domingo, fevereiro 24, 2013

ENIGMA PARA DEMÔNIOS























Pode-se dizer que o belíssimo ENIGMA PARA DEMÔNIOS (1975), de Carlos Hugo Christensen, é o nosso O BEBÊ DE ROSEMARY. E, assim como a obra de Polanski, o filme brasileiro é admirável em vários aspectos. Mas principalmente na direção firme de Christensen, com tomadas impressionantes em zoom, close-up, às vezes com a imagem pendendo para o lado e para o outro, como que para descrever o estado de espírito perturbado da protagonista, vivida brilhantemente por Monique Lafond.

Quem está acostumado a ver Monique apenas em filmes eróticos e afins pode se surpreender ao vê-la neste papel duplo. Na trama, ela é uma jovem que mora na Argentina e que vem ao Brasil assim que o seu pai morre para ver os papéis da herança. A mãe havia morrido quando ela era criança, mas todos aqueles que a conheceram dizem que as duas são muito parecidas. A foto que fica disposta no quarto em um porta-retratos não deixa mentir.

Aliás, é na primeira vez que ela entre nesse quarto que foi de sua mãe que o primeiro elemento estranho é apresentado e que já serve como um mau sinal: a cruz do rosário dependurado em uma cadeira está invertida. Como já sabemos que cruzes dispostas dessa maneira são ligadas ao satanismo, fica no ar a primeira pista.

Depois de saber as circunstâncias terríveis da separação de seus pais, através de um flashback que só reforça a força da interpretação da atriz, fazendo o papel de uma mãe assustadoramente má, ela visita o cemitério para ver o túmulo da mãe e, meio que sem querer, retira uma flor de um dos túmulos e a deixa cair no chão. No cemitério, estava presente o primo que a recebeu calorosamente, Raul, e um homem que ela não conhece, mas que é identificado com um zoom, um médico vivido por José Mayer.

Ao chegar em casa, ela recebe estranhas ligações, em que um suposto morto, com uma voz gutural, reclama a flor que ela retirou de sua sepultura. Ela fica seriamente transtornada e este episódio lembra outro filme de horror brasileiro admirável, realizado na mesma época, O ANJO DA NOITE, de Walter Hugo Khouri. A família procura ajudá-la a esquecer o caso, ao mesmo tempo em que as ligações continuam, a ponto de cogitarem o fato de ela estar perdendo a sanidade, já que ninguém diz ter ouvido também a tal voz. Aos poucos, vamos percebendo que pode estar havendo ali uma conspiração, que, pelo título do filme, não é nenhuma brincadeira ingênua.

ENIGMA PARA DEMÔNIOS é baseado no conto de Carlos Drummond de Andrade "Flor, telefone, moça" e representa mais um belo exemplar do cinema de horror brasileiro que a cada dia venho descobrindo mais. O próprio cinema de Christensen é novo para mim e pretendo ver mais filmes desse talentoso diretor assim que puder.

P.S.: O amigo Chico Fireman fez um Oscar alternativo, contando com a participação de 14 cinéfilos. Fui um dos convidados para premiar as principais categorias da edição deste ano. Confira o resultado AQUI.

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