens de Hawks. A amizade masculina se estende ao saloon, onde uma bela francesa se junta a eles numa canção, que antecipa a maravilha que seria a cena da canção na delegacia de ONDE COMEÇA O INFERNO. Confesso que fiquei com saudade da moça francesa, que não aparece mais.

O rio também representa movimento, rapidez, um elemento bem representativo do cinema de aventuras de Hawks. Pena que os momentos de aventura do filme não tenham me deixado tão entusiasmado quanto nos demais trabalhos do diretor. Sua grande aventura é mesmo HATARI! (1962). E O RIO DA AVENTURA é também uma prova de que não basta ter o próprio Hawks e os elementos puramente hawksianos para que o resultado seja excelente. E às vezes basta ter uma pequena participação do diretor para que vejamos uma obra hawksiana: recentemente, pude ver PILOTO DE PROVAS (1938), dirigido por Victor Fleming, e adorei o filme, como se fosse um autêntico Hawks. Isso por causa de sua participação no roteiro.

Pelo que Hawks contou a Peter Bogdanovich na famosa entrevista, um dos problemas do filme se deu pelo fato de os produtores terem cortado 20 minutos, e possivelmente o que mais foi cortado foram cenas do relacionamento entre Boone e a índia (Elizabeth Threatt). Faz sentido, já que não sentimos nenhum interesse pelo romance dos dois. Muito menos pela amizade de Jim e Boone. Hawks, na mesma entrevista, também lamenta ter falhado na construção da amizade de seus protagonistas, o que é algo muito raro de presenciar em um trabalho seu. O RIO DA AVENTURA é um caso de obra torta de um mestre. Não é muito agradável de ver, mas sabe lá se, em uma revisão futura, eu passo a gostar do filme.

segunda-feira, julho 08, 2013

O HOMEM DE AÇO (Man of Steel)























Quem acompanhou os três títulos do Batman dirigidos por Christopher Nolan vai perceber inúmeras semelhanças com este novo filme do Superman, O HOMEM DE AÇO (2013). A começar pelas cores mais escuras da fotografia, que dão um tom bem mais sombrio do que o de SUPERMAN - O RETORNO (2006), de Bryan Singer, claramente uma homenagem ao imbatível SUPERMAN – O FILME (1978), de Richard Donner. A influência de Nolan é tanta que ele, nas funções de produtor e roteirista, eclipsa, para o bem e para o mal, a direção de Zack Snyder, que aqui se mostra bem mais contido em seu estilo um tanto cafona, talvez por causa do resultado horrível de SUCKER PUNCH – MUNDO SURREAL (2011).

Esse aspecto mais sombrio e pessimista pode ser reflexo dos tempos atuais, em que simples supervilões são constantemente vistos como terroristas. Não é muito diferente em O HOMEM DE AÇO com Zod (Michael Shannon), o kryptoniano que aparece em busca de Kal-El. O vilão, aliás, é apresentado logo no prólogo, que mostra Jor-El (Russel Crowe) e esposa, nos momentos finais de Krypton, preparando a criança a ser encaminhada a um certo planeta de sol amarelo, que lhe conferiria superforça. Ele seria, para os humanos, como um deus.

Aliás, há muitos simbolismos que remetem ao Cristianismo e a Jesus, seja pela idade do herói (33 anos), seja pelo fato de ele se entregar aos seus inimigos, deixar-se algemar, quando pode tranquilamente se desfazer das algemas, e seja principalmente por ele ser um salvador da humanidade.

Falando em simbolismos, impressionante a mania de Nolan em lidar com símbolos para dar mais credibilidade aos heróis. Assim como acontece em BATMAN BEGINS, em que ele tem que falar sobre o simbolismo do morcego, lá vem ele explicar o "S" do uniforme de Superman, que, segundo o próprio herói, não é um "S", mas um símbolo de esperança. De qualquer maneira, essas buscas por "verdade" em um mundo de fantasia têm os seus méritos, principalmente neste filme em especial.

