sexta-feira, janeiro 11, 2013

A VIAGEM (Cloud Atlas)



É preciso bastante boa vontade para gostar de A VIAGEM (2012), a nova empreitada dos irmãos Wachowski, desta vez em parceria com o diretor alemão Tom Tykwer, que não é lá um cineasta tão conceituado assim para se pedir uma ajuda. O resultado é um filme confuso e raso, com seis histórias que não têm consistência juntas, do jeito que foram editadas, e também não teriam, se fossem vistas em separado. Algumas delas, porém, são melhores, como a história ambientada na década de 1970, estrelada por Halle Barry; e a ambientada na Seul do século XXII, estrelada por Doona Bae e Jim Sturgess.

Essas são duas histórias que têm uma boa ambientação apesar dos problemas. A da década de 70 carrega um pouco do espírito da época, com uma fotografia com tons de marrom e uma narrativa mais para o gênero policial. E a do século XXII é a que mais explora o uso dos efeitos especiais, mostrando um futuro em tons azulados e que carrega um segredo terrível com relação às garotas que são clonadas.

As outras histórias são um tanto ridículas ou desinteressantes. A mais ridícula é a passada no futuro pós-apocalíptico e estrelada por Tom Hanks e Halle Berry. Tem um ar de A Tempestade, de Shakespeare, mas com uma trama bem ruim. Essa é a história que tem o aspecto mais espiritual ou transcendental das seis.

Há a história estrelada por Jim Broadbent, ambientada em 2012, que vai melhorando um pouco lá pelo final, quando seu personagem vai se tornando menos chato e desinteressante, depois que ele é internado em um manicômio. Curiosamente não tem cara de história situada no presente, mas num passado próximo.

A história que se passa em 1936 e estrelada por Ben Wishaw começa de maneira interessante e termina de forma patética, sem entendermos direito as motivações do personagem. Nem a voice-over ajuda. A outra história, estrelada por Jim Sturgess, e ambientada em 1849, passada em sua maior parte dentro de um navio, em uma viagem de uma ilha do Pacífico até São Francisco, nos Estados Unidos, é também bem apagada. A única coisa boa é a presença do escravo negro fugido, que se torna amigo do rapaz e imprime um pouco mais de humanidade à trama.

Alguns atores participam de todas as histórias, como Tom Hanks, Halle Berry, Hugo Weaving, Jim Sturgess e Hugh Grant. Curiosamente, como o filme fala de reencarnação, os personagens maus, como os de Weaving e Grant, continuam maus em todas as encarnações. Inclusive, no futuro, Hugo Weaving interpreta uma espécie de demônio. Vai ver não é regra os atores interpretarem suas respectivas encarnações.

Outra coisa que incomoda é a mensagem óbvia sobre a conexão entre os fatos e as pessoas. Tudo bem que para muita gente o mundo é apenas um projeto caótico e desordenado, sem um autor, mas mesmo para quem acredita em alguma força superior, a mensagem que o filme passa chega a ser ingênua e até constrangedora, na forma como é dita.

O filme usa muito o recurso do voice-over, que funciona como uma muleta para a narrativa. Muito provavelmente foi necessário durante o processo de transmutação da obra literária (o romance de David Mitchell) para o cinema, servindo também para tornar o filme um pouco mais palatável para a audiência. A VIAGEM melhora um pouco quando procura imprimir um pouco mais de dinamismo, alternando com mais rapidez, já em sua terceira hora de duração, a costura das histórias, procurando dar a elas um pouco mais de coesão, embora nem sempre consiga.

Infelizmente é um projeto megalomaníaco que foi rejeitado tanto por boa parte da crítica, pelas premiações e pelo público. Um filme de 100 milhões de dólares que não rendeu ainda 30 milhões deve demorar a se pagar. Para o espectador também não é uma tarefa fácil, embora seja curioso ver os rostos conhecidos fazendo diversos papéis ao longo das histórias. Tenho certeza que, assim como eu, muitas pessoas irão se sentir atraídas para ver o filme, o que é completamente normal, dado o elenco estelar, o trailer curioso e a pretensão dos diretores.

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