quinta-feira, dezembro 20, 2012

SPIDER – DESAFIE SUA MENTE (Spider)























Lembro que quando vi SPIDER – DESAFIE SUA MENTE (2002) no cinema, eu dei umas cochiladas homéricas. Revendo agora, depois de quase dez anos, em casa, pude entender o motivo de o filme causar esse efeito letárgico. Seu ritmo é mesmo muito lento. Mas creio que estando com o sono em dia e a saúde em bom estado, dá para ver com prazer este filme, que representa uma mudança de rumos na carreira de David Cronenberg. Curiosamente pouca gente lembra dele nesse sentido, já que foi MARCAS DA VIOLÊNCIA (2005) que obteve mais impacto e mais interesse de público e crítica.

Na época que vi SPIDER, havia lido também o romance de Patrick McGrath no qual o filme é baseado, que, na minha cabeça, talvez por ter lido em inglês, era um pouco confuso, principalmente nas várias referências à casa e às tubulações, coisa que não é muito comum em sua adaptação. O filme ajuda a ver esses detalhes com mais clareza, embora não entre em detalhes. O mais importante é mesmo a mente perturbada do protagonista, vivido por Ralph Fiennes, que, recém-saído de um sanatório, passa a morar numa espécie de pensão só com pessoas que obtiveram progresso em seu tratamento.

Muito interessante o recurso que Cronenberg usa para mostrar os anos de infância do jovem Spider, que mostrarão o motivo de ele ter se tornado louco. Ou provavelmente já mostrar que ele já não era tão são assim na infância. Cronenberg usa o recurso da presença em cena do Spider adulto (Fiennes), reconstituindo fatos importantes de sua infância e relembrando os pais, vividos por Gabriel Byrne e Miranda Richardson.

E falando em Miranda Richardson, que desempenho espetacular que ela tem neste filme, hein. Eu só fui perceber que ela era a mesma mulher loira que o personagem do pai supostamente usava como amante nos créditos finais. Ela faz duas mulheres completamente diferentes, física e psicologicamente. Inclusive, é no papel da loira vulgar que Cronenberg pode mostrar ainda o seu gosto pelos fluidos do corpo humano, quando a mulher masturba o personagem de Gabriel Byrne e joga com sua mão o seu esperma no rio.

O que não dá para entender – ou aceitar – é o personagem de Spider lembrar não somente coisas que ele viu, mas que também foram vistas por seu pai e sua mãe. Mas, uma vez que aceitamos que ele está reconstituindo na sua própria cabeça o ocorrido em sua mente perturbada, aquilo não necessariamente representa suas memórias, mas traços da memória combinados com sua imaginação. Assim, não precisa pensar muito para decifrar o filme e o personagem.

Destaque também para a atmosfera úmida e suja de SPIDER, tanto na geografia quanto nos próprios corpos dos personagens. Spider, por exemplo, aparece com os dentes e os dedos amarelados de tanto fumar. E foi uma escolha muito acertada da parte do diretor e de sua equipe em escolher todos os atores ingleses, com sotaques bem acentuados, dando ao espectador um mergulho em outro universo. Não tão estranho quanto o de outras obras de Cronenberg, mas estranho dentro da familiaridade de uma Inglaterra feia e suja.

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