terça-feira, outubro 09, 2012

AQUI É O MEU LUGAR (This Must Be the Place)



Os italianos há tempos têm uma simpatia enorme pelo cinema e pela cultura dos Estados Unidos. Já nos anos 1950, os quadrinhos italianos de Giovanni Luigi Bonnelli mostravam histórias de caubóis contadas com uma admirável intimidade. Depois veio Sergio Leone inaugurando o western spaghetti com um ator americano. E há também histórias de horror e de detetives que mais devem à tradição inglesa e americana do que propriamente aos italianos. Hoje em dia, trazer ator americano para filme europeu virou uma questão comercial, mas que também pode ser visto como respeito mútuo.

É o caso da presença de Sean Penn em AQUI É O MEU LUGAR (2011), de Paolo Sorrentino, um dos cineastas italianos mais festejados da nova geração. Seus filmes AS CONSEQUÊNCIAS DO AMOR (2004), O AMIGO DA FAMÍLIA (2006) e IL DIVO (2008) foram sensação em festivais mundo afora. Eis que AQUI É O MEU LUGAR chega aos cinemas comerciais brasileiros. Aqui, por exemplo, entrou em cartaz num cinema de shopping. O que não deixa de ser interessante, ajudando a diversificar a programação. Pode causar estranheza nos espectadores, afinal, é mesmo um filme estranho, mas inegavelmente tem seus bons momentos.

Na trama, Sean Penn é um velho e aposentado roqueiro que continua usando a mesma maquiagem que usava quando sua banda estava na ativa, nos anos 1980. O personagem foi claramente inspirado em Robert Smith, da banda The Cure. Não apenas pelo visual, mas pelo modo como o personagem descreve seu estilo em determinado momento do filme. AQUI É O MEU LUGAR pede um pouco de paciência ao espectador. Inclusive para entregar um pouco o porquê de algumas cenas, como a visita do protagonista a um cemitério, por exemplo.

O filme conta com uma participação bem especial de David Byrne numa cena surpreendente, que mostra o talento de Sorrentino na utilização do espaço da tela larga. A sequência de um show se transformar numa espécie de videoclipe, usando mais uma grua e uma cenografia especial do que cortes. A cena de Penn conversando com Byrne, que interpreta a si mesmo, é outro momento bem memorável.

Uma coisa que pode incomodar é justamente a interpretação de Sean Penn, por demais afetada no agir e frágil no falar. Ele anda como se estivesse rastejando, sempre com sua malinha com rodinhas pelo caminho. Apesar de ser uma figura estranha, ele vive rodeado por pessoas que o amam, como sua esposa, vivida por Frances McDormand. Sua vida tediosa e depressiva ganha um pouco de sentido quando ele viaja aos Estados Unidos para o funeral do seu pai, com quem nunca teve uma relação amigável. É lá que ele vai encontrar um sentido - pelo menos provisório - para sua vida: terminar aquilo que seu pai não conseguiu fazer enquanto vivo.

Um dos destaques do filme é Eve Hewson, a filha de Bono Vox, que se saiu melhor do que a encomenda como atriz. A bela moça faz o papel da melhor amiga de Cheyenne, o personagem de Penn.

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