segunda-feira, janeiro 21, 2013

A LIRA DO DELÍRIO



Só tive o prazer de ver três filmes de Walter Lima Jr. no cinema: os sensacionais O MONGE E A FILHA DO CARRASCO (1996) e A OSTRA E O VENTO (1997) e a derrapada OS DESAFINADOS (2008), seu último trabalho para cinema até o momento. Esperemos que ele não pare por aí. Os demais filmes ainda estão para se descobrir. Alguns já foram vistos na telinha, confirmando a grandeza de sua obra. A LIRA DO DELÍRIO (1978) é um de seus mais celebrados filmes.

O filme deve representar um momento doloroso para o cineasta, já que foi o último trabalho de Anecy Rocha, irmã de Glauber Rocha, e sua esposa. A atriz caiu no fosso do elevador do prédio em que morava. Ela já foi uma das Anas de Walter Hugo Khouri e já trabalhou com Nelson Pereira dos Santos em dois filmes. Tinha uma carreira ainda longa pela frente. Infelizmente se foi cedo demais. Em A LIRA DO DELÍRIO, ela está particularmente brilhante no papel de uma prostituta cujo filho é raptado.

O filme tem o carnaval e a música brasileira como companheiros. A LIRA DO DELÍRIO, embora tenha um esqueleto em sua trama, flui como um filme sem roteiro, feito como um sonho que não tem hora para acabar. E os sonhos são caóticos. Logo no início, vemos os principais personagens participando de um carnaval de rua. Estão lá Paulo César Peréio, Anecy Rocha em cena bonita com Nara Leão, entre outros que me fogem à memória. Mas o que é mostrado nessas cenas iniciais do carnaval é que é uma festa em que tudo é possível.

Ao mesmo tempo, o filme também carrega um pouco de registro documental, inclusive, com os personagens carregando os mesmos nomes dos atores: Anecy Rocha é Anecy; Paulo César Peréio é Peréio; Cláudio Marzo é Cláudio; Tonico Pereira é Tonico; e por aí vai. O filme também trata de um assunto que provavelmente era notícia na época, o rapto de crianças e o tráfico para estrangeiros. Mas embora esse seja mais ou menos o esqueleto da história, fica difícil pensar em A LIRA DO DELÍRIO nesse sentido, já que é um filme muito mais de poesia, de invenção e de muita música, a ponto de se confundir às vezes com um musical. Inclusive, toda a história policial foi improvisada.

Mas embora seja um filme-poesia, A LIRA DO DELÍRIO não é uma obra que se afasta do público, como muitas produções de vanguarda de um período anterior. Naquela época já havia uma maior abertura e uma necessidade de dialogar com o espectador. Por isso, o clima às vezes onírico do filme é mais um convite ao espectador do que um querer se afastar dele. E é difícil começar a ver A LIRA DO DELÍRIO e parar na metade.

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