A montagem fragmentada de O HOMEM DE AÇO é outro aspecto positivo. Começando com a grande elipse que vai do prólogo a um dado momento na vida de Clark Kent, passando pelos flashbacks que o mostram em situações da infância, todo esse preparatório, por mais quebrado que pareça, dá à narrativa uma boa preparação para a aventura principal, que é a luta de Superman com Zod.

As lutas físicas com o grande inimigo, inclusive, são muito boas, remetendo aos quadrinhos e a algumas animações que não têm medo de parecer exageradas. Até porque se trata de Superman, o homem mais forte da Terra. Logo, as lutas teriam que deixar um rastro de destruição mesmo. O fato de a luta entre Superman e Zod se estender bastante ao longo do filme é uma boa maneira de mostrar a dificuldade do herói de vencer o vilão. Uma pena é que o vilão não fuja das caricaturas de tantos outros vilões tediosos do cinema (e dos quadrinhos). Mas isso é algo que pode ser facilmente relevado, embora seja um elemento incômodo.

Outra coisa que pode incomodar um pouco é o fato de Lois Lane, vivida por Amy Adams, ser uma personagem quase onipresente na trama. Só não dá pra reclamar mais porque Amy é linda e ótima atriz. Mas forçam muito a barra ao dar importância demais à sua personagem, principalmente durante o confronto de Superman com Zod. Amy e os outros coadjuvantes de luxo (Kevin Costner, Diane Lane, Lawrence Fishburne), aliás, são peças muito importantes para auxiliar no desempenho de Henry Cavill como o novo Superman. Ele convence, tem beleza máscula e porte atlético e não compromete nas cenas dramáticas. E estar ao lado de um elenco de apoio de qualidade ajuda muito.

Um mérito dos filmes de super-heróis de Nolan (no caso, a trilogia do Batman e este O HOMEM DE AÇO) é a coragem de dar um andamento mais lento e uma duração mais longa, quando o que impera entre os blockbusters contemporâneos é o exagero nos cortes e na rapidez. De certa forma, isso é bom, embora torne em alguns momentos o filme um tanto aborrecido. O que é de se esperar do Nolan, aliás. De todo modo, ele e Snyder fizeram um bom trabalho, trazendo um Superman que foge da sombra do filme de Donner, inclusive na trilha sonora, agora em tons mais soturnos, assinada por Hans Zimmer, que trabalhou na trilogia do morcegão e sabe dar um tom épico, apropriado ao personagem, à trama e também às novas tintas mais pesadas dos dias atuais.

Para encerrar, um detalhe que eu acho importante avisar: o 3D do filme é pura picaretagem. Não há 3D, praticamente. Vê-lo em 3D é desperdício de dinheiro e uma boa possibilidade de ter uma dor de cabeça, até pela longa duração. Recomendo, assim, a boa e velha cópia em 35 mm.

domingo, julho 07, 2013

FAMÍLIA SOPRANO – A SEXTA TEMPORADA COMPLETA (The Sopranos – The Complete Sixth Season)























No dia 19 de junho, morreu em Roma um dos mais queridos atores dos últimos anos, James Gandolfini. Seu papel como o líder da máfia de Nova Jersey Tony Soprano o aproximou de muitos que puderam acompanhar a cultuada série. Aprendemos com o tempo a amar aquele homem capaz de matar homens e mulheres, se achasse conveniente. A agressividade e o egoísmo do personagem eram eclipsados por sua doçura e desnudamento de sua personalidade a cada episódio. Ver os últimos episódios da sexta e última temporada de FAMÍLIA SOPRANO (2006/2007) foi um tanto doloroso, em parte por causa do falecimento de Gandolfini, mas também porque a própria natureza do final da série é de nos deixar impressionados e boquiabertos.

