sábado, maio 18, 2013

O ABISMO PRATEADO























Desde seu primeiro curta-metragem, SEAMS (1993), que critica o modo de ser machista na sociedade cearense a partir do olhar de mulheres de sua família, que Karim Aïnouz parece disposto a questionar as atitudes masculinas. O homem, em sua obra, em geral é visto como um sujeito covarde, que abandona a mulher sem dó nem piedade. Ou talvez até tenha algum sentimento, mas não quer se dispor a enfrentá-lo. Assim acontece em O CÉU DE SUELY (2006) e assim também acontece no recente O ABISMO PRATEADO (2011). Pode-se ver outro exemplo de um comportamento cafajeste masculino, ainda que de maneira menos centrada, em uma série de televisão idealizada pelo diretor e por Marcelo Gomes, ALICE (2008), estrelada por Andréia Horta.

Porém, se em O CÉU DE SUELY, Aïnouz estava em seu auge criativo, nota-se em O ABISMO PRATEADO que ele se esforça, usando as ferramentas do cinema, em transpor para as telas a dor do abandono, mas sem conseguir traduzi-la. Resulta frustrado, apesar de vermos ali que não se trata de um diretor inexperiente no comando, pelos belos enquadramentos, pelos movimentos da câmera, quase sempre muito perto da personagem de Alessandra Negrini. Uma pena que isso não seja o bastante para emocionar.

Vemos com certo distanciamento a trajetória de Violeta, a personagem de Negrini. Para certos tipos de cinema, um distanciamento é interessante, bem-vindo até, de modo a melhor provocar reflexão no espectador, ou transmitir a frieza do mundo. Não é bem o caso de O ABISMO PRATEADO, que seria uma espécie de filme em primeira pessoa. Como se trata de uma obra intimista, o desafio está em passar para o espectador a angústia e a dor da personagem que é abandonada pelo marido, que deixa apenas uma mensagem no celular e vai embora.

É uma pena, então, vermos um diretor de prestígio, dentro da nova geração de cineastas brasileiros, em um momento pouco inspirado. Talvez isso tenha ocorrido por não ter sido uma ideia que partiu inicialmente do cineasta, mas que lhe foi proposta a partir de um projeto do produtor Rodrigo Teixeira, que comprou os direitos de dez canções de Chico Buarque para transmutá-las em filme, série de televisão e livros.

A série de televisão, AMOR EM 4 ATOS (2011), já foi exibida pela Rede Globo e foi bem sucedida em seu formato de quatro episódios, tendo se inspirado em cinco canções do compositor carioca. Karim Aïnouz ficou com "Olhos nos olhos", mais conhecida na voz de Maria Bethânia, mas que no filme é ouvida na versão de Bárbara Eugenia. É quase uma canção de fossa, que procura mostrar a vitória de uma mulher depois de ter sido abandonada, mas que nunca esconde a mágoa nem a dor.

Apesar de uma possível decepção, O ABISMO PRATEADO vale ser visto, principalmente por quem é apreciador da obra de Aïnouz, da beleza fenomenal de Alessandra Negrini, e por quem procura um cinema mais particular e menos massificado.

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