quarta-feira, outubro 10, 2012

O ANO PASSADO EM MARIENBAD (L'Année Dernière à Marienbad)



Acredito que é natural a gente não gostar de determinado diretor. A gente até pode dar mais chances e conseguir algumas exceções na filmografia do sujeito, mas, em geral, quando não há uma boa sintonia entre espectador e cineasta, isso fica difícil. Da turma da Nouvelle Vague francesa, eu adoro os filmes do Eric Rohmer, do Claude Chabrol, do François Truffaut, de alguns do Jean-Luc Godard, do pouco que vi de Jacques Rivette, mas ainda tenho muita resistência a Alain Resnais, que é um diretor bastante celebrado por críticos e cinéfilos, mas minha relação com ele é mais de respeito do que de admiração.

Mesmo tendo visto seus principais primeiros longas-metragens – HIROSHIMA, MEU AMOR (1959) e agora este O ANO PASSADO EM MARIENBAD (1961) – e tendo visto também os seus últimos trabalhos – BEIJO NA BOCA, NÃO! (2003), MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS (2006) e ERVAS DANINHAS (2009) -, ainda não chegou a vez de eu ser um fã de seu trabalho. Falta eu ver muita coisa ainda dele, mas por enquanto me falta disposição.

Aproveitei que me veio disposição para ver O ANO PASSADO EM MARIENBAD, mesmo já sabendo da fama de difícil do filme. Ponto positivo para eu vê-lo: a comparação que normalmente se costuma fazer com o cinema de David Lynch. Além do mais, não necessariamente preciso entender o filme para gostar dele, apreciá-lo. Essa é uma questão até um pouco polêmica. Mas o fato é que determinados filmes me fazem viajar e eu pouco me importo se o compreendi racionalmente. Se ele mexeu com os meus sentidos e sentimentos já ganhou o meu apreço.

O ANO PASSADO EM MARIENBAD é o caso de filme que é lindo de ver, mas que é cansativo de acompanhar, principalmente quando você se esforça para entender. Robbe-Grillet, o roteirista do filme, disse que "quem tentar extrair um sentido linear do filme, discernir uma lógica coerente de causa e efeito ou uma trajetória plausível em termos de enredo e desenvolvimento de personagens, estará fadado ao fracasso, à frustração e achará o filme incompreensível" (STAM, 2008, p. 341).

Depois que li esse texto vi que queimei meus neurônios à toa. Ainda assim, pude pensar nos personagens como fantasmas. E como o filme tem uma trilha sonora misteriosa e os personagens falam de maneira estranha, sem entonação – algo parecido um pouco com alguns trabalhos de Robert Bresson -, dá para ver o filme como uma espécie de filme de horror de arte, por mais horrível que seja esse tipo de classificação.

Na trama, os dois protagonistas não possuem nomes. Ele é X (Giorgio Albertazzi), um homem que tenta convencer uma mulher, A (Delphine Seyrig), de que os dois já se viram no ano passado em algum lugar. Aos poucos, com a descrição dele e com as idas e vindas no tempo do filme, ela começa a pensar que isso talvez seja verdade, embora esteja tão confusa que não sabe nem há quanto tempo está naquele lugar. Ou por que está ali. Se ela está desorientada, o espectador fica tanto quanto. Além do mais, o filme não segue uma continuidade nos figurinos. De repente, ela aparece com uma roupa totalmente diferente da que estava antes. Segundo Stam, isso antecipou o que seria comum em comerciais de televisão, já na chamada era pós-moderna.

É um ótimo filme para se estudar, pois racionalmente ele pode mesmo ser fascinante. Mas seu hermetismo acaba por afastar até pessoas como eu, que curtem cineastas com fama de difíceis, como Lynch, Buñuel, Jodorowsky, Weerasethakul, Bresson, Tarkovski e até o próprio Robbe-Grillet diretor.

Referência bibliográfica

STAM, Robert. A literatura através do cinema : realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

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