Se as temporadas anteriores já haviam colocado a série entre as melhores realizações da televisão de todos os tempos, a sexta temporada, bem mais longa, serviu para lhe dar um ar de perfeição. Cada episódio é uma obra de arte separada, que poderia ser analisado em parte, mas devido à lembrança e ao impacto do final da temporada, brusco e surpreendente, é desse episódio que mais lembramos. O final, moderno, pode ser analisado de diversas maneiras e talvez por isso seja tão rico. Ao mesmo tempo, difícil pensar em outra maneira tão boa de darmos adeus a Tony, Carmela (Edie Falco), A.J. (Robert Idler) e Meadow (Jamie-Lynn Sigler), o núcleo duro da família.

Mas, tentemos lembrar de outros grandes momentos desta excepcional temporada. Pra começar, o primeiro episódio termina de maneira impactante: o tio Junior (Dominic Chianese), em momento de perturbação mental, esfaqueia a barriga de seu sobrinho, Tony. Os próximos episódios, com o protagonista em coma no hospital, são incrivelmente intrigantes, já que o jogam para uma espécie de universo paralelo, com Tony tentando voltar para casa e encontrando surreais obstáculos. O clima de sonho impera nessa nova vida de Tony, ao mesmo tempo que, na vida real, família e amigos choram com a situação do chefão.

Outro momento inesquecível acontece no episódio 5, quando Tony já está de volta ao seu mundo e vai ao casamento da filha de John Sack (Vincent Curatola), o líder da máfia de Nova York que se encontra preso. John consegue permissão para ir ao casamento da filha, mas a situação para ele é extremamente humilhante. Impressionante como a série faz com que nos solidarizaremos com pessoas tão cheias de maldade na alma. E esses italianos sabem como fazer de tudo uma tragédia de grandes proporções.

Não há como esquecer a situação de Vito (Joseph R. Gannascoli). Homossexual enrustido pelas leis machistas da sociedade em que vive, quando descobrem seu segredo, ele foge para outra cidade, deixando mulher e filhos, a fim de não ser assassinado por aqueles que não aceitam sua condição, achando que ele estaria envergonhando a família. Sabemos que mais cedo ou mais tarde a história de Vito terminaria em tragédia.

Há, enfim, uma série de situações igualmente importantes, que só ajudam a tornar a série cada vez melhor, como as crises no relacionamento de A.J. com a bela latina Blanca (Dania Ramirez), o episódio da briga de Tony com seu cunhado Bob (Steve Schirripa), as aventuras de Chris (Michael Imperioli) no mundo do cinema e sua luta contra a dependência química, o episódio do acidente de carro, e, principalmente, a guerra declarada contra o novo chefão de Nova York, Phil (Frank Vincent), aproximando a série de seu objeto de inspiração, O PODEROSO CHEFÃO, de Francis Ford Coppola. Mas com a vantagem de poder expandir o seu universo em 86 episódios de violência e paixão.

sexta-feira, julho 05, 2013

TRUQUE DE MESTRE (Now You See Me)























O mês de julho costuma ser o pior mês em termos de lançamentos no cinema. Por mais que os grandes blockbusters sejam bons, acabam não deixando espaço para outras opções. Por isso é o melhor mês para tirar o atraso, vendo em casa grandes filmes que provavelmente você nunca (mais) verá no cinema. Mas de vez em quando a gente dá um voto de confiança para os lançamentos, ainda mais um com um elenco atraente como o deste TRUQUE DE MESTRE (2013), de Louis Leterrier. Uma pena que o resultado seja tão decepcionante.

O começo até que é bem promissor, com a apresentação dos chamados Quatro Cavaleiros (Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Isla Fischer e Dave Franco), especialistas em ilusionismo. Depois da reunião dos quatro, um salto no tempo para o espetáculo em um teatro enorme em Las Vegas, lugar onde eles efetuarão um truque que deixará a plateia do teatro e o próprio espectador impressionados: o truque do dinheiro roubado instantaneamente de um cofre em Paris. É instigante. Assim como também é, logo após, o confronto do quarteto com a polícia, representada por Mark Ruffalo e Mélanie Laurent, moça que, aliás, é sempre um prazer de ver.

