sábado, outubro 27, 2012

GONZAGA – DE PAI PRA FILHO



Com a escassa renda nas bilheterias do cinema brasileiro em 2012, ainda é uma incógnita se o sucesso comercial de 2 FILHOS DE FRANCISCO (2005) se repetirá com GONZAGA – DE PAI PRA FILHO (2012), embora ambos os filmes tenham o mesmo diretor contando a história de ídolos populares da música. E com a diferença que Luiz Gonzaga e Gonzaguinha são artistas bem mais quistos por uma parcela, digamos, mais exigente do público. E eu, sinceramente, queria estar aqui dizendo o quanto adorei o novo filme de Breno Silveira, da mesma forma que me emocionei com a cinebiografia de Zezé de Camargo e Luciano e com o filme anterior do diretor, o belíssimo melodrama À BEIRA DO CAMINHO (2012), um trabalho que foi quase esnobado pelo público brasileiro.

Mas claro que torço pelo sucesso do filme, que tem momentos muito bons e um andamento muito gostoso, além de falar de dois homens tão importantes para a música brasileira. Em especial, Luiz Gonzaga, que é o principal foco do filme. Gonzaguinha também aparece bastante, mas sua história é vista sempre como a do filho rejeitado, não como a do artista de sucesso, que ele foi.

Aliás, essa relação entre pais e filhos é bastante presente nos filmes de Silveira. A figura do pai é sempre muito importante. Em À BEIRA DO CAMINHO, vemos um garoto à procura de um pai; em 2 FILHOS DE FRANCISCO, o pai já aparece no título do filme e é importantíssimo para alavancar a carreira artística dos filhos. Até o fraco ERA UMA VEZ... (2008), se não enfatiza a relação pai e filho, tangencia de certa forma a história de GONZAGA, já que há também uma história de amor impossível entre um menino pobre e uma garota rica.

Do elenco, Nanda Costa, que faz o papel de um dos amores de Gonzaga e mãe de Gonzaguinha, continua exercitando o seu sex appeal, tão bem acentuado em FEBRE DO RATO, de Cláudio Assis. Aqui, claro, como um “filme de família”, esse elemento é bastante atenuado. Júlio Andrade, o protagonista de um dos meus filmes brasileiros favoritos dos últimos anos - CÃO SEM DONO, de Beto Brant e Renato Ciasca - está ótimo representando Gonzaguinha. E o pouco conhecido músico Nivaldo Expedito de Carvalho, mais conhecido como Chambinho do Acordeon, fazendo a versão de Gonzagão no auge da popularidade, não faz feio e pegou uma responsabilidade e tanto. Também vale destacar a beleza encantadora de Cecília Dassi, a jovem moça que faz o papel do primeiro amor de Gonzaga, lá em sua terra natal, Exu, sertão de Pernambuco.

Quando o filme termina a gente quer mais. Mas também não dá para negar que a obra tem os seus problemas. A começar pela própria relação entre pai e filho, principalmente perto do final, quando eles reatam. É como se Silveira tivesse perdido a mão naquele momento. O diretor se deixou levar por um tipo de dramaturgia próxima da televisão brasileira, com tudo narrado de maneira rápida, sem tempo para respirar e chorar. E isso, vindo de um diretor que costuma abraçar os sentimentos nos filmes, não ficou, digamos, legal.

Senti falta também de uma maior presença de Humberto Teixeira, o principal parceiro das composições de Gonzaga, que aparece muito pouco e que foi uma presença importantíssima para dar densidade às canções do Rei do Baião. Suas duas pequenas participações chegam a ser ridículas. Pode-se dizer que isso acontece porque a intenção do filme é enfocar a relação entre pai e filho, mas o diretor procura contar a história da trajetória de Luiz Gonzaga, e de maneira até bastante didática. Logo, seria uma falha.

Como a Globo vai exibir o filme como minissérie, com cenas extras, pode ser que essas cenas ajudem o filme a respirar melhor. Mas, por outro lado, ver o filme em pedaços não é tão interessante como vê-lo de uma só tacada. Até porque ele não é longo. Portanto, a sala escura ainda é o melhor lugar para apreciá-lo.

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