sexta-feira, janeiro 04, 2013

AS BRUXAS (Le Streghe)



Estou lendo atualmente a biografia Clint Eastwood – Nada Censurado, de Marc Eliot, e o livro, além de muito gostoso de ler, está me fazendo ter vontade de ver praticamente todos os filmes estrelados pelo ator/diretor, não importando a qualidade. No caso de AS BRUXAS (1967), há também outros atrativos além da presença do jovem Clint, já que se trata de um filme em segmentos dirigidos por cinco diretores italianos, todos estrelados por Silvana Mangano.

O filme foi realizado numa época em que Clint Eastwood ainda só era visto como caubói, seja na série de TV americana RAWHIDE (1959-1965), seja na trilogia dos dólares de Sergio Leone (1964-1966). Ele queria muito ser visto em trajes civis, queria se livrar do estereótipo que a mídia havia criado dele. Na verdade, ele queria muitas coisas, e aos poucos foi conseguindo. Mas falemos um pouco deste AS BRUXAS, que era mais um veículo para Silvana Mangano, mulher do produtor Dino Di Laurentiis, brilhar.

Ao contrário do título, não se trata de um filme do gênero fantástico, embora o segmento de Pier Paolo Pasolini tenha uma pouco disso, ainda que seja mais uma comédia feita para Totó brilhar. Inclusive, quero deixar registrado que foi a primeira vez que eu vi um filme com Totó. Achei o seu tipo de humor ao mesmo tempo estranho e familiar. Estranho dentro do que se fazia de humor no mundo e familiar por lembrar bastante alguns comediantes brasileiros. Na verdade, as comédias italianas e brasileiras sempre tiveram muito em comum.

Os cinco segmentos de AS BRUXAS não são bem divididos uniformemente. Os segmentos de Mauro Bolognini ("Senso Cívico") e o de Franco Rossi ("A Siciliana") são tão curtos que mais parecem vinhetas. Já os outros têm uma duração maior, de mais de meia hora. Interessante e talvez acertado terem começado o filme com um drama, "A Bruxa Queimada Viva", de Luchino Visconti. Senti um tanto do Fellini de A DOCE VIDA e do Antonioni de A NOITE neste pequeno trabalho de Visconti. Silvana Mangano interpreta uma grande estrela de cinema que vai visitar sua família, em bairro mais humilde. Acaba sendo centro das atenções, desejada pelos homens e vítima da inveja das mulheres. Quem rouba a cena sempre que aparece é a bela Annie Girardot.

Já o segmento de Pasolini ("A Terra Vista da Lua") talvez seja o mais interessante dos cinco, embora eu tenha curtido bastante o pouco tempo que durou do trabalho de Mauro Bolognini. No segmento de Pasolini, um pai (Totó) e seu filho, logo após a morte da mãe e esposa, resolvem logo ir atrás de uma outra mulher para cuidar deles. Depois de muito procurar, encontram uma bela surda-muda, vivida por Silvana Mangano, aqui de cabelos verdes. Ela transforma para melhor a rotina dos dois homens. E o final é bem inesperado e surreal.

Para terminar, o segmento dirigido por De Sica ("Uma Noite como as Outras"), estrelado por Clint Eastwood, se mostrou bem pouco interessante. É interessante pela presença de Clint, mas também é talvez o que melhor trabalha o talento de Silvana Mangano. Ela é a mulher entediada no casamento e ele é aquele homem que já não tem o menor interesse em agradar a mulher ou cumprir com seus deveres conjugais, se é que ainda pode-se falar assim. De Sica faz uma pequena comédia sobre a insatisfação num casamento e os desejos frustrados de uma mulher. Clint não se esforça muito no papel. Sua pequena participação lhe rendeu na época 20 mil dólares e uma Ferrari zero quilômetro, em acordo com Di Laurentiis, que queria capitalizar em cima da enorme popularidade de Clint, por causa do sucesso dos filmes de Sergio Leone na Itália.

Curiosamente – e aqui entra um pouco o lado fofoca do blog –, quando o filme estreou em Paris, Clint deu uma passada por lá e conheceu e teve um romance curto mas apaixonado por Catherine Deneuve. Que maravilha, hein. Nosso herói pode ter passado por muitas dificuldades no início da carreira, mas depois teve muita história boa pra contar. Quanto a AS BRUXAS, no fim das contas o resultado saiu apenas mediano.

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