O problema é que logo o filme vai perdendo fôlego, principalmente quando passa a ser cada vez mais um jogo de gato e rato com a polícia. Sabemos que no final haverá alguma revelação inesperada, mas é impressionante como esse tipo de revelação só mostra a fragilidade da construção narrativa, elaborada a seis mãos.

É preciso, por exemplo, que o personagem do mentalista vivido por Woody Harrelson diga que há uma tensão sexual entre os dois agentes (Ruffalo e Laurent) para que isso passe a ser verdade, pois até aquele momento o filme não havia construído nada entre eles. E quando finalmente acontece alguma coisa, é bem broxante. Mais: a atuação de garoto esperto de Jesse Eisenberg é quase uma cópia de A REDE SOCIAL, de David Fincher. Aproveita-se a persona criada pelo ator para não precisar aprofundar nada no personagem.

Morgan Freeman, como o velho especialista em desmascarar ilusionistas, também atua no piloto automático, assim como Michael Caine e o próprio Ruffalo, que até pouco tempo atrás era visto como uma das revelações de sua geração. Mas até aí tudo bem, levando-se em consideração que se trata de um filme de ação, de jogos, uma obra que poderia ser uma grande brincadeira sobre a arte da ilusão. Acaba parecendo um grande nada, cujo único propósito de divertir também é uma falha. Principalmente com um final tão ruim.

Aí a gente lê uma matéria na internet sobre Louis Leterrier, em que o diretor diz que O INCRÍVEL HULK (2008) e FÚRIA DE TITÃS (2010) não são seus filmes, apesar de tê-los dirigido. Como se ele fosse um grande autor, com uma filmografia de respeito para se orgulhar.

quinta-feira, julho 04, 2013

GUERRA MUNDIAL Z (World War Z)























Eu diria que os bastidores das filmagens de GUERRA MUNDIAL Z (2013) daria um filme muito melhor do que essa produção com roteiro fraco, zumbis que parecem saídos de um videogame, uma falta de gore que beira ao bunda-molismo e que, no entanto, é o mais caro filme de zumbis já feito. Não que os bastidores sejam lá o de um APOCALYPSE NOW, mas teve muita briga, muita gente caindo fora, muita tensão no ar. Aliás, ler depois sobre a produção ajuda a entender, por exemplo, porque as imagens de uma hora pra outra passam de boa para ruim: uma boa resposta seria a substituição do excelente diretor de fotografia Robert Richardson, notável parceiro de Martin Scorsese e Quentin Tarantino, por um menos célebre, Ben Seresin, que adota seu "gosto" por tomadas escuras, como em LINHA DE AÇÃO.

O que eu achei mais curioso foi o fato de Brad Pitt não falar mais com o diretor Marc Forster durante as filmagens, por culpá-lo pelo desastre que estava sendo a produção. Que, no fim, até que não foi tão ruim assim para os dois, já que GUERRA MUNDIAL Z não foi tão malhado assim e rendeu uma ótima abertura nos Estados Unidos. De qualquer maneira, não deixa de ser uma pena Forster, que começou a carreira com umas produções bem interessantes, como GRITOS NA NOITE (2000) e A ÚLTIMA CEIA (2001), ter se tornando mais um diretor sem personalidade, como a maioria dos que trabalham em Hollywood, na verdade.

Quanto a GUERRA MUNDIAL Z, o filme é claramente uma produção oportunista, usando a popularização dos zumbis para capitalizar. E isso não chega a ser exatamente um demérito. Afinal, quantos filmes legais de zumbis não foram produzidos na Itália, depois do sucesso de DESPERTAR DOS MORTOS, de George A. Romero? O que acontece aqui é que já estamos muito acostumados a tripas e sangue em filmes de zumbis para ver um filminho tão covarde em mostrar qualquer cena de violência ou gore. Tudo para que a classificação indicativa seja baixa o suficiente para render mais e seja um programa para toda a família.

O que indica que cada vez mais o cinemão hollywoodiano vai seguindo um padrão de bom mocismo que contrasta até mesmo com a televisão, já que mostrar zumbis comendo pescoços e braços pode ser visto semanalmente e com muito mais emoção na série THE WALKING DEAD, da AMC. Mas o principal problema é que o filme não compensa isso com um roteiro esperto. Não há nada impressionante neste filme. E se há um momento de tensão, é o da cena que se passa no laboratório, perto do final. Mas isso se deve muito à montagem alternada, com fins de criar suspense. E esse tipo de montagem já é usado desde os pioneiros do cinema mudo, como Edwin S. Porter e D.W. Griffith. É uma cena eficiente, mas pouco marcante.

Outra coisa que já incomoda desde o começo é a falta da construção de uma simples cena familiar, que serviria para dar intensidade à missão do personagem de Brad Pitt, quando ele se separa de sua esposa e filhos para integrar o exército e ajudar a combater a epidemia de zumbis. Quando aparece na televisão o mundo acabando e notícias sobre epidemias e lei marcial, a família vai para o trabalho como se nada estivesse acontecendo. E o curto papo dentro do carro é uma bobagem. Enfim, é o caso de filme que quer partir logo para a ação. É uma opção aceitável quando a ação é boa o suficiente. Pelo menos, não dá pra reclamar que o filme é tedioso. Dá para assistir numa boa. E tem a cena do muro de Israel, que foi uma boa sacada, ainda que, no final, mal executada. Como todo o filme, aliás.

Observação: o orçamento estimado de GUERRA MUNDIAL Z, segundo o IMDB, é de 400 milhões de dólares. Dá pra imaginar quantos filmes legais poderiam ser feitos com este dinheiro?

quarta-feira, julho 03, 2013

OS AMANTES PASSAGEIROS (Los Amantes Pasajeros)























Chega a ser desconcertante o que Pedro Almodóvar faz com seus fãs em OS AMANTES PASSAGEIROS (2013). Afinal, trata-se mesmo do ponto mais baixo da carreira do diretor espanhol, como diz boa parte da crítica, ou há algo nas entrelinhas que deixamos passar despercebido? O que temos certeza, ao menos, é que se trata de uma volta à comédia, que desde KIKA (1993) deixou de ser um gênero explorado pelo cineasta, que aderiu de maneira mais intensa aos dramas e, no caso de A PELE QUE HABITO (2011), ao filme de horror.

A volta às comédias é também uma maneira de vermos um tipo de colorido mais artificial, de quando o cineasta experimentava cenários construídos nos interiores e podia exercitar o seu gosto pelas cores quentes através da pintura de móveis e paredes em ambientes internos, como foi o caso do excelente MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS (1988). O novo filme, ao se passar quase que totalmente dentro de um avião, também traz essa possibilidade, embora a beleza da fotografia de José Luis Alcaine, colaborador habitual do cineasta, não seja exatamente de encher os olhos. Na verdade, a cor do interior do avião é sempre bem feia.

Logo, percebe-se que há um tom de despretensão por parte de Almodóvar, ao construir uma comédia em um ambiente fechado, com subtramas pouco interessantes, mas que ainda assim consegue extrair momentos inesquecíveis, muitos deles ligados ao sexo e às drogas, que também pode ser visto como uma espécie de saudade dos anos 80. Tanto é que a canção-tema, e que serviu de título para o filme nos Estados Unidos, "I’m so excited", das Pointer Sisters, é de 1982, momento em que a disco music ainda estava bastante presente, assim como o uso de substâncias animadoras.

OS AMANTES PASSAGEIROS, assim, pode ser visto como uma espécie de ode depravada ao sexo e às drogas, sem o menor sentimento de culpa. Por mais que um dos comissários de bordo gays seja divertidamente católico e reze pelo amigo que é alcóolatra, vivido por Javier Camara, está tudo liberado naquele voo. Com direito a sexo oral de um dos comissários no copiloto e a uma mulher que é vidente e virgem (Lola Dueñas) louca para resolver o seu probleminha, enquanto todos os passageiros da classe econômica estão dormindo sob efeito de ansiolíticos. Sem falar no casal de noivos que faz sexo nas próprias cadeiras da primeira classe.

Não deixa de ser uma obra bem ousada sexualmente, mas talvez seja a liberdade com o trato com o uso das drogas que tenha lhe dado classificação 16 anos no Brasil. No mais, outra perspectiva de se ver o filme é como uma crítica ácida à atual situação econômica que vive a Espanha, que está em situação desesperadora desde a crise que abateu vários países europeus em 2008. Assim, o fato de o avião estar prestes a cair e todos morrerem é uma metáfora de seu país. Neste sentido, é talvez o filme mais político de Almodóvar em muito tempo.

OS AMANTES PASSAGEIROS é desses filmes que crescem à medida que pensamos nele. A lembrança dos vários personagens do filme, encabeçados pelos três comissários de bordo bem afetados (Javier Cámara, Carlos Areces e Raúl Arévalo), passando pela dominatrix (Cecilia Roth), pelos pilotos, pela moça suicida (Paz Vega) e por uma belíssima jovem que recebe um telefone celular do céu enquanto anda de bicicleta (Blanca Suárez), entre vários outros, faz com que a simpatia pelo filme só aumente.

Provavelmente, com o tempo, OS AMANTES PASSAGEIROS será tão bem aceito quanto KIKA, que na época de sua exibição também não foi bem recebido. O pior filme de um grande autor ainda é melhor do que os melhores filmes de diretores de encomenda. Era Truffaut quem dizia algo parecido, não?

segunda-feira, julho 01, 2013

GLÓRIA FEITA DE SANGUE (Paths of Glory)























Com um empurrãozinho da Liga dos Blogues Cinematográficos (fui convidado a fazer um pequeno texto sobre GLÓRIA FEITA DE SANGUE (1957) para o Ranking Mondo Kubrick), senti-me na obrigação de rever esta obra-prima maravilhosa que ainda continua abalando nossos corações do início ao fim, seja pela direção absurdamente espetacular de Stanley Kubrick, seja pelo apelo contestatório à guerra, ao mostrar o quanto o ser humano pode ser desumano. Aliás, vai ver ser desumano é uma "qualidade" do ser humano.

O absurdo da guerra é elemento de contestação por parte de Kubrick em pelo menos mais dois filmes: DR. FANTÁSTICO (1964) e NASCIDO PARA MATAR (1987). Mas ainda prefiro GLÓRIA FEITA DE SANGUE e as cenas intoxicantes nas trincheiras e as missões suicidas a que são submetidos os soldados, pelos generais, que agem como se estivessem exercitando um jogo de xadrez ou algo parecido.

Na trama, que se passa durante a Primeira Guerra Mundial, os franceses estão em situação de resistência perante os alemães, mas não conseguem avançar muito mais diante do inimigo. Sob ordens de dois generais, o Coronel Dax, vivido por Kirk Douglas, efetua uma tentativa de se aproximar dos alemães com seus homens. A câmera de Kubrick, que já havia passeado em travelling lindo por entre as trincheiras de uma divisão, agora nos leva ao olho do furacão, em uma missão tão suicida quanto a do Dia "D" mostrada por Spielberg no início de O RESGATE DO SOLDADO RYAN. O Coronel Dax consegue sair vivo daquele inferno na terra, mas o recuo custaria a vida de alguns dos soldados sobreviventes, que iriam à corte marcial sob acusação de covardia.

A cena no tribunal é outro grande momento do filme, assim como os momentos pós-tribunal e a execução de doer o coração e de indignar o nosso espírito. E o que dizer da sequência final, na taverna, com os soldados ouvindo e se emocionando com uma jovem alemã que canta para eles e lhes dá algo que precisam para lembrarem que ainda existe beleza neste mundo, por mais cruel que ele seja?

Rever GLÓRIA FEITA DE SANGUE, agora em cópia ripada de um blu-ray, foi uma maravilha, já que agora a bela fotografia em preto e branco, que impressiona com sua beleza do início ao fim, só tem a ganhar com essa restauração e transferência para a alta definição. Obras-primas como esta merecem esse tipo de tratamento.